Questões relacionadas à saúde masculina muitas vezes não são discutidas - é comum que os homens não reconheçam que pode haver um problema, recusando-se a falar sobre os sintomas. A andropausa é um desses assuntos: acontece com eles, assim como a menopausa para as mulheres. A condição acarreta diminuição da testosterona em homens, que geralmente começa a ocorrer a partir dos 30 anos, estimando-se uma perda gradual de 1% da produção a cada ano.
Aos 40 anos, a redução torna-se progressiva e, após os 60, o quadro clínico torna-se mais evidente. Entre as manifestações recorrentes estão: diminuição ou perda da libido, graus variados de disfunção erétil, diminuição dos pelos corporais, perda de massa muscular e óssea, aumento da gordura corporal e ganho de peso, fadiga, irritabilidade e alterações na pele.
De acordo com Leonardo do Nascimento, ortopedista e especialista em performance e longevidade, os homens precisam estar alertas assim que começam os primeiros sintomas. "Aos 30 anos, os homens podem notar uma diminuição nos níveis de testosterona, mas nem todos terão manifestações clínicas da andropausa. Esses sintomas podem ter outros motivos relacionados a maus hábitos, como alcoolismo, sedentarismo, dependência de drogas e consumo de cigarro", explica o médico. Se não forem diagnosticados corretamente, os sintomas podem persistir e surgir por toda a vida. Há casos em que, por falta de tratamento, os homens apresentam quadros depressivos relacionados à perda da libido e dificuldade de ereção.
É possível prevenir a andropausa combatendo a perda gradual dos níveis de testosterona. Segundo Leonardo, hábitos saudáveis podem ser introduzidos desde a infância e devem ser seguidos na adolescência e na vida adulta. “Estimular a prática de atividades físicas, alimentação saudável e evitar o consumo de álcool e cigarro são os pilares na manutenção dos níveis hormonais nos homens”, afirma o especialista. Para adultos com menos de 40 anos, o ideal é a introdução de atividades físicas acompanhadas de orientação médica especializada para prevenir o avanço da andropausa.
Quando a andropausa acontece, a reposição hormonal com testosterona é uma forma de tratá-la, mas deve ser realizada sob cuidados e orientação médica. Os benefícios, após tais tratamentos, para citar alguns, é o melhoramento na capacidade física, densidade óssea, desejo sexual e vitalidade. "Além disso, você pode experimentar o aumento da qualidade da sua pele e cabelo, bem como a capacidade de socialização", aponta Leonardo.
O técnico de enfermagem Rivanildo Simplício da Silva tem 53 anos. Há dois, começou a se sentir cansado, com fadiga recorrente, sonolência, baixa da libido e do apetite sexual, falta de disposição para o trabalho, para ir à academia, paciência curta e irritabilidade, desânimo para realizar as atividades diárias em geral. Ele conta que, até mesmo por ser profissional da área, sempre foi atento à sua saúde e faz acompanhamento regular com urologistas. Mas diz que, na cidade onde mora - Goiana, vizinha de Recife, em Pernambuco - o foco dos médicos vai mais para as questões da próstata e pouco sobre o bem-estar do homem de forma mais abrangente.
Desequilíbrio
"Sempre fui de pesquisar sobre as coisas que preciso. Já tinha ouvido falar sobre reposição hormonal para homens e, procurando na internet, supus que o que estava sentindo podia estar ligado a um desequilíbrio hormonal", relata. Estava certo. Encontrou pelas redes sociais a clínica Omens e, na primeira consulta online com o médico João Brunhara, o especialista lhe pediu exames que acabaram confirmando a condição. "Ficou constatado que o nível de testosterona no meu organismo estava bem abaixo do normal para a minha idade", revela.
O próximo passo foi seguir com a terapia de reposição hormonal. Nos primeiros três meses após o diagnóstico, o tratamento consistiu em injeção intramuscular de testosterona, uma ampola de 1 ml aplicada de 20 em 20 dias. Depois, em mudanças de ciclos, a indicação para Rivanildo foi de medicamentos diferentes, como deposteron, anastrozol e tadalafila. Com o tempo, a evolução foi visível. Melhorou a disposição para realizar exercícios físicos (Rivanildo é adepto de caminhada e musculação), para as atividades rotineiras, ele acorda sem sonolência, menos irritado e a concentração foi favorecida. Pai de uma jovem de 24 anos, Rivanildo também está mais feliz quando o assunto é a vida sexual com a esposa, com quem é casado há 10 anos.
O tratamento segue com as consultas virtuais periódicas na clínica e com a realização de exames de controle a cada três meses. O laudo mais atual apontou que os níveis de testosterona melhoraram a patamares normais e vêm até aumentando. "Com a reposição hormonal parece até que rejuvenesci. Tenho 53 anos, mas me sinto com 30, 40. A qualidade de vida melhorou como um todo", diz, satisfeito.
Embaixador da andropausa
"A reposição hormonal é fundamental para o tratamento da andropausa", comenta o apresentador de televisão e modelo Israel Cassol. Em outubro de 2021, Israel foi notícia após admitir por suas redes sociais que sofria os efeitos da andropausa. À época, tinha acabado de completar 40 anos e relatou que já sentia os efeitos no corpo. Ele conta que nunca havia ouvido falar em andropausa - pensava que as complicações hormonais aconteciam só com as mulheres. "E geralmente, o homem tem vergonha de falar para sua mulher ou parceiro, para amigos e familiares. Ninguém explica que quando você fizer 40 anos vai passar por isso."
Na época da publicação, ele já havia recebido o diagnóstico, que aconteceu em 2019. Quando completou 38 anos, começou a ter sinais de que algo estava estranho. Ele morava em Londres - aos 19 anos, foi morar na Europa para trabalhar como modelo. Passou cinco anos em Milão e outros 15 na capital inglesa. Diante das manifestações de cansaço extremo, perda de força, desânimo, ganho de peso, retenção de líquidos, pele ressecada, disfunção erétil, diminuição dos testículos e falta de desejo sexual, resolveu procurar um endocrinologista. Os exames mostraram que os níveis de testosterona em seu organismo estavam quase zero.
"Fez todo o sentido quando os médicos me disseram sobre a possibilidade de eu estar passando pela andropausa. Também tive tristeza, depressão, mudança de humor, ficava facilmente irritado, brigando. Fazia coisas e não me reconhecia. Quase nenhum homem revela quando constata a andropausa. Quem vai admitir que é brocha?", questiona, sem meias palavras.
A condição acabou até mesmo interferindo na relação de Israel com o marido, com quem está há 12 anos. Ele não tem receio em dizer que se afastou por um tempo do companheiro para procurar novas experiências com outras pessoas, sem perceber que o problema era com ele mesmo e sem explicar para o parceiro o que estava acontecendo. Depois, consciente disso, retomou o casamento, contando com a compreensão do amado. Diante dos sintomas, Israel relata inclusive que pensou em cometer suicídio. "Quando percebi que os sintomas estavam aparecendo, comecei a me sentir muito infeliz. Senti um turbilhão de emoções e a certa altura pensei em me matar. Hoje, vejo como é importante ter um tratamento contínuo", declara.
Tratamento
Tempos depois, Israel voltou a falar sobre o assunto em suas redes sociais, divulgando que fez a reposição hormonal, e como isso ajudou no seu tratamento. "Mas, claro, você precisa conversar com o seu médico antes", pontua. O tratamento começou com a aplicação de um gel, que seguiu pelos três primeiros meses após o diagnóstico. Mas, a princípio, não surtiu o efeito esperado. Passou para injeções de testosterona e, em um segundo momento, pelos implantes hormonais, chamados chips, tratamento considerado como o mais avançado. Com a rápida melhora, Israel conta que encontrou novamente a vitalidade. "Tinha vontade de correr, de ir para a academia, de fazer sexo. Recuperei a saúde vital que ficou perdida por dois anos. O tratamento melhora o corpo físico e a saúde mental", diz.
A história de Israel ficou conhecida por muita gente. Uma jornalista do Daily Mail, um dos mais populares jornais britânicos, escreveu em uma segunda oportunidade sobre sua vivência com a andropausa, tratando Israel como "o embaixador da andropausa". E o relato ganhou o mundo - viralizou no Brasil e na Europa. Israel recebeu inclusive o pedido para uma parceria com o médico Leonardo do Nascimento e uma indústria farmacêutica. Ele é o garoto propaganda da Androcaps, cápsula de suplemento alimentar de testosterona para prevenção da andropausa. O medicamento já está aprovado pela Anvisa e deve chegar ao mercado brasileiro nos próximos meses - a intenção é que, com o tempo, tenha alcance mundial.
Israel deixou a agência de modelos que manteve por um período na Inglaterra e, de volta ao Brasil - hoje mora em Caxias do Sul (RS). Depois de passar por diferentes emissoras, agora investe na carreira de influencer, apresenta o programa de TV Israel Cassol Show, que vai ao ar todas as segundas-feiras, às 22h30, pela ComBrasilTV, e acaba de lançar o podcast Tagarelando.
A situação vivenciada por Israel, Rivanildo e tantos outros reforça a urgência de que o assunto seja discutido com maior conscientização entre os homens. Com a saúde estabelecida e livre de sintomas, a qualidade de vida aumenta, podendo-se viver mais e melhor. Prestes a completar 42 anos, amanhã (3/7), Israel é um propagador de informações sobre o bem-estar masculino e se satisfaz em ajudar outros homens que passam pela mesma experiência.
"Acho que o primeiro passo para quebrar esses tabus é que se fale abertamente sobre isso. E os artistas têm um papel fundamental nesse sentido, diria até mesmo um dever. É importante se abrir, contar sobre os problemas, mostrar as fraquezas. Não somente estar sempre bonito diante das câmeras. Vivi momentos muito difíceis, situações positivas e negativas até chegar onde estou. Sofri e hoje estou muito feliz com meu trabalho, que é um sonho realizado, um presente de Deus. Tenho certeza que saber o que aconteceu comigo ajudou muitos homens."
Palavra de especialista
Flávia Ribeiro, farmacêutica, sócia-fundadora da Quality Farmácia de Manipulação
A TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL (TRH)
“Tema que ainda divide opiniões médicas e enfrenta certa resistência entre os pacientes, a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) atua para melhorar uma série de sintomas desagradáveis que podem surgir no decorrer da vida. O tratamento consiste na restituição de hormônios que apresentam declínio na produção natural pelo organismo com o avançar da idade. Tais como: o estrógeno e a progesterona no caso das mulheres e a testosterona no caso dos homens. Para se ter uma ideia, durante a transição para a menopausa (nas mulheres) e andropausa (nos homens), a produção dessas substâncias pode diminuir em mais de 90%. Algumas das polêmicas que rondam o tratamento estão relacionadas a possíveis efeitos colaterais que a reposição das substâncias pode trazer, como aumento do risco de cânceres, AVC e doença venosa tromboembólica. Contudo, estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a correta condução da restituição pode enfraquecer os sintomas da menopausa e da andropausa, que vão desde disfunção sexual a depressão e ansiedade, além de gerar redução de risco cardiovascular, de fraturas por osteoporose e demência. É fundamental compreender que a TRH não está isenta de riscos. Os hormônios usados ou a não utilização, a dosagem, a forma de administração e o tempo de uso serão determinados por médicos especialistas após avaliação criteriosa que considerará as necessidades individuais de cada paciente.”