O atleta paralímpico Gledson da Paixão Barros e a advogada Simone de Paula Rocha têm deficiência visual e superam as adversidades com apoio mútuo e criatividade

O atleta paralímpico Gledson da Paixão Barros e a advogada Simone de Paula Rocha têm deficiência visual e superam as adversidades com apoio mútuo e criatividade

Arquivo pessoal

 

Às vésperas do Dia dos Namorados, comemorado neste domingo (12), amor é o que não falta quando falamos de pombinhos apaixonados. O termo “amor” – de origem antiga e complexa –  tem sua definição e interpretação variada em diferentes culturas. A expressão, que deriva do latim, tem por sua vez origem na raiz indo-europeia, significando o equivalente a “desejo”. 

Em se tratando de desejo, casais apaixonados não poupam energia e dedicação para agradar o parceiro nesta data tão especial que foge da rotina. Com as mais variadas formas de ser expressado e levando em conta que consideramos justa toda forma de amor, o Bem Viver buscou destacar as inspiradoras histórias de casais com deficiência, que enfrentam desafios e fortalecem vínculos amorosos em meio às particularidades da vida com essa condição. 

A vida de um casal já é um equilíbrio delicado, mas quando ambos os parceiros enfrentam obstáculos físicos ou sensoriais, a rotina diária pode ser ainda mais desafiadora. No entanto, o amor verdadeiro supera barreiras e permite que esses casais cultivem uma relação forte, resiliente e cheia de cumplicidade.

Alguns casais de Belo Horizonte compartilharam suas experiências e mostraram como superam adversidades cotidianas com amor, apoio mútuo e criatividade. Cada casal tem sua própria história e enfrenta desafios únicos, mas todos eles nos ensinam valiosas lições sobre resiliência e amor incondicional.

A advogada Simone de Paula Rocha, de 42 anos, e o atleta paralímpico Gledson da Paixão Barros, de 32, têm deficiência visual total, e vivem uma história de amor em meio à rotina agitada e cheia de desafios. Logo no início, o primeiro contato dos dois foi via whatsapp, já que em plena pandemia Gledson ainda residia em São Paulo. Hoje, a dupla mora junto em BH e supera dificuldades diárias como todo casal. A rotina agitada do atleta distancia os dois fisicamente, mas não abala o relacionamento, já que o casal busca sempre se reinventar e aproveitar os momentos juntos.

 
“A gente ainda está se adaptando, moramos juntos há seis meses. Eu trabalho em home office e ele é atleta de um clube na Paraíba, então viaja muito, busca visitar o filho, que mora em São Paulo, de 15 em 15 dias e participa de campeonatos e competições. Porém, gostamos bastante de sair e de viajar juntos, sempre que temos oportunidade de nos programarmos”, relata Simone.

Jantares românticos em restaurantes acessíveis, passeios em parques adaptados e até mesmo viagens para destinos que oferecem infraestrutura inclusiva são algumas das opções escolhidas por PCDs para comemorar a data. Para eles, o importante é celebrar o amor e a cumplicidade que os unem.
 

Como nem tudo são flores, apesar dos avanços na inclusão e conscientização sobre a importância da igualdade, infelizmente esses casais ainda enfrentam preconceitos e estigmas sociais. “Lidamos bem com isso, apesar de quem é de fora geralmente tratar a gente até como criança. Eles acham que a gente não pode ter nossa autonomia, que não podemos ficar sozinhos, porque acreditam que não conseguimos fazer nada. Essas questões são recorrentes, principalmente quando as duas pessoas do relacionamento têm deficiência”, diz Simone.

Preconceito

Dados estatísticos comprovam a existência do preconceito e a necessidade de combatê-lo de forma efetiva. Segundo uma pesquisa realizada recentemente pela Organização de Direitos das Pessoas com Deficiência, cerca de 60% de PCDs relatam ter enfrentado discriminação ou preconceito em algum momento de seu relacionamento. 

Além disso, estudos apontam que esses casais têm mais chance de experimentar isolamento social, falta de apoio emocional e dificuldades para encontrar espaços acessíveis e inclusivos. Essa porcentagem alarmante ressalta a importância de promover uma sociedade mais inclusiva, em que todos os casais possam viver e amar livremente, sem serem alvo de preconceito e discriminação.

Apesar das adversidades e dificuldades diárias, a companhia e parceria entre casais promove benefícios interligados diretamente ao corpo físico e mental. Um estudo publicado no Journal of Epidemiology & Community Health revelou que estar em um relacionamento saudável pode reduzir o risco de mortalidade em até 50%. Um relacionamento saudável oferece suporte emocional, encorajamento e compreensão mútua. Ter alguém ao seu lado para compartilhar os altos e baixos da vida gera um senso de segurança e pertencimento. Um parceiro amoroso também promove o crescimento pessoal, incentivando o outro a se tornar a melhor versão de si mesmo. Além disso, ter um relacionamento amoroso saudável contribui para a felicidade e o bem-estar geral, reduzindo o estresse e melhorando a qualidade de vida.

Assim, à medida que o Dia dos Namorados se aproxima, é importante reconhecer e valorizar a diversidade dos relacionamentos amorosos, incluindo aqueles que envolvem pessoas com deficiência. O amor verdadeiro não tem limites e pode florescer de todas as formas e em quaisquer circunstâncias.

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie