Ely Pereira e Silva

Ely Pereira e Silva tem mais de 30 anos de prática no kickboxing e diz que fez da luta sua base de vida

Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press


O kickboxing é uma importante contribuição para a construção do caráter de quem pratica e engloba diferentes modalidades de luta, ressalta o presidente da Federação Mineira de Kickboxing (FMKB), Lucivaldo Araújo. "É uma atividade que requer disciplina, e promove, principalmente, o autocontrole.” Geralmente, diz Lucivaldo, o atleta agrega ao kickboxing outras artes marciais que podem servir de base e ser praticadas em paralelo, como karatê, kung fu, jiu jitsu, judô, muay thai, aikido, krav magá e taekwondo, por exemplo.

No calendário atual de competições, são diversos os torneios, e Lucivaldo elenca como os principais os campeonatos mineiro, brasileiro, sul-americano e o mundial, além da Copa Brasil de Kickboxing. Em 29 e 30 de julho, é realizado o Campeonato Mineiro de Kickboxing, em Contagem, na Grande BH, como seletiva para a Copa Brasil 2023. Neste ano, Minas Gerais também será representado no campeonato mundial pelas kickboxers Rosiris Cerizzi, de Uberlândia, e Bárbara Rocha, de Tocantins, cidade próxima a Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira.
 

A FMKB nasceu em 2002 em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, região onde hoje o kickboxing está consolidado. Com a mudança da entidade para Belo Horizonte, em 2018, Lucivaldo observa que, agora, será menos complicado receber apoio para a disseminação do esporte no estado. Ele cita, como uma dificuldade no campo de atuação da federação, a distância física entre os atletas - nem sempre é possível reunir todos para as atividades que a FMKB realiza, principalmente no sentido da promoção de preparação para o esporte, informação e conhecimento acerca do kickboxing. O kickboxing está no rol dos esportes que integram a Olimpíada de Artes Marciais, que acontece a cada dois anos e, desde 2018, é reconhecido como esporte olímpico pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). "Estamos com a perspectiva de participar das Olimpíadas pela primeira vez em 2028", diz.

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Ely Pereira e Silva, de 62 anos, está no ramo de lutas há 46. Começou aos 16, quando a luta não era inclusiva - excluía pessoas que não gostavam de 'dar porrada' e se machucar. Era mais voltada para o aspecto marcial em si, diferentemente do foco em fitness. No início desse caminho, praticou taekwondo, luta sul-coreana. Mas não havia tantas competições nesse esporte, e Ely queria mesmo competir. Foi aí que iniciou a prática do full contact, como antes era chamado o kickboxing, hoje transformado em uma de suas modalidades. 

Thiago, professor de  kickboxing

Thiago, filho de Ely, também é professor e sempre incentiva seus alunos a se graduarem na modalidade


Dedicação  

De lá para cá, são mais de 30 anos de prática. Nesse percurso, Ely vem participando de competições e dando aulas. Por 15 anos, em paralelo, também praticou kung fu, participou de campeonatos. Nesse período, com o kickboxing, fez 169 lutas e perdeu apenas seis - três por decisão de pontos e três por decisão médica. Nunca foi à lona - não sabe o que é ser nocauteado. Ely é dono de títulos mineiros, nacionais e foi vice-campeão sul americano na Argentina.

Em BH, são 34 anos ensinando kickboxing, com turmas coletivas, atendimentos individuais e grupos fechados. Ele passou por outras academias até criar o espaço próprio, no Funcionários. Ele hoje coordena a equipe do Ely Kickboxing MMA. Levando seus alunos pelo mundo para competir, esteve com o grupo nos Estados Unidos, Rússia, Bolívia e Argentina. É vice-presidente da Federação Mineira de Kickboxing (FMKB), entidade filiada à Confederação Brasileira. É graduado como faixa preta 5º dan (no kickboxing, a graduação, depois da faixa preta, a mais alta, segue entre o que se denomina 1º a 10º dan).

Ely explica que o kickboxing abrange diferentes formas de competição, variando entre  tatame e ringue. A primeira forma é de leve a média contundência (força da pancada). Significa que não prevê nocaute - são chamadas point fighting, light contact, kick light e formas musicais. Quando é no ringue, a contundência é total (é permitido o nocaute), e esse tipo é dividido nas modalidades chamadas full contact, low kicks e K1 Rules. O que difere uma da outra é a técnica permitida, a força aplicada e a área de competição. "Todas elas podem ser praticadas com foco amador ou profissional", diz Ely, que conta que fez da luta sua base de vida, de sobrevivência inclusive. "Me tornei professor e pude transmitir o que aprendi, com a pitada de uma didática pessoal. É um legado de décadas. Uma realização."

Afinidade 

 A relações-públicas Mariana Melo, de 46 anos, começou a praticar o kickboxing meio que por acaso. Era 2003 quando ela e a irmã, que faziam musculação em uma academia, acabaram tendo contato com Ely Pereira, que dava aula de kickboxing na unidade. Fizeram uma aula experimental e adoraram. "Não comecei pela luta, ou para me tornar lutadora. Queria encontrar uma atividade de que gostasse e deu certo. E pela afinidade com o Ely e seu filho Thiago, também professor. Criamos uma amizade, uma relação de afeto e carinho."

Mariana seguiu com as aulas até 2006, quando se mudou para São Paulo. Voltou à capital mineira em 2010, e a partir de 2015 retomou as aulas de kickboxing, também no espaço de Ely, dessa vez já no Funcionários. E não mais parou. Por sugestão de Thiago, fez os exames para aquisição da graduação oficial no kickboxing, e hoje é faixa preta. Mariana diz que procurou o esporte para ter boa saúde e forma física, e bem-estar - isso aliado a bons hábitos alimentares. "Hoje tenho um bom condicionamento físico, foco, disciplina, e também mais autoconfiança. Minha qualidade de sono melhorou, meu intestino funciona melhor, minha disposição aumentou, quase não fico doente. Mudei completamente", aponta.

Relações-públicas Mariana Melo e o médico Sérgio Jardim

A relações-públicas Mariana Melo e o médico Sérgio Jardim são colegas de tatame e praticam kickboxing há mais de 20 anos

Jair Amaral/EM/D.A Press

Psicoterapia

 O médico Sérgio Jardim, de 65 anos, pratica kickboxing há 25. Começou a ter aulas com Ely Pereira em uma academia no Centro de BH, quando também fazia natação e musculação. À época, a família ingressou junto no kickboxing. A filha, Silvia, parou com a atividade depois que saiu do Brasil, o filho Matheus seguiu no esporte (hoje é faixa preta e também dá aulas), assim como a esposa Marilene. Ao longo desse caminho, parou apenas no intervalo em que precisou se recuperar de uma cirurgia para tratar uma hérnia de disco. Retomou a prática há 12 anos. Agora, conta que o kickboxing faz bem inclusive para a coluna - nos dias de aula, se sente melhor.

Sérgio brinca que o kickboxing hoje é, para ele, sua psicoterapia. Quando voltou para as aulas, chefiava o setor de anestesia do Hospital João XXIII, um trabalho altamente estressante. "O kickboxing é uma válvula para liberar a agressividade, relaxa, melhora o estresse, alivia as tensões. Fico bem mais tranquilo. Meus colegas até diziam que, no dia em que fazia as aulas, me tornava um chefe melhor."

Origem do Kickboxing


» Refere-se a um grupo de artes marciais e esportes de combate em pé baseados em chutes (em inglês kick) e socos (em inglês boxing).
 
• É frequentemente praticado como defesa pessoal, condicionamento físico geral ou como um esporte de contato. 

• Em um sentido amplo, há várias artes marciais nomeadas como kickboxing, incluindo o muay thai (boxe tailandês), lethwei (boxe birmanês), assim como o savate (boxe francês), entre outros. 

• Em um sentido restrito, o termo kickboxing é associado a artes marciais com esse nome, sendo eles o kickboxing japonês, o americano e estilos ou regras spin-off. É muitas vezes confundido com o muay thai (boxe tailandês). Ambos são semelhantes mas com extremas diferenças, não apenas nas regras, mas também na prática.

• O termo "kickboxing" ou "full contact" foi introduzido na década de 1960 como um anglicismo japonês por Osamu Noguchi, um promotor de boxe do Japão, para uma arte marcial híbrida que combinava muay thai e karatê, que ele tinha introduzido em 1958. O termo foi posteriormente adotado também pela variante americana, que surgiu de forma paralela na década de 1970, criado por Joe Lewis — campeão de karatê e pupilo de Bruce Lee — e outros lutadores de karatê que começaram a misturar com socos de boxe e lutar a contato pleno. 

• Em 1970, eles organizaram uma luta em um evento de karatê em que entraram com luvas e foram introduzidos como kickboxers. Logo, organizações de karatê começaram a promover eventos de kickboxing. Como houve muitos cruzamentos entre esses estilos, com muitos praticantes ou competidores sob as regras de um ou mais estilos, as histórias dos estilos individuais não podem ser vistas de forma isolada uma da outra.

• Quando se volta aos Estados Unidos dos anos 1970, estão caratecas tradicionais cansados das competições que não permitiam um contato pleno, e que começaram a adaptar protetores de pé e mão para que os contatos fossem permitidos, só que com pouco risco de lesão. A modalidade competitiva que recebeu o nome de karatê full contact (karatê de contato total), com o passar dos tempos, fez com que estes mesmos atletas começassem a entender que aquela modalidade era um outro tipo de luta, que não tinha nada a ver com o karatê de competição. 

• O nome full contact traduzia muito mais o espírito deste novo esporte. Dominique Valera, um dos maiores nomes do karatê mundial de todos os tempos, com mais de mil vitórias e vários títulos europeus e mundiais, começou a treinar a modalidade nos Estados Unidos com Bill Wallace e Jeff Smith. No seu retorno à Europa, reestruturou o esporte, chamando-o de kickboxing, isto é: chutar boxeando, tornando-o como é hoje.

Fonte: Wikipedia e Federação de Kickboxing do Estado do Rio de Janeiro