A educadora financeira Ellen Silvério, de 42 anos, casada com o corretor de imóveis Rangel Embaixador, de 39, revela que, em tempos líquidos, acabaram se conhecendo no Tinder. “O namoro começou em 2018 e depois de três anos nos casamos. Somos chamados de casal ‘deu match’, inclusive, e até já tivemos um programa de rádio com esse nome. Temos dois filhos, um meu e outro do Rangel, e para mim o amor é um sentimento quase inexplicável: só vivendo para entender. E o amor verdadeiro precisa ser vivido por ambos, já que é cuidado e exige a aceitação do outro como ele. Por isso, para nós, o amor é construído e desenvolvido todos os dias. O romantismo faz parte do amor porque, quando se ama de verdade, você procura sempre fazer o outro feliz. E quem não gosta de ser agradado com os detalhes do romantismo?”, questiona Ellen.
Romântica assumida e defensora do amor romântico, Ellen diz que o maior exemplo de amor é Jesus. “Ele espalhou amor sobre a Terra. O amor é construído e desenvolvido. Então, estamos sempre evoluindo. Amamos nossos pais, nossa família, filhos, parceiro, mas somente quando amamos a nós mesmos, quando temos amor próprio, somos capazes de amar de verdade todas essas pessoas.”
Para Ellen, o fato de o relacionamento com Rangel ter começado via aplicativo, a fez ter uma outra prova de que o amor romântico é possível. “Nossa relação se iniciou nas redes sociais e, com os cuidados e as medidas certas, podemos sim encontrar um amor com o melhor de toda essa tecnologia. O amor para nós tem como base o respeito, então, se você respeita e admira o seu parceiro, o amor entre vocês vencerá as tentações e as facilidades da infidelidade.”
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Hoje, comenta a educadora, são comuns os relacionamentos abertos e “respeitamos como cada um conduz a maneira de se relacionar. Mas não é nossa escolha. Com meu parceiro, o nosso ‘contrato’ é ter um relacionamento leve, feliz em que cada um respeita o espaço e as limitações do outro, reforçando uma boa comunicação e o cuidado pelo outro. O amor é algo eterno, porque fomos feitos para dar e receber amor”.
Os dois vivem o sonho do amor romântico há cinco anos. “Nós nos conhecemos, namoramos, aprendemos a amar o que o outro tem de melhor e hoje dividimos a vida, a casa, os filhos, as alegrias e desafios. Formamos uma família e buscamos sempre a felicidade um do outro. Para viver esse amor, lógico, amadurecemos e entendemos que é importante ter ao lado uma pessoa que compartilha dos mesmos valores.”
APLICATIVOS
Bárbara Bastos, sexóloga, terapeuta sexual e empresária, acredita que no século 21 há espaço para o amor romântico. “Amo o amor e sempre vou defendê-lo. Porém, não podemos esquecer que vivemos em um século no qual a tecnologia domina várias áreas da vida e isso influencia, sim, os relacionamentos. Desde que os aplicativos de encontro surgiram e foram ganhando força, mudando alguns padrões de conexões, tivemos um aumento de pessoas com um perfil mais livre no campo sexual e de relacionamento. Com isso, também tivemos um aumento de perfis de pessoas com uma certa resistência na hora de entregar-se amorosamente para alguém. Mas isso não significa que o amor romântico tenha perdido espaço. Temos hoje grupos de pessoas que ainda sonham e procuram esse amor, porém têm esse bloqueio interno por conta dessas variantes do século.”
Mas a sexóloga destaca que sempre convida as pessoas a uma reflexão. “Nos séculos anteriores, será que o amor era romântico e verdadeiro? Ou apenas uma união “obrigatória”, forçada para servir de status diante os outros? Tínhamos muitos tabus, limitações, e quem estava fora dessa caixinha e dos padrões, poderia não ser visto com ‘bons olhos’. Diante disso, o que consigo dizer como terapeuta sexual é que acredito sim no amor, independentemente do tempo, século, mas para que realmente seja verdadeiro e romântico, as duas pessoas precisam estar abertas de coração e queiram estar genuinamente juntas, com os mesmos objetivos.”
Por outro lado, Bárbara Bastos não crê que o amor monogâmico esteja com os dias contados. “Não acredito nessa possibilidade. Para muitos, pode parecer que não, mas a monogamia ainda é algo concreto na sociedade, até mesmo para parte dos jovens. Com a globalização, mídias e redes sociais, cada vez mais descobrimos novas formas de se relacionar, mas isso não quer dizer que funcione para todo mundo. Cada casal sabe a melhor forma de resolver suas questões.”
VÉU E GRINALDA
A sexóloga avisa que ainda existem milhares de pessoas que sonham e vivem o amor romântico, o subir no altar com véu e grinalda, o sonho do príncipe e da princesa. Com todas as mudanças de comportamento, para a especialista, sempre há espaço para o amor. “Simplesmente porque esse é um sentimento comum do ser humano e nunca deixará de existir. Pode ser que em certo momento da vida, a pessoa prefira viver experiências mais superficiais e não se aprofundar, e em outro, ela pode vir a mudar e se entregar de corpo e alma.”
Entre outros fatores, ela aponta que dependerá de pessoa para pessoa, das experiências de relacionamentos anteriores e da fase de vida. “O amor é um sentimento comum do ser humano, não importa a forma como ele decide se relacionar. Não é porque a pessoa escolhe se relacionar de um jeito diferente do ‘padrão’ que não existe amor. A questão é achar a melhor forma de se expressar e viver esse sentimento e, claro, é necessário que seja de forma clara com você e com todas as pessoas envolvidas.”
PARA LER...
Mary del Priore, historiadora brasileira e ex-professora da USP e da PUC-Rio, se debruça sobre a história do amor. Uma de suas pesquisas deu origem ao trabalho “História do amor no Brasil”, pela Editora Contexto. O que é o amor? Sentimento imutável ao longo da história ou manifestação vinculada ao seu tempo? As pessoas namoram e se beijam hoje da mesma forma que faziam durante o período colonial? A historiadora responde a essas questões percorrendo, com competência e leveza, 450 anos de ideias, práticas e modos amorosos no Brasil. Da rígida família patriarcal até a “desordem amorosa” propiciada pela pílula e pela revolução feminista, do amor-paixão ao amor que leva ao casamento, do flerte à paquera, a autora aborda séculos de vida amorosa no Brasil. Mary faz uma reflexão rica e documentada. A obra percorre o Brasil Colônia, pelos séculos 19 e 20, mostrando como a concepção romântica de amor é recente, apesar de ter nuances em formas literárias medievais, renascentistas e modernas. Em sua conclusão, a historiadora assume posições instigantes, em defesa, por exemplo, de uma concepção tradicional de amor, diagnosticando a angústia da juventude diante da liberdade sexual e denunciando uma ditadura moderna do gozo.