Com tantas dietas novas e já consagradas, é difícil escolher a mais adequada para a saúde em geral. Algumas, inclusive, podem até ser maléficas para o organismo. Por isso, um grupo de cardiologistas norte-americanos publicou, recentemente, uma avaliação dos 10 regimes mais populares no mundo ocidental, com foco nos benefícios de cada um para o sistema cardiovascular.
Leia também: 'Hormônio do amor' pode ajudar a curar doenças do coração, indica pesquisa
"O número de diferentes padrões alimentares populares proliferou nos últimos anos, e a quantidade de desinformação sobre eles nas mídias sociais atingiu níveis críticos", afirma Christopher D. Gardner, professor de medicina na Universidade de Stanford, na Califórnia, e presidente do comitê de redação do artigo.
"O público — e até mesmo muitos profissionais de saúde — pode ficar confuso sobre uma alimentação saudável para o coração e pode sentir que não tem tempo ou treinamento para avaliar as diferentes dietas", acredita. "Esperamos que essa declaração sirva como uma ferramenta para os médicos e o público entenderem quais dietas promovem uma boa saúde cardiometabólica."
Leia também: Saúde incorpora tratamento de alto custo para reparo de válvula do coração
O relatório avalia o quão bem cada uma das 10 dietas se alinha com as principais características da orientação dietética da Associação Norte-Americana do Coração (AHA) para a saúde cardiovascular.
São elas: consumir uma grande variedade de frutas e vegetais; escolher grãos integrais em vez de refinados; usar óleos vegetais líquidos no lugar dos chamados tropicais (como de coco ou palma, que têm alto teor de gordura saturada ou hidrogenada); optar por fontes saudáveis de proteína, como verduras, frutos do mar ou carnes magras; minimizar a adição de açúcares e sal; limitar o consumo de álcool e fugir dos alimentos ultraprocessados.
Leia também: Estudo contesta crença de que consumo de vinho evita doenças do coração
Os médicos, então, classificaram as dietas em uma escala de 1 a 100, considerando as recomendações da AHA. Gardner ressalta que a avaliação não considerou programas dietéticos comerciais (como Vigilantes do Peso), aqueles seguidos por menos de 12 semanas, práticas como jejum intermitente ou regimes prescritos para gerenciar condições de saúde não cardiovasculares.
As dietas foram divididas em quatro níveis, com base em nas pontuações, que variaram de 31 a 100. Apenas uma — o plano alimentar Dash (sigla em inglês para abordagens dietéticas para parar a hipertensão) — obteve a nota máxima. Esse padrão alimentar caracteriza-se por ser pobre em sal e açúcar; evitar óleo tropical, álcool e alimentos processados. Além disso, é rico em vegetais sem amido, frutas, grãos integrais e legumes. As proteínas vêm principalmente de fontes não animais, como legumes, feijões ou nozes, com peixes ou frutos-do-mar. Aves, carnes magras e laticínios com baixo teor de gordura também são aceitos.
In natura
O padrão alimentar mediterrâneo teve uma pontuação ligeiramente inferior (89) porque, ao contrário do Dash, permite o consumo moderado de álcool e não aborda a adição de sal. A dieta pescetarian (92), que inclui frutos do mar, além de alimentos à base de plantas, e a vegetariana (86) também receberam notas altas.
"Se implementados conforme pretendido, os padrões alimentares de primeira linha se alinham melhor com as orientações da AHA e podem ser adaptados para respeitar práticas culturais, preferências alimentares e orçamentos para permitir que as pessoas sempre comam dessa maneira, a longo prazo", destaca o presidente do comitê de redação do artigo.
"O que faz com que essas dietas sejam aliadas à saúde cardiovascular, em primeiro lugar, é que elas têm como base uma alimentação in natura, reduzindo ao máximo os alimentos industrializados ricos em açúcar, gordura trans, sódio e aditivos químicos", comenta a nutricionista Mariana Venturini, especialista em nutrição clínica funcional.
"Elas são caracterizadas pelo alto aporte de vitaminas, minerais, antioxidantes e fibras, reduzindo aporte de gordura saturada, proveniente principalmente de alimentos de origem animal, exceto peixes. Esse padrão favorece melhor composição da microbiota intestinal, atua como anti-inflamatório, reduz o colesterol plasmático, triglicerídeos, pressão arterial, agregação plaquetária e tem ação antioxidante. Assim, favorece controle de peso, melhora de parâmetros metabólicos e saúde cardiovascular", completa.
Cuidado com as restrições
As dietas com baixo teor de gordura também ficaram no segundo nível, com a mesma pontuação da vegana: 78. Os autores justificaram que, geralmente, os regimes que restringem esse nutriente excessivamente tratam as fontes de forma igual. A orientação da AHA é substituir as saturadas por formas mais saudáveis.
"A gordura saturada e a gordura trans presentes em embutidos, bebidas alcoólicas e em alguns alimentos industrializados e/ou contendo açúcares aumentam o colesterol ruim", explica Fernando Barreto, cardiologista e diretor médico assistencial do grupo São Cristóvão Saúde, em São Paulo. "As vegetais, como o azeite extravirgem, ajudam no controle do colesterol", destaca.
As dietas com teor muito baixo de gordura (72) e poucos carboidratos (64) ficaram no terceiro nível. Ambas restringem os alimentos enfatizados nas orientações da AHA. Por exemplo, enquanto as primeiras reduzem níveis de nozes e óleos vegetais saudáveis, as segundas levam à ingestão precária de frutas, grãos e legumes, diminuindo o consumo de fibras e aumentando o de gorduras saturadas.
Paleo
Nos últimos lugares da avaliação, estão a paleo (53) e dietas muito deficitárias em carboidratos/cetogênicas (31). Todas essas são usadas para perda de peso e, segundo o artigo, alinham-se mal com as diretrizes de alimentação saudável para o coração. Além disso, o artigo afirma que, ao longo prazo, devido ao excesso de restrição, acabam não sendo sustentáveis, podendo levar ao reganho dos quilos perdidos.
"São altamente restritivas e difíceis para a maioria das pessoas manter a longo prazo. Embora provavelmente haja benefícios a curto prazo e perda substancial de peso, não é sustentável. Uma dieta eficaz em ajudar um indivíduo manter metas de perda de peso, de uma perspectiva prática, precisa ser sustentável", considera Christopher D. Gardner, professor de medicina na Universidade de Stanford, na Califórnia.
Os cardiologistas observam que mais pesquisas e atividades educativas são necessárias para mostrar às pessoas como seguir padrões alimentares. "Esforços também precisam ser feitos para incluir grupos historicamente marginalizados na pesquisa para reduzir o impacto do racismo estrutural em doenças relacionadas à dieta, e políticas são necessárias para desmantelar práticas injustas que limitam o acesso a alimentos saudáveis em algumas comunidades", conclui o artigo.
Cuidado com as restrições
Embora o consumo de vegetais e grãos integrais sejam pontos positivos da dieta vegana, esse estilo alimentar ficou no segundo nível do ranking da Associação Norte-Americana do Coração (AHA), que avaliou regimes populares, sob o ponto da saúde cardiovascular. De acordo com os especialistas que elaboraram o artigo, publicado na revista Circulation, o veganismo é muito restritivo, o que dificulta a adesão ao longo prazo. Além disso, pode aumentar o risco de anemia, disseram os médicos.
As dietas com baixo teor de gordura também ficaram no segundo nível, com a mesma pontuação da vegana: 78. Os autores justificaram que, geralmente, os regimes que restringem esse nutriente excessivamente tratam as fontes de forma igual. A orientação da AHA é substituir as saturadas por formas mais saudáveis.
"A gordura saturada e a gordura trans presentes em embutidos, bebidas alcoólicas e em alguns alimentos industrializados e/ou contendo açúcares aumentam o colesterol ruim", explica Fernando Barreto, cardiologista e diretor médico assistencial do grupo São Cristóvão Saúde, em São Paulo.
"As vegetais, como o azeite extravirgem, ajudam no controle do colesterol", destaca.
As dietas com teor muito baixo de gordura (72) e poucos carboidratos (64) ficaram no terceiro nível. Ambas restringem os alimentos enfatizados nas orientações da AHA. Por exemplo, enquanto as primeiras reduzem níveis de nozes e óleos vegetais saudáveis, as segundas levam à ingestão precária de frutas, grãos e legumes, diminuindo o consumo de fibras e aumentando o de gorduras saturadas.
Paleo
Nos últimos lugares da avaliação, estão a paleo (53) e dietas muito deficitárias em carboidratos/cetogênicas (31). Todas essas são usadas para perda de peso e, segundo o artigo, alinham-se mal com as diretrizes de alimentação saudável para o coração. Além disso, o artigo afirma que, ao longo prazo, devido ao excesso de restrição, acabam não sendo sustentáveis, podendo levar ao reganho dos quilos perdidos.
"São altamente restritivas e difíceis para a maioria das pessoas manter a longo prazo. Embora provavelmente haja benefícios a curto prazo e perda substancial de peso, não é sustentável. Uma dieta eficaz em ajudar um indivíduo manter metas de perda de peso, de uma perspectiva prática, precisa ser sustentável", considera Christopher D. Gardner, professor de medicina na Universidade de Stanford, na Califórnia.
Os cardiologistas observam que mais pesquisas e atividades educativas são necessárias para mostrar às pessoas como seguir padrões alimentares. "Esforços também precisam ser feitos para incluir grupos historicamente marginalizados na pesquisa para reduzir o impacto do racismo estrutural em doenças relacionadas à dieta, e políticas são necessárias para desmantelar práticas injustas que limitam o acesso a alimentos saudáveis em algumas comunidades", conclui o artigo.
*Para comentar, faça seu login ou assine