Corpos nus no carnaval. Praias frequentadas por pessoas com biquínis minúsculos. Roupas curtas, justas e decotadas pelas ruas. Sensualidade à flor da pele. Pele à mostra. Cantadas, galanteios, olhares e mais olhares. Cenas do imaginário do dia a dia do Brasil que “vendem” a ideia de uma sociedade sexy, que gosta de sexo, liberal, que fala e vive a sexualidade sem grandes tabus, medos ou entraves. Será mesmo? Se entre quatro paredes vale tudo o que é combinado, dados de várias pesquisas e estudos apontam o contrário: o Brasil ainda é um país conservador quando o assunto é sexo.
Em um recente levantamento - a pesquisa “Sexo sem tabus”, de 2023 -, a MindMiners, empresa de tecnologia especializada em pesquisa digital, com 2 mil respondentes, constatou que pelo menos 50% dos brasileiros acreditam que o Brasil é um país conservador ao se tratar de sexo. O tema é cheio de dúvidas e ainda carrega preconceitos e estereótipos. Chega ao ponto de ser um assunto proibido, reprimido e visto com pudor em várias esferas da sociedade.
De acordo com a pesquisa, além do estágio de vida em que as pessoas estão, outras características influenciam no modo como a sexualidade é vivida: o gênero, o quanto a família é liberal ou conservadora, se houve acesso ou não a uma educação sexual efetiva, entre outros aspectos. O estudo considerou o recorte geracional e regional, trazendo pontos como “Vida sexual: comportamentos e opiniões”, “Explorando desejos e necessidades”, “Sexo Seguro”, “Pais & Filhos: vencendo tabus”, entre outras abordagens.
Para a coordenadora de insights da MindMiners, Juliana Tranjan, a sexualidade humana é um tema que merece destaque. “O segmento de saúde e bem-estar sexual tem crescido nas últimas décadas, seja nos valores envolvidos, seja na quantidade de produtos lançados. Vemos cada vez mais empresas criando coragem para tornar a sexualidade um tabu distante, não apenas com os inúmeros métodos contraceptivos, mas com lançamentos de sex toys de todos os tipos e diferentes produtos de ‘sexcare’.”
Vergonha, medo e culpa
Na análise da pesquisa, no passado, os temas sexuais sofriam repressão e eram tratados com desconhecimento, vergonha, medo e culpa. As relações íntimas eram permitidas após o casamento. E, mesmo após o matrimônio, havia pouca liberdade entre o casal para descobertas, experiências e prazeres. Hoje, expõe o estudo, pensamentos como esses são considerados antiquados, atrasados, ultrapassados. Pessoas podem ter vidas sexuais ativas independentemente do seu status de relacionamento, isto é, encontros casuais são vistos como algo normal, vive-se o poliamor, as relações abertas. Mas, mesmo assim, o assunto continua sendo um tabu para muitos brasileiros.
No entanto, pela pesquisa, pode-se dizer que a prática sexual começa na adolescência e, por isso, é fundamental discutir e falar sobre sexualidade, saúde reprodutiva e prevenção de doenças, as chamadas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Inclusive, para 74% falar sobre sexo é uma questão de segurança e mais da metade das pessoas sente que a saúde mental impacta diretamente o desejo sexual delas: “Número expressivo. Observamos que, entre uma lista de condições, a ansiedade, o estresse e a depressão são as que mais se destacam. Não é coincidência que sejam conhecidas como as doenças do século 21”, aponta Juliana Tranjan.
Casar-se virgem
Para T.A.S, advogada, de 34 anos, que não quis se identificar, “apesar de ter consciência da importância do sexo, não apenas como forma carnal e/ou fisiológica, acredito que tem muita relevância na questão emocional, de alma e até mesmo espiritual. Entendo também que o sexo apesar de ser relevante para o casal, não é o mais importante na vida a dois”. Na visão da advogada, “infelizmente, o sexo tem sido banalizado como se fosse um simples beijo, mas não o é, pois no sexo há um troca entre os dois parceiros ali, inclusive, troca dos sentimentos. Portanto, acredito que tem a hora e o tempo certo de acontecer”.
T.A.S revela ainda que não se casou e que é virgem em razão de suas convicções, até mesmo religiosa. “Eu e meu noivo optamos por aguardar o casamento para que o ato seja consumado. Tenho certeza de que a maioria vai achar bizarro e até mesmo antiquado, pensando que estou ultrapassada e fora da realidade. Contudo, não me importo muito com isso, pois tenho minha forma de pensar, sendo que até o presente momento não penso em modificar. Apesar do que expus, até mesmo do meu posicionamento a respeito do sexo, entendo que é um tema que deveria ser mais bem abordado e debatido, especialmente em algumas searas, no intuito de melhor compreensão do seu impacto na vida das pessoas. Eu super apoio o ‘eu escolhi esperar’."
Sem estigmas
Mas há quem não se enquadre nesse conservadorismo todo. Para Marcelo Oliveira, de 36 anos, engenheiro, “sexo para mim é livre, natural e saudável, mas infelizmente a sociedade ainda insiste em torná-lo cheio de tabus, culpa e estigmas”.
Segundo o engenheiro, o sexo pode e deve ser vivido livremente, “tal qual sua natureza, desde que feito com consenso entre as partes e respeito, sempre. Assim ele está presente na minha vida, ora romântico, ora safado, ora casual, ora compromissado, mas com respeito sempre”.
Marcelo destaca que, para ele, sexo é essencial. “O que não significa que, por isso, é feito a todo momento, com quem quer seja e/ou esteja disponível. Costumo dizer que mesmo que feito de forma casual (e não tenho problema nenhum com isso), não precisa ser impessoal.”
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