Desde o início da pandemia de COVID-19, o diabetes tipo 2 foi considerado um fator de risco para casos graves da doença. Agora, um estudo canadense publicado na revista Jama Network Open sugere que a infecção pelo Sars-CoV-2 pode causar o distúrbio metabólico. Segundo os autores, da Universidade de British Columbia, de 3% a 5% dos novos diagnósticos do estudo são atribuídos ao coronavírus.



"O diabetes já foi estabelecido como um fator de risco associado a desfechos respiratórios mais graves de COVID-19, e a infecção por Sars-CoV-2 foi associada ao agravamento dos sintomas preexistentes do diabetes", escreveram os autores. "No entanto, não é totalmente conhecido se a infecção está associada à hiperglicemia transitória durante a infecção ativa ou se as alterações metabólicas persistem, associadas ao aumento do risco de diabetes subsequente entre os indivíduos com infecções."

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A pesquisa se baseia em um estudo populacional realizado entre 2020 e 2021, no Canadá, com 629.935 pessoas. Desses, 125.987 foram expostos e 503.948 não tiveram contato com o vírus. Ao longo de 102 a 356 dias de acompanhamento, 0,5% dos primeiros desenvolveu a doença, versus 0,4% dos demais.

 

A exposição ao coronavírus aumentou o risco de diabetes incidente no período de acompanhamento em 17%, em comparação com aqueles que não tiveram contato com o vírus. Entre os homens, a chance foi maior: 22%. Além disso, entre pacientes com covid-19 grave, que exigiu internação hospitalar ou permanência em unidade de terapia intensiva (UTI), aumentou ainda mais o risco de diabetes subsequente: em 2,4 (ambos os sexos) e 3,3 vezes (homens), em comparação com indivíduos não infectados.



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Depois de considerar possíveis fatores que interferissem no resultado, os pesquisadores estimaram que 3,4% dos diagnósticos pós-covid eram atribuíveis à infecção. No caso dos homens, o percentual foi de 4,8%. "Essas descobertas sugerem que a infecção por COVID-19 pode continuar associada a resultados em sistemas de órgãos envolvidos na regulação da glicose no sangue na fase pós-aguda, e, portanto, pode ter contribuído para o excesso de casos incidentes de diabetes encontrados nesse estudo", escreveram os autores.

 

O endocrinologista João Lindolfo Borges, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), diz que, embora outros estudos tenham feito essa relação, o atual é o de maior dimensão. Ele explica que as células beta do pâncreas expressam os receptores ECA2, que facilitam a entrada do Sars-CoV-2 no organismo. Segundo o médico, isso pode induzir a morte dessas estruturas, afetando os níveis e a secreção da insulina pancreática, característica do diabetes.

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