Carnes

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Cuidado com o que vai à mesa! A Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, da sigla em inglês) alerta para a presença de compostos químicos causadores de câncer, chamados de nitrosaminas, em uma série de alimentos do dia a dia, como carnes curadas (salame, presunto, bacon, entre outros), peixe processado, cacau, cerveja e outras bebidas alcoólicas. A notícia, divulgada em março, causa preocupação.

A exposição às substâncias é mais significativa no grupo alimentar da carne e seus derivados. A agência enfatiza, no entanto, que os compostos de nitrosamina também podem ser encontrados em outros tipos de alimento, como vegetais processados, cereais, produtos lácteos, leite, alimentos fermentados, conservas e alimentos condimentados.

Conforme explica a nutricionista especialista em oxidologia e bioquímica celular, com aperfeiçoamento em medicina biomolecular, regenerativa e anti-aging, Patrícia Soares Alves Lara, sócia-fundadora da Clínica Soloh de Nutrição, os nitratos e nitritos são aditivos comumente usados na indústria de alimentos para conservar e colorir carnes processadas, como bacon e salsichas.

"Esses compostos podem ser convertidos em nitrosaminas no organismo, que são genotóxicas e carcinogênicas. Os compostos genotóxicos são substâncias que têm o potencial de danificar o material genético das células, podendo levar a mutações e consequentemente ao desenvolvimento de doenças como o câncer", chama a atenção.

Ainda em relação a essas substâncias, usadas como conservantes em carnes processadas, Patrícia aponta um estudo de 2019, publicado na revista científica Mutation Research/Genetic Toxicology and Environmental Mutagenesis, que avaliou a capacidade genotóxica dos nitratos e nitritos presentes em alimentos. "Os resultados indicaram que esses compostos são capazes de causar danos ao DNA em diferentes tipos de células, incluindo células do fígado e do cólon", afirma.

 

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A nutricionista explica ainda que os compostos genotóxicos podem ser encontrados e produzidos em diferentes situações, não apenas na conservação de industrializados. "Podemos enumerar as aflatoxinas, toxinas produzidas por certos tipos de fungos que podem contaminar grãos, nozes, sementes e outros alimentos, e os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), compostos que se formam durante o cozimento de carnes e peixes em altas temperaturas, que também têm sido associados ao aumento do risco de câncer devido à sua capacidade de causar danos ao DNA. E, também geradas a partir da cocção de carnes e peixes em altas temperaturas, podemos citar as aminas heterocíclicas (AHCs), que igualmente têm sido associadas ao aumento do risco de câncer", elucida.

A nutricionista Patrícia Soares Alves Lara

"Os compostos genotóxicos são substâncias que têm o potencial de danificar o material genético das células, podendo levar a mutações e consequentemente ao desenvolvimento de doenças como o câncer", alerta a nutricionista Patrícia Soares Alves Lara

Arquivo Pessoal
Além do estudo de 2019, a nutricionista aponta que várias pesquisas recentes demonstraram o dano ao DNA causado por compostos genotóxicos. "Um estudo publicado em 2021 na revista científica Environmental and Molecular Mutagenesis avaliou a capacidade genotóxica de diferentes compostos presentes em alimentos, incluindo as aflatoxinas e os HPAs. Os resultados mostraram que esses compostos são capazes de causar danos ao DNA em diferentes tipos de células, incluindo células do fígado e do cólon." E ressalta ainda outro estudo, de 2020, da revista científica Food and Chemical Toxicology, que avaliou o efeito genotóxico de diferentes tipos de carnes processadas em células humanas. "Os resultados indicaram que a cocção de carnes processadas resultou na formação de AHCs, que causaram danos ao DNA e aumentaram o risco de mutações", informa.

Como se proteger


Por outro lado, segundo Patrícia Lara, alguns nutrientes e compostos presentes em alimentos têm sido estudados quanto à sua capacidade de reduzir a toxicidade de compostos genotóxicos. "Podemos citar os antioxidantes, nutrientes como as vitaminas C e E, o betacaroteno e o selênio, que possuem essa propriedade e podem ajudar a reduzir os danos causados pelos radicais livres produzidos por compostos genotóxicos. A ingestão de alimentos ricos em fibras, como frutas, vegetais e grãos integrais, também pode ajudar a reduzir a absorção de compostos genotóxicos no intestino, diminuindo assim seu impacto no organismo. Alguns estudos sugerem ainda que o consumo de alimentos contendo probióticos, como iogurte e kefir, reduz a absorção de compostos genotóxicos no intestino, e os fitonutrientes, compostos encontrados em frutas, vegetais, ervas e especiarias, como a curcumina, a quercetina e o resveratrol, têm propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias que minimizam a toxicidade de compostos genotóxicos", ensina.

Por fim, a nutricionista ressalta que a melhor forma de reduzir a exposição a compostos genotóxicos é adotar uma alimentação saudável e equilibrada. "Precisamos de variedade de alimentos naturais, minimamente processados e frescos, e evitar o consumo excessivo de alimentos industrializados e processados, como carnes processadas e alimentos com aditivos químicos", recomenda.