A Rede Nacional de Laboratórios do Sistema Único de Saúde (SUS), distribuída em todo o Brasil, passou a ofertar testes para detecção de clamídia e da bactéria causadora da gonorreia. O diagnóstico precoce e o tratamento correto diminuem os riscos de complicações como infertilidade, doença inflamatória pélvica, gravidez fora do útero, entre outras. No total, o Ministério da Saúde investiu R$ 3,3 milhões para viabilizar a testagem da população.
A iniciativa está alinhada à estratégia global da Organização Mundial da Saúde (OMS) que visa o fortalecimento da vigilância das infecções sexualmente transmissíveis (IST) e o diagnóstico da incidência dessas doenças na população geral e em grupos mais vulneráveis.
Até o momento, o tratamento para clamídia e gonorreia no Brasil vinha sendo feito com base em sinais e sintomas, sem que ocorresse a identificação do patógeno. Os exames são úteis para a testagem de pessoas sem sintomas, permitindo o diagnóstico em tempo oportuno e o tratamento correto.
Atendimento clínico
Os testes também têm grande valia para os casos em que foi feito tratamento de acordo com os sintomas, permitindo que o profissional de saúde colete uma amostra do paciente durante o atendimento clínico e verifique o resultado na consulta de retorno, avaliando se o tratamento inicial foi correto ou se é necessária alguma outra intervenção, além de permitir melhor direcionamento do tratamento de parceiros e parceiras sexuais.
Para o diretor do Departamento de HIV/aids, Tuberculose, Hepatites Virais e IST, Draurio Barreira, esse investimento é mais uma ação para atender às prioridades do Ministério da Saúde no cuidado integral às pessoas com IST, em particular, as mais vulnerabilizadas: "A intenção é que os Centros de Testagem e Aconselhamento, além dos Serviços de Atenção Especializada em IST sejam os principais parceiros na adesão aos testes, pois são estratégicos por já atuarem com pessoas vivendo com HIV, pessoas em uso de PrEP (profilaxia pré-exposição ao HIV) ou com indicação para PEP (profilaxia pós-exposição ao HIV) e outras pessoas com maior vulnerabilidade às IST. Com investimento em inovação científica e tecnológica, em gestão participativa e derrubando as barreiras impostas pelos determinantes sociais, conseguiremos dar uma resposta adequada".
Contexto
Os exames de clamídia e gonorreia já fazem parte da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e Órtese, Prótese e Meios Auxiliares de Locomoção (OPM) do SUS, mas para que os estados e municípios fizessem a aquisição dos testes faltava uma estratégia para a implantação da testagem nos serviços de apoio diagnóstico e terapêutico das Redes de Atenção à Saúde (RAS) do país.
Desde março, 82 laboratórios da rede vêm sendo preparados para o exame molecular para detecção qualitativa de clamídia e gonococo. Até junho, houve a instalação de 80% dos equipamentos, além dos treinamentos necessários. Com o investimento do Ministério da Saúde, os serviços vão fazer a coleta de amostras e encaminhá-las aos laboratórios de referência.
Todos os itens necessários à testagem deverão ser fornecidos pela empresa contratada, como insumos, treinamentos, manutenção dos equipamentos e assessoria técnico-científica.
A contrapartida dos estados envolve ações como a indicação de laboratório com a estrutura física adequada para a instalação dos equipamentos, a organização do fluxo local de testagem e a disponibilização de profissionais para fazerem o exame no laboratório, assim como o monitoramento e avaliação dos dados do Sistema de Gerenciamento Laboratorial (GAL).
Além disso, os estados também devem verificar a disponibilidade dos medicamentos na rede para o tratamento de clamídia e gonorreia, conforme preconizado no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com IST.
Infecções sexualmente transmissíveis
As IST são responsáveis por altas taxas de morbidade e por elevados custos em saúde pública no mundo todo. A OMS estima que mais de um milhão de novos casos de IST curáveis não virais ocorram diariamente no mundo em pessoas com idade entre 15 e 49 anos. Somente em 2020, isso correspondeu a 374 milhões de casos. Destes, cerca de 7 milhões foram casos de sífilis; 82 milhões, infecções por gonorreia; 128 milhões, por clamídia e 156 milhões por tricomoníase. Aproximadamente metade desses casos estava concentrada em países classificados como de renda média-alta, e o Brasil é um deles.
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