A segunda edição do boletim informativo info.oncollect, publicação da Fundação do Câncer sobre o cenário do câncer no Brasil, traz um dado preocupante: todas as regiões e capitais brasileiras estão com a vacinação contra o HPV (Papilomavírus humano) abaixo da meta de 90% da população-alvo vacinada, como preconiza o Programa Nacional de Imunizações (PNI) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), o que pode ser um indicativo de que o país não atingirá até 2030 uma das metas propostas pela OMS para acelerar a eliminação desse tipo de câncer, um problema de saúde pública. O lançamento dessa edição marca o Dia Mundial da Prevenção do Câncer de Colo do Útero, celebrado no próximo dia 26.
O levantamento - com base nos registros de vacinação do PNI de meninas entre 9 e 14 anos no período de 2013 a 2021 e meninos de 11 a 14 anos entre 2017 e 2021 - mostra que a região Norte apresenta a menor cobertura vacinal completa (primeira e segunda doses) do país em meninas: 50,2%. Entre os meninos, o percentual é ainda menor, apenas 28,1%. A região também foi a que mais registrou óbitos por câncer do colo do útero no período 2016-2020: 9,6 por 100 mil mulheres - a média brasileira é de 6 a cada 100 mil mulheres.
De todas as regiões do país, o Sul é a que mais se aproxima da meta estabelecida (87,8%) na primeira dose em meninas. Apesar disso, é a região que apresenta maior índice de absenteísmo da primeira para a segunda dose: 25,8% entre as mulheres e 20,8% entre os homens, enquanto a média do país é de 18,4% e 15,7% nas populações feminina e masculina, respectivamente. Já o Nordeste apresenta a menor variação entre as primeiras e segundas doses, tanto feminina (71,9% e 57,9%) quanto masculina (50,4% e 35,8%).
"Em geral, a adesão à segunda dose da vacina é inferior à primeira dose em todo o país variando entre 50 e 62% na população feminina e 28% e 43% na população masculina, dependendo da região. Ou seja, se considerarmos o esquema vacinal completo, em média, apenas 56% da população feminina e 36% da população masculina brasileira está protegida contra o vírus. Esse percentual acende o alerta: precisamos incentivar rapidamente a vacinação contra o HPV para garantirmos a diminuição de casos de câncer do colo do útero, principalmente, além de outros, como cânceres de vagina, vulva, ânus, cabeça e pescoço e pênis", atenta o epidemiologista Alfredo Scaff, consultor médico e um dos responsáveis pelo estudo da Fundação do Câncer.
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Capitais
Em relação às capitais, Belo Horizonte é a única com cobertura vacinal feminina acima de 90% na primeira dose.
Considerando o esquema vacinal completo, esse percentual cai para 72,8%, ainda sendo a capital que mais protegeu sua população contra o câncer do colo do útero no país, considerando o período estudado. Em seguida, estão Curitiba, com 87,7% e 68,7% (dose inicial e reforço) e Manaus, com 87,0% e 63,2% (primeira e segunda doses).
Considerando apenas a população feminina, Fortaleza foi a capital do Nordeste com maior cobertura vacinal na primeira dose (81,9%) e na segunda dose (60,1%). Já São Luís obteve os menores percentuais na primeira (51,4%) e na segunda (36,7%) doses. Brasília e Goiânia, na região Centro-Oeste, apresentaram os maiores e menores percentuais na primeira e segunda doses, respectivamente: 78,1% e 58,6% e 62,1% e 43,5%.
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No Sudeste, chama atenção o baixo índice vacinal registrado no Rio de Janeiro (72,1% na primeira dose e 49,1% na segunda) e São Paulo (76,5% e 59,8%, nas respectivas doses). O mesmo ocorre em Porto Alegre, na região Sul. Somente 42,7% da população feminina está com o esquema vacinal completo, 21 pontos percentuais abaixo da dose inicial da vacinação. O pior cenário está em Rio Branco, no Norte: apenas 12,3% da população feminina tomou as duas doses da vacina contra o HPV.
O motivo
Para Flávia Corrêa, consultora médica da Fundação do Câncer e colaboradora do estudo, o motivo da não adesão à vacina pode estar na falta ou na desinformação da população. "Outro levantamento feito pela Fundação apontou que há desconhecimento de pais e responsáveis de que a vacina previne o câncer do colo do útero. Há também uma visão equivocada de que a vacina contra o HPV pode incitar a iniciação sexual precoce". A médica explica o motivo de vacinar a população masculina: "além dos benefícios diretos de proteção contra o câncer de pênis e outros, ela contribui para a imunidade de rebanho, diminuindo a propagação do vírus", completa ela, que é doutora em Saúde Pública pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira/Fiocruz.A especialista afirma que a vacina é segura e está disponível gratuitamente no SUS para meninos e meninas de 9 a 14 anos, em esquema de duas doses, e para mulheres e homens transplantados, pacientes oncológicos, portadores de HIV, de 9 a 45 anos, em esquema de três doses.
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O levantamento feito pelos pesquisadores da Fundação do Câncer corrobora os dados divulgados este mês pelo Ministério da Saúde sobre o tema: a cobertura vacinal da população brasileira feminina, de 9 a 14 anos, é de 75,8% na primeira dose e 57,4% na segunda dose. Já entre a população brasileira masculina, na faixa de 11 a 14 anos, a cobertura é de apenas 52,2% na primeira dose e 36,5% na segunda dose.
"Com os baixos números de imunizados, o câncer do colo do útero pode continuar a representar um grave problema de saúde pública para o Brasil", prevê o oncologista Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer.
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