Em 2020, enquanto o mundo enfrentava a pandemia de COVID-19, começaram a surgir evidências de que as sequelas da doença poderiam persistir por muito tempo, desafiando a ideia de que se tratava apenas de uma 'gripezinha'. Atualmente, sabemos que a chamada COVID longa pode causar mais de 200 sintomas, afetando praticamente todos os sistemas do corpo humano. Estima-se que cerca de 65 milhões de pessoas no mundo sofram dessa condição, equivalente a pelo menos 10% dos infectados. Entre os hospitalizados, a prevalência pode atingir 70%. A maioria dos casos ocorre em indivíduos entre 36 e 50 anos com quadro agudo leve da doença.
Diante dos impactos significativos da COVID longa na saúde pública, os Estados Unidos anunciaram em 2022 o Recover, um plano nacional de pesquisa para identificar sintomas, esclarecer mecanismos e desenvolver tratamentos para essa condição. O investimento foi de US$ 1,15 bilhão, aproximadamente R$ 7,5 bilhões na conversão atual. No entanto, a condução dos ensaios clínicos tem sido questionada por supostamente ser lenta e desorganizada.
COVID longa não tem tratamento comprovado
Sem tratamentos comprovados para a COVID longa, muitos pacientes recorrem a terapias pseudocientíficas, como ivermectina, suplementos multivitamínicos e células satélites. Contudo, uma pesquisa feita pelo laboratório de pesquisa da Faculdade de Medicina da USP desde outubro de 2020 traz esperança. O estudo avaliou pacientes que sobreviveram a quadros graves de COVID-19 e fizeram exercícios físicos domiciliares com supervisão remota de um profissional durante quatro meses.
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Os resultados do estudo mostraram que os pacientes que seguiram o programa de treinamento físico apresentaram melhora significativa na qualidade de vida, especialmente nos aspectos relacionados à saúde física e funcional. Além disso, a proporção de sintomas de COVID longa foi menor entre os que se exercitaram, com redução de queixas como dor muscular, fraqueza e fadiga. Dados também apontaram melhorias na função muscular e nas respostas cardíacas, respiratórias, ventilatórias e circulatórias durante o esforço físico. Não foram identificados eventos adversos durante o estudo.
Apesar dos resultados promissores, mais pesquisas são necessárias para confirmar a viabilidade da implementação de programas de exercícios físicos no SUS, desde a atenção primária até a especializada. No entanto, o exercício físico é uma ferramenta incontestável em saúde pública, com perfil de segurança excelente, benefícios sistêmicos e baixo custo. Enquanto investimentos em ciência não resultam em tratamentos inovadores para a COVID longa, a prática de exercícios físicos surge como uma alternativa eficaz e acessível na luta contra as sequelas da doença.