Evidências científicas apontam que existe uma interação marcante entre o sono e a dor. Estudos mostram que a privação de sono em pessoas saudáveis está associada ao aumento das respostas ao estímulo da dor. Outras pesquisas revelam que a insônia é capaz de exacerbar o risco da dor de cabeça em pessoas que sofrem de cefaleia e enxaqueca. Mais da metade dos pacientes com dor crônica - aquela que persiste por mais de três meses - relatam dificuldade para adormecer, manter o sono e insatisfação com a qualidade de sono.
"Por outro lado, pessoas com dor persistente não conseguem dormir bem. Por isso é importante tratar as queixas de dor e da má qualidade de sono ao mesmo tempo", explica a pesquisadora do Instituto do Sono e fisioterapeuta Priscila Morelhão.
Dor crônica
A dor crônica pode causar imobilidade, incapacidade para o trabalho, dependência de medicamentos, de profissionais de saúde e de cuidadores, além de transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade. Um estudo recente revelou que este tipo de dor acomete 76% da população brasileira. A mais prevalente é na região lombar, seguida por dores nos joelhos, nas mãos e nos ombros.
A relação bidirecional entre a qualidade de sono e a dor lombar crônica foi tema de um estudo coordenado por Priscila Morelhão e publicado na revista Archives of Physical Medicine and Rehabilitation. O objetivo foi avaliar se a má qualidade de sono seria capaz de predizer com precisão a intensidade de dor lombar mais intensa a longo prazo. Durante seis meses, os pesquisadores acompanharam 215 idosos com dores lombares crônicas. No início do estudo, eles responderam a questionários sobre os níveis de dor e qualidade de sono. No final do experimento, houve novas entrevistas e todos disseram que a dor piorou. "Nossos resultados mostraram que a qualidade de sono na avaliação inicial prediz o aumento a intensidade da dor após seis meses", declara.
Leia também: Os riscos e benefícios de induzir sonhos lúcidos; entenda
Existem várias explicações para o fato de que a privação de sono aumenta a sensibilidade à dor. Em pessoas com fibromialgia e outras dores crônicas, o estágio do sono de ondas lentas é interrompido pelo surgimento por uma onda de frequência alta, conhecida como atividade alfa. Segundo Priscila Morelhão, essa característica "impede que a pessoa tenha um sono profundo e reparador e não recupere a sua musculatura". Distúrbios de sono, como a insônia e apneia obstrutiva do sono, geram uma alteração no padrão de sono, contribuindo para a inflamação dos tecidos, o que reduz a função física dessas pessoas e aumenta a sensação de dor.
Tratar o sono e a dor
Os especialistas acreditam que, paralelamente às terapias voltadas à dor crônica, o paciente deve se submeter a um tratamento para melhorar seu padrão de sono, o que poderá trazer vários benefícios à sua saúde. Mesmo porque o aumento da sensibilidade à dor é um dos efeitos das noites mal dormidas. Outros são o desequilíbrio hormonal, enfraquecimento do sistema imunológico, prejuízo das funções cardiovasculares e cognitivas, além de alterações de humor.
Quando necessário, é preciso buscar ajuda médica para melhorar o sono. Priscila Morelhão dá algumas dicas para quem quer dormir melhor:
Rotina é essencial: defina horários para dormir e acordar, fazer suas refeições, trabalhar e se dedicar ao lazer
Evite estimulantes: não tome bebidas com cafeína (chá preto, branco, verde e café) e bebidas alcoólicas após as 15 horas
Longe das telas: não acessar celulares, tablets e televisão uma hora antes de dormir. A luz emitida por esses aparelhos eletrônicos sinaliza ao cérebro que ainda é dia
Não leve problemas para a cama: se tiver uma série de atividades para o dia seguinte, melhor fazer uma lista de todas elas de modo que as preocupações fiquem do lado de fora do quarto
Exercício físico tem hora: as atividades físicas devem ser feitas até duas horas antes de ir para a cama, a fim de não atrapalhar o sono
Prefira refeições leves: no jantar evite comidas pesadas para facilitar a digestão e o sono