Romana Raslan, aromaterapeuta e naturopata

Romana Raslan, aromaterapeuta e naturopata

FOTOS: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

"Os óleos essenciais são procurados, por exemplo, para quem teve perda olfativa após contrair o coronavírus"

Romana Raslan, aromaterapeuta e naturopata


Os óleos essenciais são compostos voláteis, naturais, líquidos, 100% puros, encontrados nas plantas, em sua totalidade - nas raízes, tronco, casca, folhas, flores, frutas e resinas. Protegem as plantas contra ameaças, além de promover sua reprodução saudável. 

Usados em seres humanos, em massagens corporais, compressas, banhos, inalação ou vaporização, têm ação terapêutica, pelas propriedades medicinais em si e também pelo aroma. Esse é um braço da medicina natural e homeopática milenar que conquista adeptos pelo mundo, e volta a ocupar o lugar de protagonismo para quem pretende levar uma vida mais saudável, da forma mais natural possível.

Aplicados na aromaterapia, os óleos essenciais ajudam a promover bem-estar físico, emocional e espiritual, e também levam boas vibrações quando usados nos ambientes da casa. Ainda no Egito antigo, as plantas aromáticas eram usadas em infusões e embalsamentos, nos cosméticos e para tratar doenças. Os benefícios são mesmo importantes: por serem rapidamente absorvidos pelos receptores olfativos, esses compostos podem auxiliar no controle da frequência cardíaca, pressão arterial, respiração e estresse, de forma rápida e eficiente, e essa lista é interminável.

Quando o assunto é saúde, é fundamental, dessa forma, considerar os aspectos físico e mental, e com os óleos essenciais não é diferente. “Eles são uma forma de cuidado natural. Trabalham cada pessoa como um todo, considerando o emocional e as condições físicas e o equilíbrio entre tudo isso. Sua aplicação vai desde problemas respiratórios a questões de humor, procrastinação, depressão, ansiedade e insônia”, exemplifica a empresária, aromaterapeuta e pós-graduanda em naturopatia Romana Raslan. 
 

A empresária é proprietária da loja Alma Phyto, que funciona há dois meses na Savassi, em Belo Horizonte. Ela conta que tem observado uma maior procura pelos óleos essenciais, assim como por produtos de cuidados naturais. "Principalmente depois da pandemia. Os óleos essenciais são procurados, por exemplo, para quem teve perda olfativa após contrair o coronavírus”, aponta.

dermatologista Geisa Costa

A dermatologista Geisa Costa lembra da importância de se fazer um teste antes de usar os óleos, especialmente na pele e nos cabelos

Filipe Nakazato/Divulgação

Concentração 

Romana mudou de carreira depois de se aprofundar nos conhecimentos sobre os benefícios dos cuidados naturais. Migrou da atuação como empresária do ramo de prestação de serviços e ingressou em cursos de aromaterapia, ervas, chás e cosméticos naturais. Ela conta que o diferencial dos óleos essenciais está relacionado à concentração e forma de extração da matéria-prima, ou seja, de onde são extraídas as propriedades fitoquímicas das plantas – na quantidade encontrada in natura são bem mais poderosas.
 

Na loja em BH, ela comercializa produtos de marcas certificadas, que fornecem a cromotografia (como se fosse uma fotografia das propriedades fitoquímicas dos óleos), uma garantia de qualidade dos compostos. A aromaterapia aborda formas diferentes de uso e aplicação dos óleos essenciais. A linha da aromaterapia na Alma Phyto inclui os óleos essenciais puros na sua forma de inalação direta, e se estende ainda pelos blends, como são chamadas as misturas de óleos diferentes, difusores de aromas, bastões que contêm os óleos essenciais e podem ser inalados, colares aromáticos e rollons, dispositivos para aplicar óleos essenciais individuais ou misturas de óleos essenciais topicamente, que geralmente são pré-diluídos em óleo carreador, uma ação necessária para a aplicação segura na pele. “Uma mistura relaxante pode ser a lavanda associada com manjerona ou patchouli, diluída em óleo carreador de semente de uva ou rosa mosqueta”, cita Romana uma das possibilidades entre outras.

A aromaterapeuta reforça, por outro lado, a importância de usar os óleos essenciais com o conhecimento necessário – não fazer nada em casa, sem orientação. “Quando a proporção de diluição e concentração, a forma de extração ou o uso não estão corretos, os óleos essenciais podem ser maléficos, e por isso é preciso ter cautela. Em contato direto com a pele, há chance de queimaduras. Se usado em uma ferida erroneamente pode aumentá-la, na alimentação ocasiona intoxicação ou pode piorar uma gastrite”, alerta.

óleos essenciais

óleos essenciais


Aromaterapia faz parte do SUS

A dermatologista Geisa Costa explica a diferença entre óleo essencial e óleo vegetal. O primeiro é extraído de caules, folhas, raízes, galhos, flores, troncos, sementes e cascas (frutas) e as substâncias encontradas são altamente complexas e concentradas. O segundo é uma gordura extraída de plantas, sementes e grãos. “O óleo vegetal é utilizado para diluir o óleo essencial, uma vez que este não pode ser aplicado diretamente na pele”, esclarece.

Existem óleos com ação cicatrizante e calmante que servem como coadjuvantes em alguns tratamentos, entre eles, a acne, explica a médica. “Outros preservam a umidade da pele e previnem os sinais do envelhecimento, e outros minimizam a seborréia e até ajudam no crescimento dos fios. Podem ser usados para hidratar a fibra capilar, fortalecer as unhas e acalmar a pele”, pontua.

Por outro lado, Geisa fala sobre a importância de fazer um teste antes de utilizá-los, principalmente na pele e nos cabelos. As contraindicações são basicamente para gestantes, crianças e pessoas com hipersensibilidade na pele. “O ideal é sempre ter o respaldo e o acompanhamento do dermatologista.”

A aromaterapia é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um recurso terapêutico e, no Brasil, é uma das técnicas listadas nas Práticas Integrativas e Complementares utilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), auxiliando no tratamento de ansiedade, depressão, insônia, enxaqueca, alergia, entre outras condições - faz parte do cuidado integral de pacientes com transtornos mentais graves em algumas instituições, incluindo centros de reabilitação.

Paula Molari Abdo, farmacêutica pela Universidade de São Paulo (USP)

Segundo Paula Molari Abdo, farmacêutica pela Universidade de São Paulo (USP), diretora técnica da farmácia de manipulação Formularium, especialista em Atenção Farmacêutica pela USP e membro da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais(ANFARMAG), os óleos podem ser utilizados pela aplicação na pele, através do uso de aromatizadores e de difusores ou pela aspiração do seu cheiro

Divulgação

Segundo Paula Molari Abdo, farmacêutica pela Universidade de São Paulo (USP), diretora técnica da farmácia de manipulação Formularium, especialista em Atenção Farmacêutica pela USP e membro da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais(ANFARMAG), os óleos podem ser utilizados pela aplicação na pele, através do uso de aromatizadores e de difusores ou pela aspiração do seu cheiro.

“Quando inalados, o olfato reconhece as moléculas dos óleos essenciais através de seus receptores, provocando alterações emocionais e fisiológicas associadas ao sistema límbico, região do cérebro responsável por emoções e comportamentos sociais. Vale lembrar que o acompanhamento médico é indispensável, não sendo possível utilizar somente os óleos essenciais para o tratamento de doenças ou sintomas. Contudo, em situações em que não há algo patológico, os óleos essenciais são excelentes alternativas na intervenção dos desequilíbrios emocionais”, orienta Paula, que descreve as propriedades de alguns óleos essenciais:


Óleo de lavanda


Um dos mais usados para desequilíbrios emocionais, o óleo de lavanda pode reduzir os níveis de cortisol, hormônio responsável pelo estresse, beneficiando o sistema nervoso autônomo e aliviando sintomas de ansiedade generalizada, depressão leve, irritabilidade, inquietação e enxaqueca, ensina Paula.

"Um dos seus diferenciais é a alteração química dos neurotransmissores cerebrais, sem causar os comuns efeitos colaterais dos medicamentos sintéticos alopáticos, como a dependência ou síndrome de abstinência", reforça a especialista.

Óleo vetiver

Conhecido como "óleo da tranquilidade", é uma substância antioxidante que auxilia o corpo a eliminar toxinas, combater radicais livres e melhorar a saúde emocional de forma semelhante a alguns remédios prescritos para ansiedade.

O óleo também pode ser benéfico para indivíduos com transtornos do sono relacionados a problemas respiratórios. "Para quem tem apneia do sono, por exemplo, a dica é usar o óleo essencial de vetiver em um difusor durante à noite, com o objetivo de melhorar sua função respiratória", aconselha Paula.

Além disso, o óleo vetiver melhora a atenção em pessoas com dificuldade para se concentrar em uma determinada atividade ou permanecer alerta ao que está acontecendo ao seu redor. Não à toa, Paula lembra que foi incluído em tratamentos de déficit de atenção e hiperatividade para adultos e crianças.

Óleo ylang ylang

Paula cita o estudo Aromatherapy with ylang ylang for Anxiety and self-esteem, que constata que, ao ser aplicado na pele ou inalado, o óleo essencial ylang ylang diminui os níveis de cortisol e, consequentemente, as respostas ao estresse, e reduz significativamente as taxas de pressão arterial sistólica e diastólica, bem como a frequência cardíaca.

Conhecido por ser um óleo afrodisíaco, o ylang ylang ajuda a despertar a libido e resgatar a autoestima. "Também é antidepressivo, calmante, analgésico, estimulante do sistema circulatório, sedativo e rejuvenescedor da pele e do cabelo, além de diminuir os sintomas da tensão pré-menstrual (TPM)", diz Paula.

Óleo de camomila romana

Paula menciona outra pesquisa, publicada na revista de medicina alternativa Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, que mostra que a camomila romana reduz a ansiedade em pacientes na UTI de forma mais eficaz do que os métodos tradicionais. O mesmo estudo apontou que ela tem propriedades para acalmar uma “mente hiperativa”.

"O óleo de camomila romana atua como um impulsionador natural do humor que ajuda a reduzir os sintomas de depressão, ansiedade, tensão, irritação e apatia. Também tem função hipnótica semelhante à dos benzodiazepínicos, auxiliando pessoas com insônia crônica", aponta Paula.

Óleo de laranja doce

O óleo essencial de laranja doce possui propriedades desintoxicantes, antidepressivas, anti-inflamatórias, sedativas, antiespasmódicas, diuréticas e afrodisíacas. No estudo The Effect of Aromatherapy by Essential Oil of Orange on Anxiety During Labor, publicado no National Center for Biotechnology, também citado por Paula, as mulheres em trabalho de parto relataram menos ansiedade após a inalação do óleo essencial de laranja do que as mulheres do grupo de controle que inalaram água destilada. Outro estudo concluiu que inalar o óleo essencial de laranja auxilia em casos de depressão e tem potencial de combate ao transtorno.

Óleo de olíbano


O olíbano é tido como protagonista da aromaterapia moderna, por ser um dos óleos mais completos, explica Paula. Além da eficácia para fins cosméticos, ele é um antioxidante muito utilizado para o tratamento coadjuvante de várias doenças, especialmente as inflamatórias e crônicas. Isso porque o óleo estimula a circulação sanguínea, gerando ação analgésica, alívio de dores e redução de inflamações.
 
O mirceno, presente em sua formulação, atua como um ansiolítico. Já o β-pineno e limoneno agem como antidepressivo. "Um estudo do departamento de enfermagem da Universidade Keimyung, na Coreia do Sul, mostrou que, quando usado em massagens, o olíbano reduz ansiedade e depressão. Além disso, é um aliado aos praticantes de meditação, já que o olíbano ajuda a silenciar a mente", pontua a profissional.