Para alguns, engravidar é difícil. Na verdade, de forma mais específica, uma em cada seis pessoas sofre com infertilidade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa condição é causada por inúmeros fatores, desde o envelhecimento, doenças e questões genéticas, além de maus hábitos de vida, segundo o médico especialista em Reprodução Humana e sócio do Mater Lab, Rodrigo Rosa.
Além dos tratamentos de reprodução assistida e toda a orientação médica, agora é possível comemorar um reforço de peso na luta contra a infertilidade: a inteligência artificial (IA). "A inteligência artificial na medicina, e mais especificamente na reprodução humana, tem avançado consideravelmente nos últimos anos para ajudar profissionais de saúde e pacientes na pré-concepção, fertilidade e gravidez. O uso dela será um verdadeiro ponto de virada, contribuindo para mais gestações saudáveis, melhores resultados e partos mais seguros", acrescenta o especialista.
A inteligência artificial tem aplicabilidade em muitos passos da reprodução humana. Analisar dados e imagens, ajudar em planos de tratamentos personalizados, monitorar e rastrear a progressão das terapias e automatizar tarefas como agendamento de consultas e solicitação de exames, além de contribuir para pesquisa clínica: são apenas alguns dos pontos em que a inteligência artificial se envolve com o ramo de fertilidade. "Mas não só isso. Podemos esperar muito mais, com a seleção dos embriões com alto potencial de implantação, prever o desenvolvimento posterior do embrião e aumentar as taxas de gravidez e nascidos vivos, melhorando as taxas de sucesso na fertilização in vitro e inseminação intrauterina".
Os aplicativos de rastreamento de ovulação podem contar com a ajuda desse tipo de aprendizado de máquina. Uma maneira tradicional de acompanhar o período de ovulação é contar 14 dias para trás a partir da data em que você espera ter a próxima menstruação. Mas existem algumas falhas graves neste método. "Embora geralmente se suponha que o ciclo menstrual seja, em média, de 28 dias, muitas mulheres não têm ciclos de 28 dias. Se o ciclo de uma mulher é mais longo ou mais curto, é possível perder o período de ovulação e diminuir as chances de engravidar. Aplicativos que usam IA para rastrear os ciclos de ovulação de uma mulher com base nos dados inseridos pelo próprio usuário podem detectar padrões únicos e ajustar as previsões para encontrar a janela fértil", explica o médico.
Na mão dos especialistas, a IA pode beneficiar procedimentos de inseminação intrauterina (IIU). "Durante esse procedimento, o esperma é colocado no útero, contornando a vagina e o colo do útero. Esse pode ser um tratamento útil para homens com disfunção ejaculatória ou erétil ou contagens anormais de esperma. Mas isso tem suas armadilhas. A concepção não é 100% garantida com essas intervenções. Além disso, existe o risco de gravidez múltipla, resultando em gêmeos e trigêmeos", diz Rodrigo Rosa. "Carregar gestações múltiplas aumenta o risco de complicações, como parto prematuro e deficiência permanente. É aqui que a IA pode ajudar. Ela pode usar seus algoritmos para prever a taxa de sucesso da inseminação com base na forma e função do esperma e ajudar a criar planos de tratamento individualizados para casais inférteis", explica.
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A ciência tem se debruçado para elevar a taxa de sucesso da fertilização in vitro (FIV) e a inteligência artificial tem contribuído para isso. "Durante o processo de fertilização in vitro, um óvulo é removido dos ovários da mulher e fertilizado com esperma em laboratório. O óvulo fertilizado é então devolvido ao útero da mulher para crescer e se desenvolver. Mas a fertilização in vitro não é infalível. O procedimento é custoso econômica e psicologicamente e não tem garantia de concepção. Uma vez que uma mulher completa 35 anos, suas taxas de sucesso com fertilização in vitro diminuem de 21,3% para 17% por ciclo, com a porcentagem diminuindo ainda mais à medida que envelhece", esclarece o especialista.
"Com a IA, é esperado que os médicos consigam encontrar a melhor combinação de esperma para óvulo ou identificar os embriões com maior probabilidade de resultar em bebês saudáveis, o que poderia potencialmente aumentar a taxa de sucesso da fertilização in vitro", diz.
Na fertilização in vitro, os médicos de fertilidade tomam muitas decisões que afetam a chance de ter um bebê. "Embora haja uma tonelada de dados disponíveis que os médicos podem usar para tomar essas decisões, nunca houve uma maneira eficiente de extrair insights acionáveis deles. Já existem softwares usando algoritmos para classificar esses dados e identificar o que foi bem-sucedido para pacientes com condições semelhantes e entregar essas descobertas aos médicos", conta Rodrigo Rosa.
Dessa forma, a IA também pode fazer com que o médico aproveite o conhecimento de especialistas em fertilidade em todo o país, acessando mais de 40 mil casos anteriores de pacientes e analisando o que funcionou e o que não funcionou para esses pacientes. "Usando essas informações, o médico pode tomar decisões mais rápidas e informadas para fornecer um plano de cuidados hiperpersonalizado e oferecer o melhor resultado possível", diz o médico.
Outras empresas de software estão oferecendo aplicativos semelhantes para analisar o crescimento do embrião. A "análise de imagem orientada por IA" pode avaliar instantaneamente a viabilidade do embrião para prever qual tem a melhor chance de implantação.
O futuro da fertilidade é a IA
A IA não substituirá os médicos, mas desempenhará um papel significativo no futuro. "Os especialistas concordam que o futuro da melhoria das taxas de infertilidade com IA virá da capacidade da tecnologia de classificar grandes e complicadas escalas de dados. Isso permitirá resultados mais rápidos, opções de tratamento mais personalizadas e um aumento geral nas taxas de fertilidade", explica o especialista.
Ele enfatiza que a capacidade da inteligência artificial de aprender com grandes conjuntos de dados e traçar associações preditivas que podem ser muito complexas para os humanos modelarem com precisão é um caminho interessante para a pesquisa neste campo altamente técnico. "E a IA tem a oportunidade de reduzir custos e melhorar os resultados para pacientes com infertilidade. A inteligência artificial é a ferramenta mais promissora para revolucionar o tratamento da infertilidade como existe hoje. As melhorias previstas terão um impacto importante na evolução contínua do que é possível hoje", aponta Rodrigo Rosa.