A dentista e consultora em bem-estar Micheline Lacerda Lopes Fonseca, de 47 anos, se declara uma apaixonada pelos óleos essenciais. Ela diz que sempre gostou do universo de produtos e soluções naturais e, no exercício da odontologia, ficava clara a conexão entre os problemas dentais enfrentados pelos pacientes e suas emoções. “Nada é aleatório no corpo. Se o dente dói, tem alguma coisa errada. Vou buscar o que está em desequilíbrio na vida da pessoa como um todo”, aponta.





Micheline é mãe de Beatriz, de 13 anos, e Cecília, de 7. A gravidez da caçula foi de risco e a pequena nasceu com fragilidade no sistema gastrointestinal, tinha intolerância ao leite materno, refluxo e cólicas horríveis. “No primeiro ano de vida dela, dormia no máximo 40 minutos e passava a noite chorando. Eu não dormia”, relata. Com a privação do sono, Micheline teve um quadro de depressão, precisou de acompanhamento com psiquiatra e tomou 
antidepressivos.

 
Foi então em um evento na igreja que, durante uma palestra sobre bem-estar e cuidados com os filhos, ela tomou conhecimento dos óleos essenciais. Ainda não era tempo de pandemia, e muito se falava sobre os perigos da dengue. Em uma verdadeira transformação, Micheline procurou os óleos e passou a usá-los em Beatriz como repelente e em Cecília, além de servir para afastar mosquitos, também para melhorar a questão do sono e dos transtornos gastrointestinais. Ela própria usou o produto e logo melhorou o quadro depressivo, abandonando os medicamentos.
 
 

Hoje, Micheline mantém uma “farmacinha” em casa com 12 variedades de óleos essenciais. O uso é diário, para ela e as filhas. Os produtos servem para melhorar a imunidade, a parte respiratória, a digestiva, ansiedade, pele, o emocional, sono, problemas inflamatórios, dores em geral, e até amenizar as birras das crianças.





“Minhas filhas não pegam mais viroses como costumavam. E quando pegam, o óleo essencial resolve logo o problema. Aplico assim que aparecem os primeiros sintomas sem que eu tenha que recorrer a remédios convencionais. Não sou contra os remédios normais, ainda bem que existem, mas o que me incomoda é o uso excessivo”, diz.

Agora, Micheline deixou o trabalho no consultório para se tornar representante da doTerra, empresa norte-americana de óleos essenciais. Para ela, a experiência com os produtos é incrível. “É o poder de Deus encontrado na natureza. Costumo dizer que minha vida é dividida entre antes e depois dos óleos essenciais.”     

Perfume

(foto: Arquivo pessoal)
A empreendedora Natália Cruz, de 37 anos, conheceu os óleos essenciais em 2018, em uma viagem para a Bahia. Lá, sentiu pela primeira vez o aroma da almescla (também conhecida como breu), uma planta típica da região. Ela conta que se encantou com o aroma que, desde então, se tornou seu perfume. Natália tem formação em aromaterapia, e direciona esses conhecimentos para desenvolver fitocosméticos, que são produzidos com óleos vegetais e essenciais, e extratos de plantas.

Além de utilizar os óleos nos cosméticos para criar aromas únicos e naturais que não causam alergias, a empreendedora também aplica os compostos para potencializar as formulações voltadas para tratamentos de pele (acne, manchas, dermatite, picadas de insetos, psoríase, entre outros) e cabelos (oleosidade, caspa, seborreia, queda capilar), já que muitos desses óleos essenciais contêm substâncias químicas que auxiliam nesses casos. Natália atualmente ensina outras pessoas a desenvolver esses produtos naturais em casa, utilizando ativos naturais e de origem vegetal.





“Desde que conheci os óleos essenciais, nunca mais utilizei medicamentos. Uso por inalação, quando tenho algum problema respiratório, dor de cabeça ou enjoo. Também diluídos em óleo vegetal, para massagem, quando tenho cólica ou dores, ou em pomadas, para tratar problemas de pele”, relata. Natália explica que o grande diferencial dos óleos essenciais são os ingredientes naturais de origem vegetal com maior concentração de ativos. Além disso, eles continuam atuando a longo prazo no organismo e são biocompatíveis com a pele e cabelos.

Lembranças


Os aromas podem provocar respostas mentais, físicas e emocionais quando usados regularmente, diz o terapeuta thai e reikiano Marcos Ferrari. "Ao inalarmos um aroma, uma informação desse odor é transmitida ao bulbo olfativo. Essa mensagem é enviada à amígdala, órgão ligado às emoções aprendidas, fazendo com que o cérebro produza uma reação de acordo com as memórias que se tem de cada aroma", acrescenta. Isso explica por que cada cheiro está intimamente ligado a lembranças.

Mais que levar a diferentes sensações e memórias, cada óleo contém partículas que fazem bem ao organismo de maneiras diferentes. "O óleo essencial ajuda a própria planta a se desenvolver em seu ambiente. Ao entendermos como isso acontece, podemos usá-los de acordo com a necessidade de cada um", aponta Marcos.





Ele fala sobre a árvore melaleuca alternifolia, por exemplo, que cresce em regiões pantanosas, com o clima quente e úmido. "Essas condições são próprias para a proliferação de mofo, fungos e bactérias. Assim sendo, essa árvore deve ter um sistema imunológico interno forte para sobreviver e se desenvolver. A análise dos compostos aromáticos dessa árvore revelou que são naturalmente antissépticos, antibacterianos e antifúngicos. Ou seja, podemos utilizar o óleo essencial de melaleuca para fortalecer nossa proteção contra micróbios."

Leia mais: Óleos essenciais promovem bem-estar físico, emocional e espiritual
 
Apesar de estar em alta atualmente, a aromaterapia é um saber milenar, complementa Marcos. Sua aplicação como tratamento médico e estético não é de agora. Segundo o especialista, há registros de que os egípcios já usavam óleos essenciais tanto na prática médica quanto na beleza e na preparação de comida. Os romanos usavam-nos para promover a saúde e higiene pessoal, enquanto os gregos utilizavam em massagens.

Data de 1937 a redescoberta dessas propriedades por um químico francês que recorreu a um óleo puro de lavanda para tratar uma queimadura na mão. "Pesquisas científicas validam os inúmeros benefícios à saúde dos óleos essenciais. Eles favorecem o bem-estar físico, mental e emocional e são reconhecidos no mundo todo. É uma prática que ajuda a melhorar a disposição, o humor e a criatividade, pode agir no alívio de tensões e melhora da qualidade do sono, além de rejuvenescer a pele, limpar os ambientes e dar sabor às comidas", complementa o terapeuta.



"farmacinha" de óleos essenciais

Como usar os óleos essenciais

Os óleos essenciais podem ser usados de três modos: aromático, tópico e interno. Veja as diferenças:

• Aromático: inalação direta, ou seja, passar o óleo essencial nas mãos e inspirar. Também pode ser realizado por meio de difusores, que são dispositivos que vaporizam o óleo essencial no ambiente.

• Tópico: os óleos essenciais são facilmente absorvidos pela pele e entram na corrente sanguínea. Podem ser usados diretamente no corpo ou, no caso de massagens, podem ser misturados a um óleo base, como o óleo de semente de uva ou de coco fracionado, para melhorar o deslizamento dos movimentos. Esses óleos também têm propriedades terapêuticas que são potencializadas ao combiná-los com os óleos essenciais. Há que se ter o cuidado com os óleos essenciais cítricos: evite exposição ao sol logo após a aplicação.

• Interno: podem ser consumidas pequenas quantidades de óleos essenciais na água, chás ou na comida. No entanto, atenção à procedência. Use somente os que têm qualidade comprovada. Além disso, é necessário cuidado quanto a quantidade, pois o óleo essencial está concentrado. Por exemplo, uma gota equivale a 27 xícaras de chá.





Fonte: Marcos Ferrari, terapeuta thai e reikiano

Como são classificados?

Existem várias formas de catalogar os óleos essenciais, e são inúmeros no mercado. Podem ser divididos a partir do método aplicado para obtê-los usado em sua obtenção: destilação a vapor, prensagem a frio, hidrodestilação, enfleurage, extração por solventes ou por fluidos supercríticos. Podem ainda ser organizados pela parte da planta que deu origem ao composto: flores, folhas, raízes, cascas, frutos, sementes. E existe também a classificação dos óleos essenciais baseada em suas características aromáticas e sensoriais, que incluem categorias como óleos essenciais cítricos, florais, por exemplo.

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