O aspartame, um dos adoçantes artificiais mais consumidos globalmente, pode ser reconhecido como um potencial agente cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta determinação, que foi finalizada no início de junho após uma reunião com especialistas independentes, busca avaliar possíveis riscos, levando em consideração todas as publicações científicas disponíveis, sem considerar a dose segura para ingestão.
O aspartame é um ingrediente comum em produtos como bebidas dietéticas. Segundo algumas pesquisas, até 95% das bebidas gaseificadas sem álcool adoçadas usam o aspartame. Essa será a primeira vez que o adoçante receberá essa categorização da Iarc.
A Iarc também sofreu críticas por suas avaliações, que foram consideradas confusas para o público geral. O Comitê Misto FAO/OMS de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA) também está reconsiderando o uso do aspartame. A reunião do comitê ocorreu no final de junho, e o resultado deve ser divulgado no mesmo dia da declaração da Iarc, marcada para 14 de julho.
Desde 1981, o JECFA afirma que o consumo de aspartame é seguro dentro dos limites diários estabelecidos. Por exemplo, um adulto de 60 quilos teria que consumir entre 12 e 36 latas de refrigerante diet diariamente para estar em risco, dependendo da quantidade da substância na bebida.
Essa orientação do comitê é apoiada por órgãos regulatórios na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, a indústria e os reguladores expressam preocupação de que a condução de duas avaliações simultâneas possa gerar confusão, conforme cartas de reguladores dos EUA e do Japão.
As decisões da Iarc podem ter um impacto significativo. Em 2015, a agência concluiu que o glifosato é 'provavelmente cancerígeno'. Mesmo após outros órgãos contestarem a avaliação, as empresas ainda sentiram os efeitos da decisão.
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As decisões da agência também enfrentaram críticas por gerar alarmes desnecessários sobre substâncias ou situações difíceis de evitar. Anteriormente, a Iarc categorizou o trabalho noturno e o consumo de carne vermelha como 'provavelmente cancerígenos'. O uso de telefones celulares recebeu a mesma classificação, semelhante à do aspartame.
O aspartame tem sido objeto de estudo por muitos anos. No ano passado, um estudo observacional na França com 100 mil adultos mostrou que aqueles que consumiam grande quantidade de adoçantes artificiais, incluindo o aspartame, tinham um risco ligeiramente maior de câncer.
Outro estudo do Instituto Ramazzini, na Itália, no início dos anos 2000, relatou que alguns tipos de câncer em camundongos e ratos estavam associados ao aspartame. No entanto, o primeiro estudo não conseguiu provar que o aspartame causou o aumento do risco de câncer.
O uso do aspartame é permitido em todo o mundo por reguladores que revisaram todas as evidências disponíveis. Os principais fabricantes de alimentos e bebidas têm defendido o uso do ingrediente por décadas.
A Iarc disse que avaliou 1,3 mil estudos em sua revisão de junho. Modificações recentes nas receitas da gigante de refrigerantes Pepsico destacam a dificuldade que a indústria enfrenta ao equilibrar as preferências de sabor com as preocupações com a saúde. A empresa retirou o aspartame de suas bebidas em 2015, reintroduziu-o um ano depois e, novamente, parou de usar a substância em 2020.
Listar o aspartame como um possível carcinógeno tem como objetivo motivar mais pesquisas, de acordo com fontes próximas à Iarc. Isso pode ajudar agências, consumidores e fabricantes a chegar a conclusões mais definitivas.
No entanto, é provável que também reacenda o debate sobre o papel da agência e a segurança dos adoçantes em geral. No mês passado, a OMS publicou diretrizes aconselhando os consumidores a não usar adoçantes sem açúcar para controle de peso.
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