Tratamento de dente

O cirurgião-dentista desempenha papel fundamental antes, durante e após o tratamento oncológico

Ideal HKS/Divulgação


No Brasil, o câncer é a segunda principal causa de morte desde 2003, perdendo apenas para doenças cardiovasculares. De acordo com pesquisas, aproximadamente 60% dos pacientes recebem radioterapia convencional para o tratamento localizado em cabeça e pescoço, e mais de 90% dos pacientes se submetem a terapia combinada (radioterapia e quimioterapia), sendo esperado o desenvolvimento de uma série de alterações na cavidade bucal. 


Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência. 

O tratamento é sempre individualizado e existem diferentes tipos de abordagens a serem aplicados em cada paciente, podendo ser feito por meio de cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea. Tendo em vista que o paciente oncológico deve seguir alguns protocolos específicos de cuidado, a boca, fonte de bactérias, deve ser um deles.


Neste sentido, o cirurgião-dentista desempenha papel fundamental antes, durante e após o tratamento oncológico. De acordo com a cirurgiã-dentista, especializada em tratamento odontológico hospitalar, oncológico e laserterapia, Vera Ruschel, o ideal é que toda pessoa que vai iniciar uma quimioterapia ou radioterapia passe por uma avaliação odontológica antes de começar esses tratamentos. 

"O cirurgião-dentista que estiver capacitado para o atendimento ao paciente oncológico, ao recebê-lo antes do início das terapias, poderá realizar uma avaliação clínica e radiográfica da sua boca para identificar e tratar todo e qualquer foco de infecção nessa fase. É preciso remover todo processo infeccioso que possa agudizar durante o período de baixa imunológica do paciente e levá-lo a desenvolver uma infecção sistêmica", explica.
 
cirurgiã-dentista Vera Rushel

''Pacientes com mucosite têm cinco vezes mais chance de óbito por sepse durante a quimio e radioterapia'', alerta a cirurgiã-dentista Vera Rushel

Arquivo pessoal

 
A dentista ressalta ainda que diversas alterações bucais decorrentes do tratamento contra o câncer podem acometer o paciente, provocando manifestações orais graves como mucosite, xerostomia, infecção bacteriana (estomatite), fúngica (candidíase) e viral (herpes), que causam dor e dependendo da gravidade, impossibilitam a continuidade do tratamento oncológico. "Pacientes com mucosite têm cinco vezes mais chance de óbito por sepse durante a quimio e radioterapia. É causa de internação hospitalar e aumento do custo do tratamento.  Infelizmente, ainda vemos nos dias de hoje, pacientes indo a óbito por desnutrição, desidratação, sepse e choque metabólico decorrentes de mucosites severas que não foram adequadamente prevenidas ou tratadas", lamenta a especialista. 
 
A utilização da quimioterapia e da radioterapia, isoladas ou em conjunto como protocolo para o tratamento oncológico, pode induzir a mucosite oral, um dos principais efeitos colaterais agudos observados no paciente com câncer. "A mucosite oral é caracterizada por lesões ulcerativas da mucosa bucal, sendo uma complicação frequentemente relatada entre os pacientes em tratamento de câncer. Essa toxicidade surge em média de sete a dez dias após a quimioterapia e a partir da segunda semana de radioterapia. Já no caso da radioterapia de cabeça e pescoço, os cuidados devem ser maiores, uma vez que a região a ser irradiada, a  boca, desenvolve varias alterações, causando dor e desconforto. Por isso, o paciente oncológico deve procurar tratamento odontológico logo no início da doença", enfatiza Vera Ruschel.

O cirurgião-dentista oncológico não avalia apenas a boca do paciente, mas também a medicação que ele usa, os exames que realiza e os tratamentos que ele faz. É preciso desenvolver uma relação multidisciplinar, enxergar o paciente como um  todo. "A partir do momento que é dado o diagnóstico é possível minimizar os efeitos colaterais e até prevenir, porém, mesmo o paciente que já está em tratamento e que apresenta alguns efeitos, conseguimos diminuir os mesmos através da laserterapia e protocolos específicos. A terapia com o laser de baixa potência se destaca como uma alternativa eficaz na prevenção e no tratamento da mucosite oral, apresentando-se como um tratamento não traumático, de baixo custo e com bons resultados", explica.