Este mês é conhecido como “Junho Verde" e nesta terça-feira (27) é o Dia Internacional da Escoliose, data que enfatiza uma importante campanha de conscientização da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, que teve início em 2003, com o objetivo de alertar a população sobre a escoliose e o quão relevante é detectá-la precocemente.





A condição, que afeta principalmente crianças e adolescentes, é uma deformidade da coluna vertebral caracterizada pela curvatura lateral anormal. Essa condição pode ser diagnosticada em diferentes faixas etárias, mas é mais comum durante o período de crescimento rápido da criança, entre os 10 e 15 anos.

Foi o caso de Bruna Bazzon, de 33 anos, que descobriu que tinha escoliose com 14 anos. Ela conta que sentia dores na coluna, alguns incômodos, mas o principal sinal de que algo não estava normal foi quando a família percebeu que a postura dela estava torta. “Nessa época, já estava em estágio avançado, com cerca de 42 graus de curvatura. A partir de então, começamos a buscar mais informação médica para saber por onde começar e qual seria o tratamento.”
 
 

A princípio, Bruna consultou um ortopedista, mas ele não era especialista na área. Depois, foi a um fisioterapeuta, e fez várias sessões de reeducação postural global (RPG). Esse mesmo profissional indicou um médico que trabalhava com coletes na época, em São Paulo, para examiná-la.



Além dele, um outro médico, por meio de exames de radiografia de coluna, disse que sua faixa de crescimento já havia estacionado e que, por isso, muito provavelmente, o colete não faria efeito. “Como tivemos duas opiniões opostas e um deles insistiu bastante com relação ao colete, nós decidimos usá-lo, o que, para mim, foi muito difícil, pois era adolescente e tinha de colocá-lo para ir à aula, junto com meus colegas. Foi então que minha mãe optou por me levar também ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, da USP.”

Bruna conta que lá, com médicos especializados em cirurgia de correção da escoliose, eles avaliaram o caso dela e constataram a necessidade de intervenção cirúrgica, já que existia chance de a escoliose progredir.
 
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Como o especialista citou os riscos da cirurgia naquela época e que, caso encostasse  na medula ela poderia ficar paraplégica, a família decidiu por não operar. “A orientação foi que eu fizesse natação, pilates e RPG. O tempo passou, fiz sessões de fisioterapia, passei por duas gestações e só depois que minha segunda menina nasceu é que voltei para a academia. Como queria fazer um acompanhamento do antes e depois, por ter ganhado muito peso, optei por tirar fotos. Foi então que assustei.”





Bruna estava bem mais torta. Por coincidência, durante a pandemia, a autônoma contratou uma professora particular para estudar em casa com um de seus filhos, e ela havia operado a coluna. “Começamos a conversar e, por ter passado muito tempo desde o diagnóstico e pela certeza de que eu estava muito torta, decidi consultar um especialista no assunto. A minha percepção não estava errada. Ao ver a radiografia, o especialista disse que eu estava com 60 graus de escoliose, praticamente um grau por ano. Apesar da evolução lenta, ela não estagnou e a única solução seria a cirurgia.”

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


SUCESSO 

Hoje, operada há um ano e sete meses e com 22 parafusos e duas hastes na coluna, Bruna conta que, apesar do pós-operatório doloroso, a cirurgia foi um sucesso. Com muito mais qualidade de vida, ela pode fazer academia, praticar esportes e ter uma vida normal.

A pedagoga Jessica Scarleth Santos Silva, de 27, é outro exemplo. Descobriu o desvio nas costas aos 12 anos, com apoio do pai. Ela conta que não sentia dor, mas seu maior incômodo era para sentar, por parecer que o osso não encaixava nas cadeiras e assentos.





Para tratar a escoliose, ela conta que buscaram um médico de sua cidade, no Sul de Minas.

“Ele nos disse que nessa idade era normal entortar por causa das mochilas pesadas. Meu pai resolveu buscar uma opinião de um especialista. Viemos, em 2009, para Belo Horizonte consultar um ortopedista especializado em coluna vertebral.”

O primeiro tratamento foi o colete, mas Jessica também fez RPG, natação e Pilates, como alternativas para tentar estagnar o grau de curvatura da coluna. “Parei de usar o colete por alguns anos (rebeldia de adolescente), mas percebi que minha respiração ficou mais curta e comecei a ter dores muito recorrentes nas costas. Em 2018, busquei ajuda do mesmo médico e ele me indicou a cirurgia, pois o grau da curvatura da região torácica e lombar havia aumentado muito.”

A cirurgia, segundo Jessica, não foi fácil e, apesar de ter sido um momento muito delicado, confiou  em seu médico. “Era uma cirurgia longa, difícil tanto para mim quanto para os meus familiares, afinal estávamos a 4 horas de distância de nossa cidade.” Hoje, ela está bem e relata nem lembrar que já fez a cirurgia.





Sinais de alerta


Segundo Daniel Oliveira, ortopedista especializado em coluna vertebral e diretor do NOT – Núcleo de Ortopedia e Traumatologia de Belo Horizonte –, os sintomas do desvio podem variar, mas é importante estar atento a alguns sinais de alerta. “Entre os mais comuns, assimetria da cintura, ombros desiguais, inclinação pélvica e desalinhamento da cabeça em relação ao corpo. Além disso, dores nas costas e fadiga muscular podem ser indícios dessa condição."

O tratamento depende de diversos fatores, como a idade do paciente, o grau de curvatura da coluna e o risco de progressão da deformidade. “A detecção precoce desempenha um papel fundamental na eficácia do tratamento, possibilitando intervenções terapêuticas mais simples e conservadoras, tais como fisioterapia, exercícios específicos e o uso de coletes para controlar e corrigir a curva da coluna, evitando e reduzindo a necessidade de tratamentos mais invasivos, como a cirurgia”, comenta. “Ela acontece quando a gravidade da curvatura não pode ser corrigida com outros tratamentos e seu objetivo é, além de conseguir algum grau de correção, evitar que aconteça uma progressão ainda maior da curva.

O diagnóstico da escoliose deve ser realizado por um médico especializado. “Inicialmente, é feita uma avaliação clínica, que inclui histórico médico detalhado, análise dos sintomas relatados pelo paciente, além de exame físico minucioso, em que é observada a postura do paciente, assimetrias, inclinações ou desalinhamentos evidentes da coluna vertebral. Para confirmar o diagnóstico e avaliar a magnitude da curvatura, são utilizados exames de imagem, sendo o principal deles a radiografia da região.”

A informação é importante. O quanto antes se descobre essa condição, mais se permite que o tratamento aconteça nas fases iniciais do problema, minimizando dores e limitações decorrentes do diagnóstico tardio e proporcionando mais qualidade de vida aos pacientes.

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