A inulina, uma fibra solúvel comum em alimentos como a raiz da chicória, está ganhando destaque na ciência por seus benefícios à saúde, especialmente na prevenção de doenças como diabetes e câncer. Uma pesquisa recente, financiada pela Fapesp e publicada na revista Microbiome, revelou que essa fibra não só ajuda a manter a saúde do intestino, mas também pode modificar suas características físicas, como o comprimento.
Os pesquisadores do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), liderados por Renan Oliveira Corrêa, com a colaboração de Marco Aurélio Ramirez Vinolo, descobriram que os roedores alimentados com uma dieta contendo 10% de inulina apresentavam um intestino mais longo e uma maior proliferação de células-tronco no epitélio, a camada que separa o conteúdo intestinal dos outros órgãos. Esses benefícios, no entanto, só são possíveis na presença de bactérias que digerem a fibra, resultando em melhorias na imunidade.
A análise do RNA do epitélio intestinal dos camundongos revelou que a dieta rica em inulina resultou em uma maior expressão de genes ligados à replicação e reparo do DNA, bem como ao ciclo celular. Ao mesmo tempo, os genes associados ao metabolismo de lipídios e ácidos graxos foram menos expressos, um efeito que vai ao encontro de pesquisas anteriores que sugerem que a inulina pode ajudar a reduzir os níveis de lipídios circulantes e a esteatose hepática, que é o excesso de gordura no fígado.
A dieta rica em inulina também aumentou a expressão de genes associados à diferenciação de células epiteliais, um processo crucial para o crescimento do órgão e a substituição de células mortas. Isso foi evidenciado pelo aumento do número de células produtoras de mucina, que formam o muco que protege o intestino humano das bactérias contidas em seu interior.
Mudança significativa na comunidade bacteriana
A equipe de pesquisa ainda observou uma mudança significativa na comunidade bacteriana dos animais alimentados com inulina. Para confirmar se essas mudanças eram fundamentais para os efeitos da fibra no epitélio, os pesquisadores realizaram experimentos com outros dois grupos de camundongos. Um grupo tomou um antibiótico para reduzir a microbiota intestinal antes de receber a inulina, enquanto o outro grupo era composto de animais sem microrganismos em seus corpos, conhecidos como germ free. Ambos os grupos não apresentaram as mudanças moleculares observadas no grupo que recebeu a fibra solúvel com uma microbiota normal.
Ao final do estudo, ficou claro que o consumo de inulina estimula a produção da molécula interleucina-22 (IL-22), uma citocina produzida pelo sistema imune e essencial para a saúde do intestino. Em animais que não tinham a capacidade de produzir IL-22, a dieta rica em inulina não induziu os efeitos observados nos outros animais.
Os resultados desta pesquisa fornecem novas evidências sobre a importância das fibras na dieta e podem contribuir para a compreensão de doenças intestinais inflamatórias. Novos estudos são necessários para entender o que cada fibra faz, mas já é possível afirmar que uma dieta balanceada traz benefícios cada vez mais evidentes e envolve uma interação complexa entre componentes da dieta, microbiota e células do nosso organismo.