Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que 34,3% das pessoas que fumavam aumentaram o consumo de tabaco desde 2020. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que nove em cada dez fumantes passaram a consumir cigarro antes dos 18 anos, enquanto o hábito afeta 24 milhões de adolescentes de 13 a 15 anos. No Brasil, esse vício já acomete 100 mil jovens, segundo o Hospital Oswaldo Cruz.
Além dos inúmeros danos à saúde, o tabagismo também é um grande vilão do maior órgão do corpo, a pele. Uma pesquisa da Universidade de Nagoya, no Japão, constatou que o cigarro gera uma queda de 40% na produção do colágeno, uma importante proteína presente no organismo que contribui para a elasticidade, hidratação e resistência da pele. O assunto se torna pertinente nessa quarta-feira (31/5), que marca o Dia Mundial Sem Tabaco.
"As toxinas do cigarro geram problemas que vão desde a queda da oxigenação e do aporte de nutrientes dos tecidos periféricos, até a diminuição da produção de colágeno, causando um ciclo de problemas no funcionamento cutâneo", reforça Luís Maatz, cirurgião plástico, especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Para entender alguns dos diversos prejuízos do tabagismo à saúde da pele, o médico listou cinco fatos que farão você pensar duas vezes antes de colocar um cigarro na boca:
Vasoconstrição
É por meio do fluxo sanguíneo que substâncias importantes, inclusive o oxigênio, são transportadas para órgãos e tecidos. No entanto, as toxinas do cigarro diminuem a espessura dos vasos sanguíneos, deixando-os mais contraídos e dificultando a irrigação do tecido cutâneo, o que prejudica a oxigenação das células. "Para se ter ideia, um único cigarro já reduz o nível de oxigênio na pele por cerca de uma hora", diz Luís Maatz.
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Cicatrização comprometida
O cigarro tem forte ligação com complicações pós-operatórias, incluindo infecções de feridas. Com a vasoconstrição, o processo de cicatrização é afetado, já que as substâncias hidratantes não encontram o caminho em meio aos vasos finos, prejudicando o processo de recuperação e regeneração da pele.
"Em cirurgias, os fumantes têm maior risco de necrose, tanto pela vasoconstrição como pelo efeito pró-trombótico. No caso da vasoconstrição, o fluxo sanguíneo periférico diminui em 30% a 40% em poucos minutos após a inalação da fumaça, comprometendo a oxigenação dos tecidos e a cicatrização", complementa o cirurgião.
Acne inversa
A hidradenite supurativa, mais conhecida como acne inversa, é comum em fumantes. Muitas vezes confundida com espinhas ou furúnculos, a acne inversa é uma inflamação crônica da pele, caracterizada por inchaços e cistos profundos em áreas como axilas, mamas, virilha, genitais e glúteos.
Segundo Luís Maatz, alguns estudos indicam que a nicotina altera a função das células imunológicas, gerando uma hiperplasia epidérmica, a ruptura dos folículos pilosos e, consequentemente, a acne inversa.
Envelhecimento da pele
Dentre os efeitos do tabagismo está o envelhecimento cutâneo, acelerando o surgimento de rugas, linhas proeminentes, flacidez, pigmentações amareladas, avermelhadas ou acinzentadas.
"As toxinas do cigarro penetram nos fibroblastos (células da pele que produzem o colágeno), aumentando a produção da enzima metaloproteinase, que destrói estas fibras. Também aumentam a produção de radicais livres (moléculas instáveis que agridem a pele, acelerando seu envelhecimento)", explica Luís Maatz.
O hábito de fumar contribui ainda no surgimento de rugas labiais, o chamado "código de barras". As marcas são uma consequência da repetição de movimentos dos músculos do rosto ao tragar.
Para as mulheres fumantes, o risco de envelhecimento precoce da pele é maior, já que a nicotina interfere no fluxo do estrógeno, hormônio feminino que, entre várias funções, atua na síntese do colágeno e da elastina.
Dermatite
O cigarro tem forte relação com dermatite de contato alérgica, como o eczema nas mãos. Nos produtos, há diversas substâncias alérgenas presentes no filtro, no papel e no tabaco. Os adesivos de nicotina, para quem decide parar de fumar, também causam dermatite de contato irritante e alérgica.
"Há diversos tratamentos que minimizam os efeitos estéticos, como aplicações de ácido hialurônico e toxina botulínica; a ritidoplastia (face lift) ou técnicas de microagulhamento. Entretanto, o melhor tratamento é parar de fumar, evitando os inúmeros prejuízos não só à pele, mas à saúde de forma geral", finaliza Luís Maatz.