"Gostamos sempre de tomar um licor juntas enquanto cozinhamos e conversamos sobre a vida"
Carolina Linhares, neta de Dona Dulce
Elas dividem a vida, os afetos, as dores, os prazeres, sabores, ensinamentos e aprendizados, num encontro em que o fogão, as panelas, os temperos, ingredientes e variados alimentos definem o rumo da prosa e do paladar. Assim vivenciam momentos únicos a fotógrafa e comerciante Jane Linhares, de 58 anos, a filha, Carolina Linhares de Azeredo Passos, de 24, formada em direito e relações internacionais, e a mãe e avó, Dulce Maria de Carvalho Linhares, de 87, aposentada. O laço desse trio é o amor da família, representado no ato de cozinhar juntas.
Jane enfatiza que cozinhar é muito além de fazer um alimento. “É química, sentimento, memória afetiva, de estar em família. Portanto, cozinhar ultrapassa o fato de se alimentar. Mas é alimentar o corpo e a alma.” Para a fotógrafa, assistir à mãe e à filha cozinhando juntas é uma sensação gostosa. “Vejo que as duas estão desenvolvendo algo mais do que o cozinhar. Estão compartilhando. Acho importante para o jovem de hoje em dia ter contato com pessoas mais velhas para aprenderem e verem que o mundo não é tão imediatista. E a Carolina aprende com minha mãe.”
Jane conta que, seu pai, Milton, que partiu há um ano, e seus irmãos são uma família que valoriza a cozinha. “Todos cozinham muito. Meu pai sempre cozinhou bem, ele fazia massa de lasanha, preparava o pastel da família e, tudo isso, sempre foi muito significativo para nós. Gislayne é dona do Buffet, e Dulcinha faz chocolates e ovos de Páscoa”, acrescenta. “Em minha vida, cozinhar é conjunto. Detesto preparar a comida sozinha. Quando estamos cozinhando, a gente ri e a gente chora porque comida na minha família é um momento para embalar a tristeza ou comemorar tudo. A gente sempre acaba na cozinha. Mais do que terapia, é um hobby que nos deixa felizes.”
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Jane conta que cozinhar em sua casa é tão natural, que não se lembra quando começou. As primeiras missões que recebeu foram “picar as coisas” e “fatiar a carne”, enquanto “papai e mamãe preparavam a comida. Eu era da equipe de apoio”. Com o tempo, a função ficou mais séria.
Memórias
“Tivemos que aprender a fazer comida para os filhos e passar essa ideia de que para cozinhar é preciso ter uma equipe, alguém ali com você. Minhas memórias são maravilhosas, porque ainda tinha comigo minha avó, que cozinha extremamente bem. Íamos para o sítio em Ouro Preto e ela nos preparava sonhos, biscoito de polvilho frito, paçoca de carne no pilão. A missão dos netos era socar e ver a transformação daquilo em outra comida. É forte também na memória, a mamãe fazendo pudim de leite condensado, os pãezinhos de batata, o pão de queijo, que ela faz maravilhosamente bem. O cheiro de comida refogada, do arroz e do feijão me despertam afeto.”
Carolina revela que adora cozinhar com a companhia de alguém. As professoras são sua mãe e avó. “Gostamos sempre de tomar um licor juntas enquanto cozinhamos e conversamos sobre a vida. Aprendo muito cozinhando com a minha avó, principalmente, quando ela faz uma galinhada e um pudim de leite condensado. Aliás, aprendi muito com as duas. Gosto de seguir receitas, utilizo muito o livro de receitas da minha avó, mas também pesquiso algumas na internet. Sempre que tenho alguma dúvida em relação à receita, ligo para ela para esclarecer.”
E quem gosta de cozinhar, quase sempre, sente-se bem em todo o passo a passo até a hora de saborear o alimento no prato. Carolina conta que adora fazer compras no supermercado. “É quase como um hobby. Assisto a algumas coisas sobre gastronomia na internet, porém, prefiro fazer aulas de gastronomia presencialmente. Não me lembro bem como foi o meu despertar para a cozinha, mas desde pequena gosto de cozinhar e sempre fiz vários cursos, além de querer aprender mais com toda a família, que sempre soube cozinhar muito bem.”
Fábrica
Vovó Dulce, a matriarca da família, a dona do caderno de receitas preciosas, testadas e aprovadas, revela que praticamente nasceu dentro de um tacho de doce, em Bom Despacho (MG). “Meus pais tinham uma fábrica de doce e, com isso, aprendi a gostar de cozinhar.” Dulce conta que se sente bem na cozinha e explica que a mãe era de uma família de seis mulheres e todas cozinham muito bem. “Então, herdei da minha mãe. Lembro que ela, sempre que fazia sobremesa, usava uma caçarola italiana e isso ficou gravado”. Para Dulce, o prazer de cozinhar é ainda mais aflorado quando está na companhia da família: “Faço sempre costelinha de porco com ora-pro-nóbis e todos eles gostam muito.”
Alguns dos vários significados do cozinhar...
1 - É mais saudável, comida de verdade no lugar de ultraprocessados, ou seja, mais controle sobre suas refeições.
2 - Pode ser prazeroso, gera satisfação.
3 - É mais barato, afeta positivamente o bolso e é uma forma de economizar.
4 - Uma maneira de socialização, aproxima a família, amigos e é um espaço para nutrir relacionamentos.
5 - Desperta a criatividade, provoca combinações, descoberta de temperos.
6 - Ajuda na concentração, no foco, na atenção ao prato e no preparo.
7 - Pode ajudar a tornar uma pessoa mais organizada.
8 - Cozinhar é ser mais independente, dá autonomia.
9 - Ajuda a aliviar o estresse.
10 - Ter o hábito de cozinhar faz com que a pessoa aprenda a dar valor ao alimento, a não desperdiçar e usá-lo por completo.
11 - Desenvolve novas habilidades, estimula o cérebro, atiça mais os sentidos, como o paladar, o olfato e o tato.
Para ler...
Não há desculpas. A questão é: quer ou não quer aprender a cozinhar? Abaixo uma pequena mostra de livros que são verdadeiros passo a passo para conquistar sua independência alimentar. Sem falar na infinidade de fontes na internet, vídeos no Youtube, programas de TV, enfim, basta ligar o fogão e escolher as panelas:
1 - “Comida de verdade: Ingredientes frescos e receitas vibrantes para a cozinha diária”, por Yotam Ottolenghi, Editora? Companhia de Mesa
2 - “Bela Cozinha: As receitas”, de Bela Gil, Editora Globo Estilo
3 - Pequeno livro de cozinha: guia para toda hora, de Fabiana Zanelati e Kátia Najara, Editora Verus
4 - “O que tem na geladeira?”, por Rita Lobo, Editora Senac São Paulo
5 - “Só para um: alimentação saudável para quem mora sozinho”, por Rita Lobo, Editora SenacSão Paulo
6 - A arte culinária de Julia Child: técnicas e receitas essenciais de uma vida dedicada à cozinha, de Julia Child, Editora Seoman
7 - Panelinha: receitas que funcionam, de Rita Lobo, Editora Senac São Paulo
8 - Cozinha Básica para Leigos, de Bryan Miller e Marie Rama, Editora Alta Books
9 - Culinária de Todas as Cores: 200 Receitas Fáceis de Fazer, de Jo McAuley, Editora Publifolha
10 - Superfácil - Pratos, de Sabrina Fauda-Role, Editora Jacarandá Editora
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