Além de afetar os rins, a doença renal crônica também ataca a qualidade de vida do paciente. Considerada um grande problema de saúde pública, porque causa elevadas taxas de morbidade e mortalidade, a perda das funções dos rins também interfere no estilo de vida do paciente. "Esses pacientes dependem de tecnologia avançada para sobreviver, apresentam limitações no seu cotidiano e vivenciam inúmeras perdas e mudanças em vários campos da sua vida, não só com relação aos sintomas físicos, mas também em fatores sociais e psicológicos, experimentando muitas vezes a perda do emprego por conta da necessidade constante de diálise, alterações na imagem corporal, restrições dietéticas e hídricas", explica a médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Caroline Reigada.



Um estudo recente da revista Nature, publicado em junho, mostrou que uma forma de driblar esses sintomas e melhorar a qualidade de vida é por meio da suplementação de própolis. "A suplementação de própolis na dose de 250 mg por dia durante três meses melhorou significativamente algumas dimensões da qualidade de vida e sintomas em pacientes com doença renal crônica. O principal fator para essa relação é a capacidade antioxidante da própolis, que ajudaria a diminuir os extensos efeitos do estresse oxidativo nesses pacientes", acrescenta a nefrologista. O estresse oxidativo é definido como um estado de desequilíbrio a favor de agentes pró-oxidantes (que por consequência podem aumentar a inflamação) contra os antioxidantes que o corpo produz.

O estresse oxidativo desempenha um papel fundamental na progressão da doença renal crônica, diretamente pela indução de lesão tubular e glomerular ou indiretamente pelo desenvolvimento de hipertensão, inflamação e/ou disfunção endotelial; portanto, estudo avaliou os efeitos da própolis no estresse oxidativo em pacientes renais.

Com a doença, a lista de sintomas que prejudica a qualidade de vida é extensa. "O paciente sente-se mais cansado e com menos energia, tem dificuldades para se concentrar, está quase sempre com o apetite reduzido, sente dificuldade para dormir, sente cãibras à noite, está geralmente com os pés e tornozelos inchados, apresenta inchaço ao redor dos olhos, especialmente pela manhã, fica com a pele seca e irritada, e urina com mais frequência, especialmente à noite", diz a médica. A morte prematura em pessoas com doença renal crônica é até dez vezes mais provável do que a progressão para doença renal terminal, principalmente porque a condição pode levar a doenças cardiovasculares.

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A médica explica que o própolis é considerado uma das fontes mais ricas de polifenóis vegetais, incluindo flavonoides, e pode neutralizar os efeitos do estresse oxidativo, o que poderia ajudar a diminuir os sintomas e ajudar a controlar doenças relacionadas, como diabetes tipo 2 e hipertensão. "No Brasil, desde 2019 temos dados de estudo da Universidade de São Paulo (USP) que o própolis reduz a proteinúria (presença de proteína na urina). Segundo outros estudos, a administração oral de própolis resultou no aumento dos níveis séricos de glutationa, um forte antioxidante endógeno, e diminuição dos níveis de substância reativa ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), um forte indicador de eventos cardiovasculares", diz a médica.

O estudo foi feito com 35 pacientes e, embora os marcadores de saúde renal não tenham demonstrado melhoras entre os grupos que foram suplementados com própolis e o placebo, os pacientes suplementados com própolis relataram melhora da qualidade de vida, sintomas e desempenho físico. "O resultado é animador, mas mais estudos são necessários, principalmente com um acompanhamento por um maior período, para demonstrar mudanças em marcadores da doença renal", aponta a especialista.

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