coronavírus e um morcego

Exame diagnóstico é capaz de identificar infecção prévia por Sars-CoV-2 ou outros coronavírus de importância médica em várias espécies, incluindo cães e gatos, além de furões e morcegos

Syaibatul Hamdi/Pixabay


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O grupo de vírus do tipo coronavírus, que inclui o Sars-CoV-2, responsável pela pandemia da COVID, é conhecido por infectar diferentes animais, incluindo porcos, furões, morcegos, felinos e humanos. A detecção precoce da presença do patógeno em animais de estimação e de criação é fundamental para impedir a ocorrência de novos surtos e possíveis mutações que podem surgir nessas populações.

Pensando nisso, cientistas da Universidade de Illinois e da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, criaram um exame diagnóstico capaz de identificar uma infecção prévia por Sars-CoV-2 ou outros coronavírus de importância médica em várias espécies, incluindo cães e gatos.

O artigo descrevendo o novo exame foi publicado nesta quinta-feira (6) na revista científica mSphere, editada pela Sociedade Americana de Microbiologia. O teste desenvolvido é do tipo sorológico e busca por anticorpos antiproteína N (nucleocapsídeo), presente no núcleo do coronavírus e que é menos sujeita a mutações que o vírus pode sofrer ao se replicar no organismo hospedeiro, diferente das proteínas de membrana, como a proteína Spike.

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Anticorpos no corpo humano

Os testes sorológicos buscam identificar anticorpos no corpo humano específicos para o vírus e apresentam maior eficácia quando feitos a partir do oitavo dia de contágio. No caso da proteína N, os anticorpos anti-N são desenvolvidos após uma infecção, tanto em humanos quanto em outros animais, ou induzidos por vacinação, em pessoas vacinadas.

No novo kit, os pesquisadores investigaram qual seria a eficácia e especificidade de quatro anticorpos monoclonais, que são moléculas produzidas artificialmente a partir de clones de uma única célula e que ajudam a neutralizar o vírus: mAb 41-10, 86-12, 109-33 e 127-3.

Depois, testaram cada um dos anticorpos in vitro em células contendo partículas virais da cepa original de Wuhan e quatro variantes do Sars-CoV-2; e também contra outros coronavírus, como o Sars, o Mers e HCoV 229E, um coronavírus de resfriado comum.

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Após testes iniciais, os cientistas observaram que o anticorpo monoclonal 127-3 tinha uma sensibilidade melhor aos diferentes vírus, e esse foi selecionado para construir o teste diagnóstico. A partir de amostras de sangue, o exame procura anticorpos antiproteína N, que se ligam ao anticorpo monoclonal no composto do teste. Em caso positivo, a ligação ocorre e um sinal luminoso aparece. Em caso negativo, não há ligação — indicando, provavelmente, que não houve uma infecção no passado.

Eficácia do exame

Para determinar a eficácia do exame, os pesquisadores fizeram a inoculação de coronavírus em gatos em laboratório. O resultado apontou uma sensibilidade (quando o anticorpo se liga ao composto no teste) de 97,8% e uma especificidade (quando o resultado positivo é positivo mesmo, e não um falso positivo) de 98,9%, considerados elevados para exames sorológicos.

Em seguida, os pesquisadores testaram cães que se encontravam em uma clínica veterinária com sintomas parecidos com infecção por coronavírus para investigar um possível contato com o vírus. Dois animais testaram positivo, e a infecção foi confirmada com exame adicional de RT-PCR, reforçando a eficácia alta do teste sorológico. O tutor de um dos dois cães tinha apresentado diagnóstico positivo para COVID um mês antes, o que reforça a possibilidade de humanos e outros animais compartilharem o vírus.

Apesar de ser um teste com uma boa acurácia, o estudo tem suas limitações, como ter testado até o momento apenas animais de companhia (cães e gatos), não em animais selvagens, como doninhas e furões.

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Por outro lado, o teste diagnóstico se diferencia dos demais no mercado por ter uma boa sensibilidade também para detectar infecção prévia em outros animais, ajudando a identificar precocemente sintomas compatíveis com a doença causada pelo coronavírus nessas espécies, inclusive em um período superior a seis meses desde a infecção inicial.

Os autores concluem que os anticorpos monoclonais criados são boas moléculas-alvo para a detecção, mesmo que tardia, de infecção viral em diferentes hospedeiros animais, e que pode ser uma boa ferramenta para a vigilância sanitária de novos reservatórios do vírus. "Basicamente, desenvolvemos um teste diagnóstico que pode ser aplicado em todas as espécies para detectar exposição ao Sars-CoV-2 em animais", completa Ying Fang, professora da Universidade de Illinois e coordenadora do estudo.