Pesquisadores do Instituto de Zoologia da Academia Chinesa de Ciências publicaram nesta terça-feira (11/4) um artigo na revista científica Microbiology Spectrum (que você pode ler na íntegra neste link), apresentando detalhes de um estudo que evidência a eficácia de um probiótico na atenuação dos danos causados pelo consumo agudo de álcool em camundongos. Espera-se que o tratamento possa um dia ser usado em humanos para reduzir o risco de danos hepáticos e intestinais induzidos pela bebida.
Quando ocorre um consumo de álcool no corpo humano, o organismo usa uma enzima chamada álcool desidrogenase (ADH) para metabolizá-lo. No entanto, nem todos os tipos de ADH são igualmente eficazes, por isso os pesquisadores resolveram testar se poderiam aproveitar tais enzimas com melhores "desempenhos" para a terapia preventiva.
Uma forma chamada ADH1B, encontrada predominantemente nas populações do leste asiático e da Polinésia, é cem vezes mais eficaz do que outras variantes do ADH. Isso fez com que a equipe se perguntasse se poderia encontrar uma maneira de fornecer essa enzima específica a uma pessoa que bebe de maneira segura e não invasiva.
A resposta foi um probiótico, a Lactococcus Lactis, uma bactéria comumente usada na fermentação. A popularidade dos probióticos aumentou recentemente graças à crescente pesquisa sobre a maneira como nosso microbioma intestinal parece afetar grande parte do corpo humano.
A abordagem probiótica também foi considerada mais segura para humanos em comparação com a manipulação de vetores virais como forma de fornecer ADH1B - algo que já foi feito em camundongos.
Como saber se o camundongo está bêbado?
O primeiro passo dos cientistas foi verificar se o reforço bacteriano geneticamente modificado funcionava em condições experimentais. Os pesquisadores alimentaram três grupos de cinco camundongos com o probiótico, com alguns grupos bebendo mais álcool do que outros. A bactéria foi alterada para secretar a enzima ADH1B e ser impermeável ao ácido do estômago para que não fosse destruída no processo de digestão.
A embriaguez dos camundongos foi avaliada com base na capacidade deles de se levantarem se colocados de costas. Camundongos não tratados perderam, no geral, a habilidade em 20 minutos, mas alguns camundongos tratados permaneceram capazes de se levantar durante todo o experimento.
Os resultados mostraram que o tratamento reduziu a absorção de álcool e aumentou a tolerância no camundongo modelo. Também encurtou a gravidade de suas ressacas, pois o tempo de recuperação foi significativamente reduzido.
Quanto aos efeitos mais duradouros, os camundongos tratados também apresentaram níveis mais baixos de lipídios e triglicerídeos em seus fígados, duas coisas que normalmente contribuem para danos relacionados ao álcool ao órgão vital.
Os pesquisadores apontaram que os resultados em camundongos foram promissores. O próximo passo é testar a eficácia do tratamento em humanos.
"Estamos entusiasmados com a melhoria dos probióticos recombinantes nos danos intestinais e hepáticos induzidos pelo álcool", disse Meng Dong, um dos integrantes da equipe da pesquisa, em comunicado, observando também que suas aplicações clínicas podem ir além dos problemas de saúde induzidos pelo álcool. "Acreditamos que os probióticos geneticamente modificados fornecerão novas ideias para o tratamento de doenças hepáticas."