A asma é uma doença respiratória crônica, que atinge 20 milhões de pessoas no Brasil, sendo 5% a 10% com a forma mais grave. Ela atinge os brônquios, que são canais que levam o ar aos pulmões. Tosse, dificuldade de respirar e até falta de ar estão entre os sintomas. 





Em casos graves, uma crise de asma pode gerar insuficiência e até parada respiratória, requerendo internação em UTI e uso de ventilação mecânica. Mais de 120 mil internações pela doença são registradas no país, todos os anos, e cerca de cinco mortes por dia. Os sintomas pioram à noite e nas primeiras horas da manhã, ou em resposta à prática de exercícios físicos, à exposição a alérgenos, à poluição ambiental e a mudanças climáticas.

A boa notícia é que a doença pode ser controlada, mesmo nos casos mais graves. Por isso, é importante não baixar a guarda. “Não ter sintomas nem crises não significa que a doença desapareceu. A asma não tem cura, mas tem controle. É preciso seguir o tratamento e as orientações médicas corretamente”, alerta o pneumologista Mauro Gomes, professor da disciplina de pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Em entrevista, Mauro Gomes explica os principais sintomas, fala sobre as estatísticas mais recentes da doença no Brasil e como se prevenir, especialmente no inverno. 

Quais são os números mais recentes de casos de asma no Brasil?
A asma é uma doença de grande prevalência no Brasil. Estima-se que de 10% a 20% da população brasileira tem asma. Então, por baixo, nós temos aí cerca de 20 milhões de pessoas com asma no Brasil. A grande dificuldade é que 90% dessas pessoas não têm a asma controlada, isto é, ficam sujeitas a ter crises de asma, e inclusive correm risco de morte pela doença. Morrem, no Brasil, cinco a sete pessoas por dia por causa das crises de asma e isso é inadmissível, haja vista que nós temos medicamentos disponíveis hoje no SUS, medicamentos de ponta - desde o tratamento mais básico com os anti-inflamatórios, até o tratamento mais moderno à base de imunobiológicos. 





Qual é o perfil do paciente?
Não há perfil. A pessoa pode ter asma em qualquer idade. Faz anos que se utilizam nomes como bronquite espástica, bronquite asmática, bronquite alérgica, entre outros, para designar as crises asmáticas das crianças pequenas, em especial dos lactentes. Hoje em dia, sabemos que os lactentes também têm asma (asma do lactente). Se você tem um filho com poucos meses de idade, e suspeita que ele possa sofrer de alguma enfermidade respiratória, procure ajuda com um pediatra ou pneumologista infantil.

A asma no inverno é mais comum que em estações do ano com altas temperaturas. Isso é verdade?
O paciente asmático tende a sofrer mais com o ar seco do que com o úmido. Típico dos períodos frios do ano, o ar seco funciona como entrave para o sistema respiratório, complicando ainda mais a vida de quem tem asma ou outra doença similar, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). 

Qual é a relação entre asma e SRAG? Há diferenças entre asma e bronquite?
A síndrome respiratória aguda grave (SRAG) é um quadro de insuficiência respiratória proporcionado por uma série de situações, especialmente infecções respiratórias. Pode ser uma pneumonia bacteriana, pneumonia hospitalar e pode ser também uma infecção por vírus. Nós tivemos muitos casos de SRAG na pandemia por causa do coronavírus. Diferentemente do que muita gente imagina, a asma e a bronquite não são a mesma coisa. As duas doenças acometem o pulmão, mas possuem causas, manifestações e tratamentos diferentes. A asma é uma doença que começa na infância, se prolonga na vida adulta e é ligada à alergia. Já a bronquite crônica ligada ao enfisema é uma doença adquirida pelo cigarro. Apesar de elas se parecerem, tem causas diferentes e tratamentos diferentes. 




A bronquite também é uma inflamação dos brônquios como a asma, só que a da asma é de causa alérgica e a inflamação crônica da bronquite é causada pelo cigarro, que vai evoluir para um enfisema de pulmão e vira uma doença diferente chamada doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). 

Por que ainda morrem tantos bebês e crianças decorrentes de problemas respiratórios?
Falando no geral: como disse acima, morrem no Brasil, cinco a sete pessoas por dia por causa de crise de asma. O que falta é o esclarecimento das pessoas acerca do que é a doença, reconhecer que a asma é uma doença grave porque o asmático não se reconhece como um doente crônico, o asmático entende que tem a doença apenas no momento da crise e não liga para o seu tratamento, a importância da conscientização do tratamento fora da crise para fazer a prevenção e, assim, reduzir a quantidade de internações e o risco de morte pela doença. 

Alguma forma de reduzir a incidência de casos de asma? 
A pessoa que tem asma, muitas vezes vai ter uma crise e quando ela tem essa crise e muita dor no peito, faz inalação em casa, faz uso da bombinha ou vai em um pronto-socorro, fazer um tratamento de emergência. Muitas vezes, essa pessoa precisa ser internada e pode até morrer. Só que muitas pessoas acham que tratar a crise de asma é tratá-la como um todo e isso é apenas a ponta de um iceberg. O doente tem uma grande inflamação, sendo preciso tratá-la corretamente. Por isso, o tratamento da asma deve ocorrer fora das crises. Entre uma crise e outra, é importante usar medicamentos anti-inflamatórios para os brônquios.

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