Alayr Neves Ferreira, de 76 anos, sentia fortes dores na lombar, que irradiavam para as pernas. Além de fazer uso de medicamentos diariamente, ela conta que era comum sentir dificuldade para caminhar. Decidiu, então, procurar ajuda médica quando não suportava mais o incômodo. Foi nesse momento, em uma consulta com especialista, que descobriu que estava com espondilolistese, condição clínica que pode levar ao 'escorregamento' de uma vértebra em relação à outra.
Apesar de poder ocorrer em qualquer parte da coluna, ela é mais comum na região lombar. Acomete cerca de 2 milhões de brasileiros por ano e, mesmo assim, muitas pessoas ainda não têm conhecimento da doença.
A espondilolistese pode se apresentar sob diversas formas, sendo classificadas como degenerativa, quando acontece um envelhecimento natural da coluna vertebral (discos e articulações mais enfraquecidos), que favorece o deslizamento entre as vértebras, como foi o que ocorreu com Alayr; ístmica, que corresponde a uma fratura na coluna causada tanto por sobrecarga quanto por excesso de hiperextensão da coluna e que faz com que as vértebras atingidas se movam; traumática, que tem a ver com o deslocamento das vértebras causados pela realização de movimentos bruscos, quedas e acidentes, fazendo com que as vértebras atingidas se movam uma sobre a outra; iatrogênica, que tem origem devido a cirurgias feitas na região e que possam ter prejudicado as estruturas da coluna; congênita, que tem como responsável a má-formação que deixa as articulaçõ ;es mais instáveis e favorece movimentações inadequadas; e a patológica, causada por outras doenças que possam, de alguma forma, trazer prejuízos locais.
Segundo Daniel Oliveira, ortopedista especializado em coluna vertebral e diretor do NOT - Núcleo de Ortopedia e Traumatologia de Belo Horizonte, sintomas como a piora da movimentação das pernas, que ocorre por conta da compressão de raízes nervosas, como aconteceu com Alayr, é o que leva o paciente a procurar ajuda médica, além de quadros de dor lombar, fraqueza nas pernas ou formigamento.
"Algumas pessoas, porém, não apresentam sintomas. A estimativa é que cerca de 5% a 7% da população tenha a doença, apesar de muita gente ter a condição e nem saber disso."
O diagnóstico de espondilolistese, segundo o ortopedista, geralmente é feito por meio de radiografias ou outras imagens da coluna vertebral, como a ressonância magnética e tomografia computadorizada. Já o tratamento pode variar, dependendo da gravidade da condição.
A grande maioria das pessoas com a doença não precisa passar pela cirurgia para a descompressão do canal, como foi o caso de Alayr, há três anos. Ela conta que melhorou muito após o procedimento, fez quase dois anos de fisioterapia e, hoje, apesar de sentir alguns incômodos, eles não se comparam ao que ela sentia antes da cirurgia.
O ortopedista esclarece que, entre os cuidados estão a combinação de repouso parcial, terapia de gelo/calor, além de fisioterapia para que o paciente consiga realizar suas tarefas novamente, fortalecer a musculatura local e recuperar a flexibilidade. Entretanto, mesmo nesses casos, é importante manter-se ativo, controlar o peso, evitar o sedentarismo e fortalecer a musculatura do core para que o caso não evolua.
"A cirurgia para espondilolistese é um tratamento de exceção. Ela é realizada em casos nos quais o tratamento conservador não consegue efeito ou quando o paciente apresenta algum tipo de déficit neurológico associado (principalmente alterações motoras e da marcha)." A boa notícia, de acordo com Daniel, é que nos casos em que não existe uma instabilidade associada e se tem apenas os sintomas causados pela compressão de estruturas nervosas, é possível fazer uma cirurgia apenas de descompressão desses nervos e que pode ser realizada, hoje, por uma técnica chamada endoscopia de coluna em que um pequeno tubo é introduzido através de uma incisão de sete milímetros e que possui uma câmera de alta resolução na sua ponta.
"A partir de uma incisão mínima na pele, o cirurgião consegue visualizar e descomprimir todas as estruturas que estavam apertando os nervos, melhorando os sintomas, a força, a capacidade de andar e praticamente preserva todas as estruturas em volta da coluna. Isso reflete em um retorno precoce das atividades do dia a dia, um pós-operatório com mínima dor e uma recuperação muito mais rápida além de uma taxa de infecção muito menor."