Luiza Marilac Gorgulho Campos, de 43 anos, é filha de Altair Ildefonso Campos, de 84 anos, que foi diagnosticado com Alzheimer em janeiro de 2022. Ela conta que, neste ano, começou a perceber como o pai ficava confuso quando cochilava após o almoço, ou irritado por achar que estava perdido sem saber se era dia ou noite.
"Resolvi fazer a experiência de deixá-lo na parte da tarde na cama, já que cada dia ficava mais nervoso e até mesmo agressivo quando eu insistia em retirá-lo dela. A conclusão foi que ele ficou mais calmo, mas, porém, ainda confuso, mas bem menos que antes."
Segundo a geriatra da Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima, esses sinais contados por Luiza podem indicar a chamada de Síndrome do Pôr do Sol, caracterizada por uma confusão mental ou mesmo uma mudança de comportamento que se manifestam ao entardecer, mais especificamente quando o sol se põe e escurece.
"Ocorre em pacientes com demência, como a doença de Alzheimer. As manifestações podem variar desde uma simples tontura até quadros de confusão mental, ansiedade, irritabilidade, dificuldade para dormir e comportamento inadequado."
Segundo a geriatra, as causas exatas desse fenômeno ainda não são completamente compreendidas, mas acredita-se que vários fatores podem contribuir para essas mudanças, tais como alterações no ritmo circadiano, que geram mudanças no padrão de sono-vigília e aumentam a confusão durante a noite; alterações no relógio biológico, fazendo com que o indivíduo sinta dificuldade em diferenciar o dia da noite; cansaço ou agitação.
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"Além disso, mudanças na luz e no ambiente; locais agitados no final da tarde, com a chegada de visitantes ou simplesmente um aumento na atividade geral durante o dia; alteração na rotina; sensação de fome e de dor; quadros infecciosos de uma forma geral (infecção, resfriado); quadros de depressão; uso de determinados medicamentos podem ser causa desse fenômeno."
A especialista ressalta, porém, que nem todos os pacientes com demência têm essa síndrome. E quando apresentam, os sintomas podem variar significativamente.
Dicas para melhorar esse comportamento ao entardecer
Nem sempre é possível evitá-los totalmente, mas algumas estratégias ajudam a minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas que sofrem com essa condição.
Entre elas, Simone enfatiza a importância de manter uma rotina diária consistente para o paciente, incluindo horários regulares para refeições, atividades e sono, ajudando, assim, a reduzir a ansiedade e a confusão que podem ocorrer durante o pôr do sol.
"Criar um ambiente calmo e tranquilo à medida que a noite se aproxima, evitando barulhos altos, luzes brilhantes ou distrações excessivas que podem aumentar a confusão e garantir, à medida que o dia escurece, que o ambiente fique bem iluminado, especialmente em áreas onde o doente passa mais tempo, gera menos ansiedade."
Vale incentivar o paciente a se envolver em atividades agradáveis e satisfatórias durante o dia, ajudando a reduzir a inquietação à noite, além de evitar o consumo de bebidas ou alimentos que contenham cafeína ou açúcar próximo ao horário de dormir, pois eles podem interferir no sono e limitar cochilos longos durante o dia.
A especialista salienta ainda como manter uma abordagem calma, clara, simples e carinhosa para que o paciente se sinta seguro e de fazer uso de medicações que controlem sintomas graves, sempre prescritos pelo médico do paciente, é fundamental.
"O suporte ao cuidador também é importante, seja familiar, entre amigos ou em grupos de apoio. Isso ajuda a reduzir o estresse do cuidador e promove um ambiente para que ele possa compartilhar experiências e estratégias com outras pessoas que estejam passando pela mesma situação", aponta.
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