O jornal The Lancet lançou, neste mês, um estudo global apontando que a dor na região lombar afetou 619 milhões de pessoas no mundo, em 2020. A projeção é ainda mais assustadora, com estimativas de que, até 2050, haverá 843 milhões de casos prevalentes.
O crescimento alarmante desses números é atribuído a fatores como o aumento do trabalho remoto e o estresse decorrente do período de isolamento social, que atingiu seu ápice no ano de referência da pesquisa. Essa tendência de crescimento é esperada, infelizmente, para persistir no futuro próximo.
Segundo Daniel Oliveira, ortopedista especializado em coluna vertebral e diretor do NOT - Núcleo de Ortopedia e Traumatologia de Belo Horizonte, foram vários os fatores que causaram esse boom de dor nas costas nesse período.
"As pessoas foram obrigadas a se transferir para dentro de casa, no trabalho remoto, onde adaptaram seus espaços de forma improvisada e, muitas vezes, sem ergonomia. Somado a isso, os horários, que antes eram realizados em período comercial, intensificaram-se colocando ainda mais prejuízos à saúde da coluna, por ficar mais tempo em uma mesma posição considerada errada."
Além disso, Daniel pondera sobre o fato de grande parte da população ter tido episódios de ansiedade, que também gera incômodos na região lombar e o fato de, durante o período em que as pessoas ficaram restritas às suas casas, muitas terem tido de reduzir drasticamente as atividades físicas diárias, já que as academias e espaços públicos tiveram de ser fechados.
"Isso resultou, inclusive, em um aumento do sobrepeso da população e, consequentemente, da carga na lombar. E para fechar com chave de ouro, para piorar ainda mais a situação, além da falta de ergonomia para trabalhar, o uso dos smartphones e eletrônicos teve um crescimento absurdo e, infelizmente, por conta do abuso no uso desses aparelhos e, principalmente, devido à falta de cuidado com relação à posição na qual mexemos com tais dispositivos, acarretou também sobrecarga tanto da coluna quanto dos músculos das costas e pescoço."
O Estudo Global de Carga de Doenças, Lesões e Fatores de Risco (GBD) quantifica sistematicamente a perda de saúde devido a doenças e lesões por idade, sexo, ano e localização geográfica, e permite a comparação da carga entre doenças diferentes.
Segundo o The Lancet, estimativas anteriores de dor lombar confirmaram que a lombalgia é a principal causa de incapacidade na maioria dos países.
E, de acordo com eles, espera-se que tanto a carga total de incapacidade quanto os custos relacionados à doença aumentem ainda mais nas próximas décadas.
O estudo aponta que, apesar dos esforços globais para fornecer orientações baseadas em evidências para o tratamento e prevenção da dor lombar, ainda há um alto uso inadequado de práticas ineficazes, como o uso excessivo de imagens diagnósticas, repouso prescrito, opioides e procedimentos invasivos. Essas abordagens inapropriadas podem atrasar a recuperação e aumentar ainda mais o risco de incapacidade a longo prazo, ampliando assim o impacto global da condição.
No relatório atual, foram apresentadas estimativas globais, regionais e nacionais da prevalência e anos vividos com incapacidade de dor lombar na população em geral. O estudo abrange um período de 1990 a 2020 e inclui projeções para 2030 a 2050. Além disso, destacou-se a contribuição de fatores ocupacionais, tabagismo e índice de massa corporal elevado para a prevalência e carga da dor lombar.
De acordo com eles, essas informações fornecem uma visão abrangente do problema da dor nas costas em escala global, ajudando a direcionar políticas e práticas mais eficazes no tratamento e prevenção dessa condição.
A dor na região lombar continua a ser a principal responsável pela incapacidade em todo o mundo, e dois quintos dessa carga pode ser atribuída a fatores de risco que podem ser modificados.
A ONU designou a década de 2020-2030 como a "Década do Envelhecimento Saudável", o que proporciona uma base sólida para fortalecer as iniciativas de saúde em níveis nacional, regional e global, a fim de reduzir a carga da dor lombar. Isso inclui campanhas de conscientização pública e recomendações para manter um estilo de vida ativo.
Sign in with Google
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Estado de Minas.
Leia 0 comentários
*Para comentar, faça seu login ou assine