Para Rogério Sette Câmara, um dos fundadores da Spasso Escola de Circo, além da esfera física, a atividade circense trabalha o corpo por completo e é motor para o desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas incríveis. Em suas palavras, “o circo é uma ferramenta poderosa de educação. Faz surgir atitudes importantes na formação humana. É a compreensão de que ninguém faz nada sozinho e um reforça o outro, sem competição. É lindo de ver”, diz o artista.
Ele conta que sempre foi curioso e as artes do circo eram até então um universo desconhecido. “Tivemos a oportunidade de conhecer mais e estudá-lo. No circo, aprendo muito, mas o que mais me toca é a forma como a atividade fundamenta um espírito coletivo e solidário em quem se envolve com ela. É transformador.”
Lucas Castro, de 32 anos, começou a fazer aulas de circo como hobbie, mas com o passar do tempo a prática virou coisa séria. Concluiu o curso de formação profissional em circo na Spasso Escola Popular de Circo, onde começou na arte circense em 2008. Conta que gostou tanto que passou a fazer do circo parte fundamental de sua vida. Já havia experimentado a atuação em teatro e, depois que terminou o ensino médio, na época de decidir sobre que carreira seguir, o circo foi a escolha. Depois, também se formou em educação física, e fez especialização em anatomia humana no Rio de Janeiro, na intenção de conhecer melhor o próprio corpo. Mas a decisão foi mesmo trabalhar como artista e professor de circo.
Quando a Spasso tomou outros rumos e mudou de lugar, Lucas lembra que foi como se abrisse uma lacuna quando se trata do fazer circense em BH e região. Então, ele se juntou à irmã, Deisy Castro, experiente em gestão e administração e, em setembro de 2018, nascia a escola de circo CircoLar, no Eldorado, em Contagem. Existem alguns braços de atuação: há um trabalho voltado à comunidade, com aulas oferecidas gratuitamente, de formação profissional em circo propriamente dita, além das atividades livres.
Com dois anos de fundação da escola, Lucas foi aprovado para ingressar em um curso de formação na área na Escola Nacional de Circo em Montreal, no Canadá. Conta que foi uma experiência incrível, especialmente pela infraestrutura de primeira qualidade. Ficou no país por um ano e meio, e pode aprofundar ainda mais a prática de trapézio fixo e arame esticado (as especializações oficiais) e, depois, por intermédio de um professor russo que conheceu, também explorou o trapézio em balanço, aparelho pouco praticado no Brasil.
Tudo isso ainda renderia novos frutos. Lucas acaba de voltar ao Brasil depois de atuar como professor na Escola de Circo de Quebec, entre janeiro e abril deste ano. Daqui para frente, a ideia é se dividir na escola própria em Contagem, mais na esfera de coordenação da formação profissional, e na escola canadense, como professor mesmo.
Na escola na Grande BH, hoje são 120 alunos, a partir dos três anos e sem limite de idade. Há pouco mais de seis meses, eles adquiriram a condição de instituto e agora, com o Instituto CircoLar Cultural, o objetivo é desbravar o caráter social da atividade e atuar ainda mais próximo da comunidade, com ações direcionadas ao terceiro setor. "O circo é uma atividade transformadora. Valoriza as características de cada indivíduo. Torna cada um protagonista da própria vida", ressalta.
Lucas Daniel Patrício Miranda, de 35 anos, trabalha com marketing digital. Foi depois de participar de um workshop de pirofagia, em 2022, que resolveu procurar a aula de circo. "Achei que o que eu tinha aprendido era muito básico. Não conhecia meu corpo direito. Então procurei a escola de circo para fazer uma conexão entre a pirofagia e a acrobacia", relata.
Apaixonado
Ele ingressou no Espaço CircoLar, primeiramente pela curiosidade, fazendo aulas avulsas - oficinas de circo, com acrobacia aérea, um pouco de acrobacia de chão, equilibrismo e malabarismo. A partir de janeiro deste ano, partiu para o curso de formação. "O curso aborda outras áreas. Além da acrobacia aérea e de solo, tem dança contemporânea e aulas de criação de cenas, por exemplo. Também faço tecido, trapézio, lira e trampolim", conta.
A intenção não é se tornar um profissional do circo, nem para performances, nem como professor. O que Lucas deseja é atuar em áreas de apoio e produção, prestando serviços de marketing junto à própria escola ou outros eventuais clientes do ramo do circo. Para Lucas, que é daqueles que “paga academia e não vai”, o circo é um ótimo exercício físico, dentro de um ambiente que permite descobrir e ultrapassar limites, onde se pode errar e testar habilidades. “É desafiador, além de ser um lugar que recebe pessoas de todas as cores, de todos os credos. Uma atividade democrática e ferramenta de interação social. Me orgulho de estar lá e fazer parte", diz.
Benefícios do circo para as crianças
Além de ser uma forma alternativa de realizar um exercício físico, o circo se pratica brincando. É lúdico e divertido, proporciona prazer e alegria, ao mesmo tempo que se trata de um treinamento para o corpo, razoavelmente difícil, o que enriquece ainda mais a atividade. Quando bem coordenadas por um profissional capacitado, as aulas contribuem para o desenvolvimento total da criança. O circo é ainda uma forma de expressão artística, que estimula a criatividade e a sensibilidade da garotada.
Na área psicossocial, a arte circense incentiva:
» A superação dos medos
» A integração e a socialização
» A perda da timidez
» A melhora na comunicação
» A desenvoltura
No desenvolvimento da capacidade motora e cognitiva, também proporcionam:
» Melhor noção espacial
» Estímulo à prática esportiva
» Maior consciência corporal
» Melhor alongamento, flexibilidade e força
» Melhor equilíbrio, agilidade e
coordenação motora
Fonte: Companhia Athletica