O nível de satisfação sexual e a disfunção erétil na meia-idade podem estar associados a questões de saúde cerebral na velhice, mostra uma pesquisa liderada pela Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos. O estudo, publicado na revista Gerontologist, foi realizado com homens e indica que aqueles com problemas de saúde sexual apresentam, em geral, risco aumentado para demências, como o Alzheimer, e declínios cognitivos.
Para o ensaio, os estudiosos usaram dados de 818 voluntários, com 56 a 86 anos, participantes de uma pesquisa longitudinal sobre as influências genéticas e ambientais no envelhecimento, o Vietnam Era Twin Study of Aging (Vetsa). Os voluntários foram submetidos a testes neuropsicológicos, que avaliaram a memória e velocidade de processamento de informações, e tiveram as mudanças cognitivas avaliadas ao longo de 12 anos.
"O que foi único em nossa abordagem é que medimos a função de memória e a função sexual em cada ponto do estudo longitudinal para que pudéssemos ver como eles mudaram juntos ao longo do tempo. O que descobrimos se conecta ao que os cientistas estão começando a entender sobre a ligação entre a satisfação com a vida e o desempenho cognitivo", enfatiza, em nota, Martin Sliwinski, um dos autores do estudo.
Conforme Sliwinski, através dos testes, descobriu-se que quem tem baixa satisfação sexual corre um risco maior de apresentar quadros de demência, Alzheimer, doenças cardiovasculares e outros problemas ligados ao estresse, que podem levar ao declínio cognitivo. "Melhorias na satisfação sexual podem, na verdade, desencadear melhorias na função da memória. Dizemos às pessoas que elas devem fazer mais exercícios e comer alimentos melhores. Estamos mostrando que a satisfação sexual também é importante para nossa saúde e nossa qualidade de vida em geral", afirma.
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Ainda segundo o ensaio, os dados abrem caminho para futuras abordagens preventivas. Isso porque a pesquisa também mostra que levar em conta a avaliação e o monitoramento da função erétil como um sinal de saúde pode ajudar a identificar os riscos de declínio cognitivo antes dos 70 anos. "Essas associações sobreviveram ao ajuste de fatores demográficos e de saúde, o que nos diz que há uma conexão clara entre nossa vida sexual e nossa cognição", completa, em nota, Riki Slayday, candidato a doutorado na Penn State e principal autor do estudo.
Mudanças sistêmicas
O neurologista Amauri Godinho Júnior acredita que não há uma relação clara de causa e consequência entre problemas de função erétil, satisfação sexual e cognição. Há, segundo ele, um fator desencadeante em comum, que é o envelhecimento, responsável por causar alterações em todas essas questões. "A doença arteriosclerótica, que afeta a microcirculação de sangue, vai se desenvolvendo durante o envelhecimento, e isso tem repercussão em tudo. A demência senil tem relação com essa alteração na microcirculação e a disfunção erétil também", explica.
A psicóloga Alessandra Araújo, da clínica Via Vitae, em Brasília, chama a atenção para um aspecto mais integrado das questões sexuais. Se uma parte do corpo está mal ou adoecida, todo o organismo vai ser afetado, enfatiza a também psicóloga. "(Sigmund) Freud fala que somos seres libidinais, movidos por aquilo que dá prazer. Sendo assim, um sujeito que não se satisfaz sexualmente começa a ficar mais estressado, mais tenso e rígido nas suas funções. Sabemos que, ao manter relação sexual, liberamos hormônios do prazer que fazem com que relaxemos mesmo depois de um dia extremamente exaustivo."
Também segundo a especialista, os hormônios liberados ajudam no combate ao estresse, fator que pode causar aumento da pressão arterial. "Nosso corpo fica invadido de ocitocina, hormônio do amor e do prazer. Para além disso, a ocitocina aciona o hipotálamo, que é onde se regula as funções endócrinas, que nos afeta como um todo", detalha Araújo. "Sendo assim, faz sentido estudos mostrarem que um sujeito com baixa satisfação sexual adoece mais e tem menor rendimento do que aquele que com uma vida sexual satisfatória. E, ressalto, satisfação é diferente de frequência sexual."
Sliwinski espera que, no futuro, a pesquisa possa ajudar no desenvolvimento de novos cuidados ligados à saúde sexual e cognitiva. "Já temos uma pílula para tratar a disfunção erétil. O que não temos é um tratamento eficaz para a perda de memória. Em vez de conversar sobre o tratamento da disfunção erétil, devemos ver isso como um indicador importante para outros problemas de saúde e nos concentrar em melhorar a satisfação sexual e o bem-estar geral, não apenas lidar com o sintoma", defende o coautor, em nota.
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