O ex-deputado David Miranda (PDT-RJ) morreu nesta terça-feira (9/5) aos 37 anos, após ficar quase nove meses internado numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por causa de uma infecção gastrointestinal.

 

A morte foi confirmada pelo jornalista americano Glenn Greenwald, marido do político e ativista.





 

Segundo informações divulgadas pela família nas redes sociais, Miranda foi internado em 6 de agosto de 2022 numa clínica no Rio de Janeiro para tratar uma infecção gastrointestinal.

O quadro, porém, teve complicações e gerou infecções sucessivas, além de pancreatite (inflamação do pâncreas) e sepse (inflamação generalizada do organismo).

 

 

 

 

Mas que fatores podem estar por trás do agravamento de uma doença tão frequente como a infecção gastrointestinal?

Um dos problemas mais comuns no mundo inteiro

Antes de entrar nos detalhes sobre essa enfermidade, vale ressaltar que as informações compartilhadas a seguir são gerais, e não refletem a condição específica de David Miranda.

 

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Elas têm como fonte os estudos científicos sobre o tema e consensos de sociedades de especialistas, mas é claro que podem variar de acordo com a situação de cada paciente — portanto, só a avaliação médica individualizada será capaz de fornecer orientações específicas para cada caso.





Segundo uma revisão feita por especialistas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Estado da Louisiana, nos EUA, as gastroenterites — o nome “oficial” do quadro — são “caracterizadas pelo aumento na frequência de movimentação do intestino, com ou sem outros sintomas, como febre, vômitos e dor abdominal”.

Entre os possíveis causadores dessa condição, estão os vírus, as bactérias, os parasitas e os fungos.

Dessa lista, os agentes mais comuns são os vírus. “Os principais patógenos desse grupo que afetam o sistema digestivo são os norovírus, os rotavírus e os adenovírus”, lista a gastroenterologista Débora Poli, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, que não esteve diretamente envolvida com o caso do ex-deputado.

Apesar de frequentes, as infecções virais do sistema digestivo costumam ser mais leves.

Na sequência, aparecem as bactérias. Elas estão por trás de gastroenterites um pouco mais graves, com sintomas mais fortes e difíceis de tratar. Entre as espécies que causam o problema com frequência, destacam-se a Salmonella, a Campylobacter, a Shigella, a Clostridium e a E. coli.





Nesses casos, a infecção acontece geralmente pelo consumo de comidas contaminadas com esses micro-organismos, como maioneses que ficaram fora da geladeira ou carnes cruas ou mal passadas.

“Em cerca de 95% dos casos, o paciente só necessita de repouso e hidratação. Isso é suficiente para que o organismo tenha condições de se recuperar”, calcula Poli.

Quando a infecção está mais intensa e há fortes suspeitas de que ela é causada por bactérias, o médico também pode receitar o uso de antibióticos. Essa classe de remédios vai conter o crescimento dos micro-organismos na região afetada.

Mas há situações em que a gastroenterite pode gerar consequências mais graves.

Por que o quadro pode complicar?



Segundo o mesmo estudo americano, quadros agudos de diarreia infecciosa estão entre as doenças mais comuns em todo o mundo. Elas estão associadas a 1,5 a 2,5 milhões de mortes a cada doze meses.





Esses episódios costumam ser bem mais graves em crianças menores de cinco anos — essa é a segunda principal causa de morte de origem infecciosa nessa faixa etária.

Para ter ideia, todos os anos as gastroenterites exigem 1,5 milhões de consultas em serviços de emergência e 200 mil internações de crianças pequenas só nos Estados Unidos.

Indivíduos mais velhos, acima dos 60 anos de idade, também são mais vulneráveis aos efeitos da infecção gastrointestinal.

“Outro grupo que pode ter infecções severas são os portadores de doenças crônicas, como diabetes ou câncer, ou pacientes que estão com o sistema imunológico debilitado”, acrescenta Poli.

Nesses indivíduos, uma gastroenterite bacteriana aparentemente simples pode se agravar — o que gera uma reação exagerada das células de defesa (quadro conhecido como inflamação) ou episódios repetidos de infecção no sistema digestivo.





Mas Poli reforça que situações como essa são mais raras quando o assunto é gastroenterite.

“Em linhas gerais, mesmo o paciente que precisa de UTI costuma ficar cerca de 24 ou 48 horas nos cuidados intensivos e se recupera bem”, diz.

Segundo a médica, o principal motivo que demanda o cuidado em UTI é a desidratação extrema, em que o indivíduo não tem líquidos e sais minerais suficientes para o funcionamento do corpo. Com isso, órgãos vitais (como os rins e o coração) podem falhar — e é necessário estabilizar todos os parâmetros do corpo antes de receber alta.

Porém, às vezes, o próprio ambiente hospitalar pode ser a fonte de uma complicação. “O paciente internado em UTI por qualquer motivo de saúde corre um risco maior de sofrer infecções oportunistas e, com isso, os problemas acabam se acumulando”, destaca a gastroenterologista.





Ainda segundo a médica, existem alguns sinais da infecção gastrointestinal que exigem uma visita imediata ao pronto-socorro.

“Se a pessoa está com febre alta que não diminui, não consegue se hidratar adequadamente sem colocar o líquido para fora, sente um mal-estar muito grande, está pálida ou apresenta sangramento nas fezes ou no vômito, é importante buscar uma avaliação”, pontua.

“Também é necessário visitar um especialista se aqueles sintomas iniciais de vômito, diarreia, mal-estar e febre não vão embora depois de 24 ou 48 horas”, conclui Poli.

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