Um diagnóstico rápido e preciso de doenças aumenta as chances de um tratamento bem-sucedido o mais cedo possível. Buscando agilidade e eficiência nesse processo, cientistas da Harvard Medical School, nos Estados Unidos, desenvolveram uma ferramenta que promete aprimorar a avaliação de tumores por patologistas, fornecendo informações detalhadas sobre cânceres. O estudo, publicado, nesta quinta-feira (22-06), na revista Nature Cancer, apresenta a tecnologia Orion, que combina dados histológicos e moleculares para oferecer uma compreensão mais profunda sobre o tipo de tumor, seu comportamento e uma provável resposta ao tratamento.



O artigo descreve a Orion como uma plataforma de imagens digitais que integra informações obtidas por meio da histologia tradicional, ramo da ciência que estuda os tecidos, com detalhes revelados por imagens moleculares em uma amostra de tumor. Com ela, pode-se identificar uma área de interesse na amostra do câncer com base em detalhes moleculares obtidos por imagens de imunofluorescência e, assim, identificar marcadores biológicos da doença. Esses biomarcadores se enquadram em duas categorias: prognóstico, que ajudam a prever quais pacientes se sairão bem ou mal; e preditivo, que indicam quem vai responder a um determinado medicamento.

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Com a Orion, essas e outras questões podem ser analisadas ao mesmo tempo, segundo os criadores. "Essa plataforma oferece a capacidade de pesquisar uma ampla gama de combinações de marcadores que podem ser úteis e selecionar aqueles com o melhor desempenho para uma medida específica. Sentimos que, agora, temos um kit de ferramentas que nos permitirá encontrá-los de maneira relativamente rápida nos tipos de câncer", afirma, em nota, Sandro Santagata, professor associado de patologia da universidade estadunidense.


"Esse estudo é louvável, interessantíssimo, porque, por meio dessa ferramenta, é possível identificar biomarcadores, que são características celulares que nos predizem, por exemplo, se esse paciente vai responder bem, ali na frente, a uma imunoterapia ou se é o contrário", avalia a oncologista Ana Carolina Salles, da Oncoclínicas, em Brasília. A médica enfatiza que, quanto mais se souber sobre a célula cancerígena, maior a eficácia da terapia. "Os avanços nos tratamentos de hoje são muitos. Nós temos muitas drogas com alvo específico, que realmente vão agir em um defeito da célula. Então, aquela célula que tem determinado defeito vai ser tratada."



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Precisão

Nos testes, os pesquisadores usaram Orion em amostras de tumores de 74 pacientes com câncer colorretal. A equipe observou que as informações obtidas pela nova ferramenta permitiram identificar um biomarcador de resultado ou uma combinação específica de recursos que previam em quais voluntários a doença provavelmente progrediria e em quais, não.

Segundo os autores, um biomarcador normalmente determina quantos e quais tipos de células estão presentes em diferentes partes de uma amostra, incluindo as de defesa. No ensaio, Orion identificou um biomarcador baseado na presença de células T marcadas com proteínas específicas, CD4 ou CD45, e células tumorais que continham as proteínas PD-L1 ou SMA. Esses e outros biomarcadores tiveram um desempenho tão bom ou melhor do que um teste clínico chamado Immunoscore, usado por oncologistas para avaliar câncer colorretal.

Apesar de a nova ferramenta estar nos estágios iniciais de desenvolvimento, os criadores afirmam que os resultados obtidos fornecem uma prova inicial de que a plataforma pode ser útil na clínica. Ana Carolina Salles concorda. "A gente fala em oncologia de precisão na identificação de alvos para tratamento. Muitas vezes, esses alvos são esses biomarcadores abordados aqui. Então, ter ferramentas de diagnóstico que facilitem, agilizem, é extremamente interessante porque o tempo é um fator crucial para que os nossos pacientes tenham sucesso."





A equipe planeja melhorar a tecnologia fazendo testes em um número maior de voluntários e investigando as combinações de anticorpos mais úteis. A expectativa é fazer modificações na plataforma para torná-la mais rápida e barata e facilitar a chegada a clínicas e hospitais. "Os patologistas já fazem um grande trabalho com histologia para diagnosticar um paciente e entender a sua doença. Com essa ferramenta para aumentar os seus conhecimentos, eles, basicamente, terão uma 'supervisão' da amostra", comenta, em nota, o principal autor do estudo, Jia-Ren Lin.

O grupo pretende, ainda, testar a Orion em outros tipos de câncer, como o de pulmão e o melanoma. Há expectativas de ir além: investigar condições como doença renal e problemas neurodegenerativos, que também podem se beneficiar de perfis histológicos e moleculares duplos para determinar seu estágio e sua gravidade.

Palavra de especialista: Rapidez nas decisões

A patologia é o padrão ouro do diagnóstico de qualquer câncer. Para determinarmos que um nódulo ou um tumor seja maligno ou não, é necessária uma biópsia, retirar uma amostra da lesão e analisar na patologia. Há pelo menos um século, utilizamos como ferramenta a análise celular no microscópio. Mais recentemente, tecnologias como imuno-histoquímica, imunofluorescência, entre outras, permitiram que, além da análise celular de uma neoplasia, possamos entender suas características moleculares. Essa ferramenta apresentada pelos cientistas de Harvard é inovadora porque, com o mesmo corte de biópsia, eles conseguiram analisar tanto características celulares quanto moleculares de uma só vez. Isso vai facilitar o diagnóstico do câncer, assim como pode gerar mais rapidez nas decisões terapêuticas. Tanto médicos patologistas quanto máquinas de inteligência artificial foram expostas a essa tecnologia e tiveram melhora na velocidade de diagnósticos."

Tatiana Strava Corrêa, oncologista clínica e coordenadora da residência médica de oncologia clínica do Hospital Sírio Libanês, em Brasília.

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