A cantora Preta Gil

A cantora Preta Gil luta contra um câncer de intestino detectado no início do ano

Reprodução/Instagram

A luta contra o câncer de intestino enfrentada pela cantora Preta Gil entra em nova fase. Depois de vencer recentemente uma internação devido ao desenvolvimento de uma septicemia grave (infecção generalizada), ela teve uma melhora em seu quadro de saúde e agora, depois da quimioterapia, o tratamento passa a ser a raditoterapia associada, conforme decisão dos médicos que a acompanham. Com a condição mais favorável, poderá continuar com os cuidados em casa, com o apoio mais próximo dos amigos e da família.

A artista vem falando com os fãs sobre sua jornada em relação à doença pelas redes sociais. "Estou bem, podendo gravar esse vídeo para vocês. Foi uma semana de muitas conquistas. Eu de fato melhorei demais o meu estado de saúde. Me recuperei em casa e isso faz toda a diferença. Comer comidinha de casa, estar perto da família e dos amigos, que estão agarradinhos a mim, foi fundamental para que eu tivesse essa melhora", publicou no Instagram.

Os próximas dias, conta Preta Gil pela rede social, serão de preparação para a etapa seguinte do enfrentamento do câncer, diagnosticado em janeiro. "Essa semana vai ser de exames preparatórios. Estou muito confiante, cheia de fé para lutar e vencer. Conto com vocês sempre nas orações e na torcida emanando energia positivas que chegam até mim. Faz muita diferença, obrigada pelas mensagens de carinho", continuou.

 



O tratamento contra o câncer de intestino é multimodal - envolve mais de uma modalidade de tratamento, como explica Alexandre Jácome, oncologista do Grupo Oncoclínicas Belo Horizonte, doutor em ciências e pós-doutor em gastrointestinal oncology. O caminho natural, depois de geralmente dois a três meses de quimioterapia (que se trata da administração venosa ou oral de fármacos, de ação mais ampla no organismo), é justamente a radioterapia associada à quimio, o que pode durar entre seis a sete semanas, como acontece com Preta Gil. No caso da radioterapia, explica o médico, o procedimento é pela aplicação de radiação em regiões mais específicas do corpo, com ação mais limitada. "A combinação de formas diferentes de tratamento tem o objetivo de chegar a uma ação mais eficaz", esclarece.

A quimioterapia, informa Alexandre Jácome, também pode deixar o paciente mais suscetível a desenvolver infecções virais e bacterianas. Isso acontece porque os medicamentos, além de atuar nas células malignas em multiplicação no corpo, também agem sobre outras células em multiplicação, como nas mucosas, no cabelo ou no sangue. Dessa forma, o indivíduo em tratamento pode apresentar queda na imunidade, o que pode resultar no acometimento pela septicemia. "Mas isso também está associado a outras condições, como idade, outros problemas de saúde, uso de outros medicamentos. São características individuais, porém a quimioterapia pode sim ter a ver com o desenvolvimento das infecções generalizadas", aponta.

O câncer


Também conhecido como tumor de cólon e reto ou de intestino, o câncer colorretal é o segundo mais incidente em homens e mulheres, à exceção dos tumores de pele não melanoma, depois do câncer de mama e de próstata. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são estimados mais de 40 mil novos casos até o fim de 2023. Apesar de ser prevenível em quase 90% dos casos, o estigma em torno do exame de colonoscopia tende a atrasar o rastreio de alterações pré-cancerosas.

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O oncologista Alexandre Jácome

O oncologista Alexandre Jácome diz que a passagem para a radioterapia é o caminho natural do tratamento contra o câncer

Grupo Oncoclínicas/Divulgação
"Baseado nas recomendações da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, todo indivíduo com idade igual ou superior a 50 anos deve iniciar o rastreamento do câncer de intestino, que pode ser realizado tanto pela pesquisa de sangue oculto nas fezes, como também pela colonoscopia, preferencialmente. A colonoscopia permite a identificação em indivíduos saudáveis e sem sintomas de lesões pré-malignas - pólipos - que são removidas, impedindo a evolução para lesões malignas. Existe um temor em torno da colonoscopia cuja preparação exige lavagem intestinal e é feita com sedação, mas trata-se de um exame seguro, indolor e fundamental", elucida Alexandre Jácome.

O especialista alerta que os principais entraves de um diagnóstico precoce são a falta de acesso aos métodos de detecção para pacientes do sistema público de saúde (SUS) e a interpretação errônea dos sintomas.

"Como os sintomas intestinais associados aos cânceres de cólon e reto também são encontrados em condições benignas, muitos pacientes negligenciam indícios como diarreia, constipação, dor abdominal e até mesmo perda de sangue nas fezes, que frequentemente ocorre na presença de doença hemorroidária. Essa interpretação equivocada dos sintomas pelos pacientes, ou até mesmo pela classe médica, é particularmente frequente em pessoas jovens, pela concepção de raridade da doença nessas faixas etárias. No entanto, a mudança do perfil epidemiológico da doença, observado nos últimos anos, com maior incidência em pessoas mais jovens, demanda maior conscientização tanto da população geral como da classe médica, além da correta identificação dos sintomas", alerta o oncologista do Grupo Oncoclínicas.

Os sintomas mais comuns são alterações do hábito intestinal, como mudança da frequência das evacuações, sensação de evacuação incompleta, dor abdominal, e perda de sangue nas fezes. "Em situações de doença mais avançada, podemos observar perda de peso não intencional", afirma Alexandre Jácome.

De acordo com o médico, cerca de 5% a 10% dos pacientes acometidos pelo câncer de cólon e reto herdaram alterações genéticas que aumentam o risco de desenvolvimento do tumor. Essa probabilidade será maior quanto mais jovem for o paciente. Porém, o principal fator de risco são os hábitos de vida; existe uma relação íntima entre o surgimento do tumor e o índice de desenvolvimento humano (IDH) de um país.

"Na maioria dos pacientes, não há componente hereditário identificável. Países mais ricos apresentam as maiores taxas de incidência da doença, o que vai ao encontro do achado de maior risco de desenvolvimento do câncer colorretal em pessoas com sobrepeso ou obesidade, com dieta rica em carnes vermelhas e gorduras, e pobre em fibras, frutas e vegetais. Também há maior risco em pessoas sedentárias, tabagistas e que fazem uso excessivo de bebidas alcóolicas", descreve o oncologista.

Tratamento individualizado


O tratamento do câncer colorretal será definido de acordo com seu estadiamento, mas as recentes evoluções terapêuticas aumentaram as taxas de cura. "O tratamento do câncer de cólon inicial permaneceu inalterado na última década, e consistia na remoção cirúrgica primariamente, seguida de quimioterapia adjuvante em casos selecionados. Um avanço que merece destaque é a comprovação de que podemos oferecer menor tempo de quimioterapia para uma parcela dos pacientes com doença inicial, mantendo as perspectivas de cura com menos efeitos colaterais", explica Alexandre Jácome.

Outro progresso para tumores iniciais é a realização de todas as etapas de terapias no pré-operatório. "Tradicionalmente, o câncer de reto era tratado com uma primeira etapa de quimioterapia e radioterapia seguida da remoção cirúrgica, com uma segunda etapa de tratamento com quimioterapia após a cirurgia. Foi demonstrado que há aumento das taxas de cura quando realizamos a segunda etapa de quimioterapia ainda no período pré-operatório. Esta modalidade aumenta a possibilidade de desaparecimento do tumor no reto, quando se pode discutir não realizar a remoção cirúrgica do órgão, mas somente em casos muito selecionados e com um acompanhamento muito rigoroso", avalia.

A descoberta de subtipos distintos de câncer colorretal foi fundamental para definir novas estratégias de tratamento para o câncer colorretal avançado. "A possibilidade de identificar alterações genéticas específicas em cada tumor permite abordagens direcionadas e maior individualização terapêutica. Desta maneira, verificou-se que a imunoterapia pode ser benéfica em uma parcela de cerca de 5% dos pacientes, que têm uma alteração genética específica. De forma semelhante, cerca de 8% a 10% dos pacientes apresentam em seus tumores uma determinada alteração molecular que poderá ser tratada com medicamentos orais, sem o uso de quimioterapia. Portanto, os avanços no sequenciamento genético do câncer têm propiciado a identificação de anormalidades específicas da doença, que poderão ser inibidas farmacologicamente", acentua Alexandre Jácome.