Dos filmes para a vida real. Realizar uma cirurgia à distância já deixou de ser ficção científica. O uso da tecnologia está em estudo há aproximadamente duas décadas e uma das primeiras telecirurgias feitas no mundo ocorreu em 2001, com um cirurgião em Nova York, nos Estados Unidos, operando um paciente em Estrasburgo, na França. Foi uma retirada de vesícula biliar feita a mais de 6 mil quilômetros.



A plataforma robótica é uma aliada nesta evolução. De um lado do mundo o cirurgião em um console, comandando todos os movimentos da máquina, que realiza a cirurgia do outro lado.

O cirurgião de fígado e pâncreas, membro do Instituto de Cirurgia Robótica do Paraná (ICRP), Eduardo Ramos, ressalta que esta deve ser uma evolução semelhante às teleconsultas. "Hoje realizamos tranquilamente uma consulta com o paciente à distância e a cirurgia feita desta maneira está se tornando realidade de forma experimental, tanto em animais quanto em humanos. É o especialista realizando os comandos de um lugar e a cirurgia acontecendo em outro", ressalta.

O robô é capaz de reproduzir os movimentos feitos pelo médico. "Atuamos hoje com essa tecnologia da mesma forma que ela pode ser feita à distância. O cirurgião senta-se no console e controla tudo através de um joystick, que, conforme é movimentado, coordena as pinças cirúrgicas dentro do paciente".



Em todo o mundo são realizadas aproximadamente 1 milhão de cirurgias robóticas ao ano, de acordo com as representantes do setor no mercado, a expectativa é que esse número mais que dobre em um período de três anos, ultrapassando a marca de 2 milhões. Instituições apontam que 8,5 milhões de pacientes foram operados com o auxílio do robô, sendo 100 mil no Brasil.

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A chegada do 5G, internet com conexões com mais de 1 Gbps e tempo de resposta entre os dispositivos de aproximadamente 10 milissegundos, deve facilitar o andamento desse tipo de procedimento.

Ramos afirma que a conexão precisa ser de altíssima qualidade para permitir uma cirurgia segura. "Os movimentos feitos pelo cirurgião precisam acontecer em tempo real no paciente, que estará em outro estado ou país. Vamos imaginar que ocorra um sangramento na cirurgia - se a imagem demorar para chegar ao cirurgião isso pode se tornar um risco, então o delay não pode existir".




Uma equipe completa, formada por cirurgiões auxiliares, anestesista e time de enfermagem fica presente com o paciente em centro cirúrgico. Segundo Eduardo Ramos, essa medida também traz um debate ético dentro da medicina. "Quem é o responsável pela cirurgia? Quem está no local ou quem comanda o robô a distância? Isso ainda precisa ser debatido, mas, no meu ponto de vista, vejo a dupla responsabilidade como o ideal. As duas partes são essenciais e são médicos capacitados, duas cabeças pensando juntas".

Atualmente existem tecnologias que mandam para um cirurgião à distância as imagens em 3D de um procedimento, permitindo que ele dê orientações a quem está na sala de cirurgia, participando de forma indireta da operação.

Benefícios para o paciente

As vantagens são principalmente para aqueles pacientes com casos mais complexos ou que moram em localidades remotas. "Nada vai impedir que o melhor especialista do mundo atue em uma cirurgia, sem a necessidade de arcar com os custos de um deslocamento de país, por exemplo. Além disso, pacientes de cidades pequenas que não possuem médicos de todas as especialidades podem contar com um imenso apoio de cirurgiões capacitados".

O ICRP reúne quatro cirurgiões renomados em cirurgia robótica do Sul do Brasil. Fazem parte deste projeto os cirurgiões Christiano Claus (cirurgia de hérnias abdominais e aparelho digestivo), Eduardo Ramos (cirurgia hepática e pancreática),  Giorgio Baretta (cirurgia bariátrica e metabólica) e Reitan Ribeiro (cirurgia oncológica).

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