Pessoas de faixas etárias mais elevadas e com menor poder aquisitivo estão mais suscetíveis a cegueira ou baixa visão, de acordo com relatório divulgado nesta quinta-feira (15) pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
O documento, intitulado As Condições da Saúde Ocular, faz uma radiografia do segmento no país, tomando como base estimativas mundiais da prevalência de doenças oftalmológicas, somadas a dados demográficos e socioeconômicos do Brasil.
De acordo com o estudo, as principais causas de cegueira ou baixa visão incluem catarata, erros refrativos não corrigidos, glaucoma e degeneração macular relacionada à idade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 2,2 bilhões de pessoas têm algum tipo de deficiência visual – dessas, pelo menos 1 bilhão têm deficiência visual moderada ou grave, ou cegueira que, segundo o conselho, poderia ter sido evitada, ou ainda não foi tratada.
A catarata
A catarata e os erros de refração não corrigidos são as duas principais causas de deficiência visual reversível e representam 75% de todos os tipos de deficiência visual, sobretudo entre grupos etários mais altos.
“Entre os fatores de risco para esses quadros, destaca-se o envelhecimento da população, além de mudanças no estilo de vida e a urbanização. Também influencia esse cenário a falta de acesso a um atendimento oftalmológico de qualidade”, ressaltou o conselho, em nota.
Segundo o oftalmologista Tiago César Pereira Ferreira, especialista em catarata e cirurgia refrativa e professor da Faculdade de Ciências Médicas (MG), o menor acesso à saúde pode prejudicar as pessoas, especialmente nos casos de cegueira que poderiam ser prevenidos.
Essa realidade se reflete em todas as áreas da medicina, inclusive na oftalmologia. "Quando a pessoa tem maior condição de acesso ao atendimento médico, tem condições de fazer os controles preventivos, vai detectar as doenças de maneira precoce, em um momento em que a chance de tratar e ter sucesso é maior. Por outro lado, existem diversos obstáculos enfrentados por grande parcela da população, como a limitação financeira que impede o acesso aos serviços médicos e a dependência de auxílios públicos. Além disso, muitas regiões, especialmente cidades do interior e áreas remotas do país, sofrem com a baixa assistência oftalmológica, o que dificulta ainda mais o tratamento e a prevenção de doenças oculares", comenta Tiago César.
Já em relação à prevalência de cegueira e baixa visão na faixa etária mais avançada, conforme explica Tiago César, "é natural que pessoas em idade mais avançada enfrentam maior incidência de patologias relacionadas ao envelhecimento, como catarata, glaucoma e degeneração macular relacionada à idade. Essas condições podem levar à baixa visão e, em casos extremos, à cegueira".
Diante desse cenário, o oftalmologista enfatiza a importância de manter um acompanhamento médico regular e estar atento à saúde ocular. "Prevenção é fundamental para evitar diversas doenças e garantir que possamos continuar apreciando as maravilhas do mundo por meio da visão."
Nesse sentido, ressalta, é essencial que sejam promovidas políticas públicas de saúde que visem reduzir as desigualdades socioeconômicas e proporcionar um acesso mais igualitário aos serviços médicos. "Somente com medidas efetivas e abrangentes, será possível combater os principais fatores de risco para cegueira e baixa visão, visando uma melhor qualidade de vida e bem-estar visual para todos."
Brasil
O CBO destaca que, assim como a idade, a pobreza também conduz à perpetuação de problemas de saúde, incluindo a saúde ocular. A estimativa é que o país tenha 1,5 milhão de pessoas cegas, sendo 948,1 mil em grupos economicamente vulneráveis; 857 mil na chamada classe média; e 174 mil entre os com maior poder aquisitivo.
“Além de ser mais recorrente em pessoas de menor renda, a deficiência visual também causa maior impacto nessa parcela da população que, com a chegada do problema ocular, sofre as consequências de produtividade e as dificuldades de acesso às fases de reabilitação e de educação dos cegos.”
De acordo com o relatório, os efeitos econômicos da deficiência visual podem ser divididos em dois tipos: custos diretos gerados pelo tratamento das doenças oculares, incluindo serviços médicos, produtos farmacêuticos, pesquisa e administração; e custos indiretos relacionados à perda de ganhos e os gastos com recursos visuais, equipamentos, reformas em moradias, reabilitação, perda de receita fiscal, além da percepção de dor, sofrimento e morte prematura resultantes do problema visual.
“Para se ter uma ideia da dimensão dos números, em 2012, os custos globais diretos com a cegueira foram estimados em U$ 25 bilhões, o que pode ser, no mínimo, multiplicado por dois, quando levamos em conta os custos indiretos”, avaliou a entidade.
Prevenção
Entre as estratégias apontadas pelo documento para reverter esse cenário está o conhecimento real sobre a incidência e prevalência de dados sobre a saúde ocular, algo classificado como “fundamental” para definição e planejamento de políticas públicas específicas.
Outro ponto considerado importante é conhecer o número de médicos oftalmologistas disponíveis para coordenar ações de prevenção, diagnóstico e tratamento de problemas oculares. “De posse dessa informação, a gestão pode desenvolver planos de ação com a disponibilidade de força de trabalho especializada, identificando possíveis lacunas no atendimento e possibilitando o ajuste dos planos de recursos humanos”.
O relatório aponta ainda a necessidade de ampliar o acesso a serviços oftalmológicos e monitorar o volume de procedimentos feitos. Segundo os especialistas, ao estabelecer metas e acompanhar indicadores, é possível traçar estratégias mais precisas para combater a deficiência visual e garantir o acesso igualitário a serviços oftalmológicos de qualidade em todo o mundo.
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