No último domingo (2/4), Chris Hemsworth, ator que interpreta o personagem Thor, do Vingadores da Marvel, surpreendeu seus fãs com uma notícia divulgada no tabloide americano Page Six. De acordo com o site, ele vai "desacelerar" sua vida profissional por conta de uma predisposição ao Alzheimer de 8 em 10, descoberto recentemente, através de exames.
O astro disse que pretende dar sequência a seus projetos confirmados e, após isso, diminuir sua rotina de trabalho com o intuito de aproveitar mais a esposa e os filhos.
A decisão causou alarde, mas, segundo a geriatra da Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima, é importante não fazer julgamentos a respeito da fala do ator. "Não existe certo ou errado e não teremos, em nenhuma literatura, algo que diga isso. Não há um diagnóstico de demência. Há uma possibilidade de desenvolvimento. É uma decisão que pode estar baseada em vários fatores. Nós não sabemos qual é o seu estilo de vida, se as gravações para filmes são intensas a ponto dele não conseguir se cuidar em relação a alimentação e exercícios, ou se ele tem tempo para lazer. Talvez realmente precise desacelerar para se cuidar e resolveu diminuir a correria do dia a dia, preservando mais a saúde", opina a especialista.
Esse tipo de exame realizado pelo ator pode ser um facilitador para que a pessoa mapeie risco de doenças, mas é preciso ter cuidado para que não seja um limitador.
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De acordo com a geriatra, que lida diariamente com pacientes diagnosticados com a doença, quando se tem um genótipo, uma alteração genética, ela pode se manifestar ou não. Dependendo dessa alteração, sofre interferência de fatores ambientais e do estilo de vida para surgir. "Se o paciente não tiver consciência disso e achar que o resultado já é um diagnóstico limitante, o exame pode ter um impacto muito negativo e muito arriscado. No caso de alguma doença/genótipo, existe a possibilidade de que ela nunca aconteça. Se o indivíduo para de viver e realizar suas atividades do dia a dia por pensar que um dia vai ficar doente, sem ao menos ter certeza se vai mesmo ou não, já temos um problema antes mesmo que a doença em si apareça."
A geriatra ressalta que pessoas com diagnóstico de Alzheimer não devem parar de realizar suas tarefas. O ideal é que qualquer paciente mantenha suas atividades, até porque manter-se ativo pode fazer com que a doença progrida mais lentamente, ainda mais se associada a boas práticas de saúde como alimentação e exercícios.
"Quando o paciente preserva as atividades laborais, se exercita, estimula a cognição, mantém a rotina, e tudo isso ajuda a manter por mais tempo a funcionalidade da pessoa com alteração cognitiva. Por isso, a importância em manter essas atividades. Mesmo se forem complexas, devem ser realizadas, porém de forma mais simples, para evitar estresse."
A especialista fala dos riscos da interpretação da população leiga com relação à atitude do ator e comparou com o que aconteceu com a atriz Angelina Jolie, que descobriu que tem um gene que sugeria que poderia ter um câncer de mama.
"Ela fez a retirada das duas mamas e muita gente fez isso no mundo todo. Mas não é só retirar a mama e colocar uma prótese. É fundamental que aconteça todo um acompanhamento do paciente com rastreio da doença e preparo psicológico. O impacto pode ser pior que a doença. Da mesma forma, não é só parar de trabalhar ou realizar atividades do dia a dia porque um indivíduo tem um gene que pode gerar um quadro de Alzheimer com maior probabilidade. Isso pode fazer com que outras pessoas também caiam nessa mesma atitude sem necessidade alguma, rotulando-se em uma doença que ele não tem", finaliza.