Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), um país só é considerado “smoke free” quando fica abaixo de 5% de fumantes. Nenhum outro país da União Europeia está perto de replicar essa conquista, já que a média de fumantes no continente é de 23%.
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Entre os palestrantes estão os médicos Delon Human e Anders Milton, autores do estudo “The Swedish Experience: A roadmap for a smoke-free society” ("A Experiência Sueca: Um roteiro para uma sociedade livre do tabaco"), publicado em março deste ano, que detalha as iniciativas adotadas que fizeram o país europeu chegar ao índice de 5% de fumantes em todo o seu território.
Modelo sueco
O modelo sueco combina recomendações da OMS, incluindo a redução da oferta e demanda de tabaco, proibição de fumar em determinados locais, mas acrescenta um elemento importante: aceitar produtos livres de fumaça como alternativas menos prejudiciais.
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"Trata-se de combinar o controle do tabaco com a minimização dos danos", explica o Dr. Delon Human, um dos autores do relatório e também palestrante e moderador do evento. "Não há produtos de tabaco livres de risco, mas os cigarros eletrônicos, por exemplo, são 95% menos prejudiciais do que os cigarros convencionais. É muito melhor para um fumante mudar para os cigarros eletrônicos ou para os sachês de nicotina do que continuar fumando."
Outra medida tomada na Suécia foi em relação ao preço e taxas dos produtos de tabaco. Produtos livres de fumaça são mais acessíveis que os cigarros tradicionais porque esse tipo de produto é tributado de acordo com seu risco. Isso significa que a taxa de imposto sobre sachês de nicotina é consideravelmente menor do que a dos cigarros combustíveis.
No Brasil, onde apenas os produtos tradicionais de tabaco são legalizados, como cigarros, cachimbos, charutos e narguiles, há mais de 156 mil mortes por ano causadas pelo consumo de tabaco. Embora o número de fumantes tenha diminuído significativamente nas últimas décadas, a população brasileira ainda conta com uma taxa de 9,1% de tabagistas.
Para Delon Human, o Brasil é um forte candidato a ser “smoke free”. “O Brasil reúne todas as características necessárias para um bom programa de redução de danos. A discussão sobre tabagismo é complexa em todo o mundo, mas com a experiência da Suécia, sabemos que os países que abraçam a causa e encaram o problema de frente conseguem resultados muito positivos.
Bem-estar coletivo
O Brasil tem medidas de muito sucesso para o bem-estar coletivo, como a proibição de fumaça em ambientes fechados, mas essas medidas são pouco efetivas na redução do número de fumantes efetivamente, apenas mascaram os problemas. Em suas casas e ao ar livre, as pessoas continuam consumindo tabaco”, explica Human. “Outro ponto importante é que o consumo de cigarros contrabandeados é imenso no Brasil. Não existe nenhum tipo de controle sobre as substâncias contidas nesses produtos ilegais”, complementa.
Organizado pela Aliança Pan-Americana para a Redução de Danos (PAHRA), o evento em São Paulo aborda o tema a partir da política, da ciência e dos conhecimentos dos consumidores relacionados ao controle do tabaco e à redução de danos. Será incentivado o diálogo entre as várias partes interessadas, promovemdo uma "abordagem de toda a sociedade" para encontrar soluções para um dos problemas mais urgentes da sociedade.
Além de abordar as iniciativas adotadas na Suécia, os palestrantes vão trazer cases de outros países, discutir o papel dos profissionais de saúde na redução de danos, o ponto de vista dos consumidores que utilizam produtos voltados para redução de danos e um olhar econômico, socioambiental e legal sobre essas medidas. O seminário será levado a outros países como Bélgica, África do Sul, Bangladesh e Suécia.