Também conhecida como síndrome da grande trocânter, a tendinite no quadril tem se tornado cada vez mais frequente nos consultórios e clínicas de ortopedia. De acordo com dados do Hospital Albert Einstein, a condição é bastante frequente, atingindo dois a cada mil pacientes.
E por que sabemos tão pouco sobre a doença? Quando falamos em tendinites, é mais comum voltar a atenção para os casos mais conhecidos e que atingem pessoas mais jovens e inseridas no mercado de trabalho, como as lesões nos tendões dos ombros ou nos punhos, muito relacionadas aos machucados por esforço repetitivo.
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Mas a tendinite no quadril é mais comum do que se acredita e pode trazer graves consequências para a qualidade de vida dos pacientes quando não é identificada e tratada de maneira adequada. O médico Marco Aurélio Silvério Neves, ortopedista e traumatologista especializado em cirurgia de quadril e joelho, explica que os tendões que costumam ser mais afetados no quadril são os dos glúteos .
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Os casos mais comuns, os que afetam os três músculos glúteos, costumam aparecer conforme a idade avança e ocorre o enfraquecimento muscular natural. Mas hábitos como o sedentarismo repentino ou situações de saúde que causem perda muscular repentina também favorecem o surgimento das inflamações. Conheça melhor a doença e entenda a importância dos tratamentos e da prevenção.
Por dentro da doença
- A tendinite no quadril consiste na inflamação dos tendões da região. Os tendões, formados por tecido conjuntivo, são as estruturas que ligam as extremidades dos músculos aos ossos e permitem a movimentação do corpo.
- O ortopedista Marco Aurélio Silvério Neves explica que os tendões dos glúteos costumam ser mais afetados, pois este é o maior músculo do corpo e tem uma função importante de sustentação e absorção de impactos gerais.
- É uma inflamação diferente das outras porque raramente é resultado de esforços repetitivos, como a maioria das outras tendinites.
- A maioria dos casos acomete os tendões glúteos médio e mínimo, que são os principais responsáveis pela abertura dos membros inferiores e por estabilizar a cabeça do fêmur na bacia.
- Quando a tendinite afeta esses tendões, os sintomas costumam se manifestar com dores na lateral do quadril, que se intensifica ao andar ou subir e descer escadas e ao deitar-se sobre o lado afetado.
- Nesses casos, a causa costuma ser o enfraquecimento muscular e a sobrecarga em músculos fragilizados, muitas vezes pelo sedentarismo ou pelo aumento ou perda de peso repentina, que exige uma adaptação rápida do funcionamento dos tendões.
- A tendinite também acontece no iliopsoas, composto pelos músculos psoas e ilíaco, responsável pelos movimentos de flexão do quadril.
- A estrutura começa na coluna lombar e na bacia e se estende até o fêmur. Os pacientes que apresentam essa lesão costumam ser atletas de atividades que envolvem muita flexão de quadril, como corridas.
- Os esforços da prática esportiva podem desgastar os tendões e causar as inflamações, que trazem dores na virilha e na região anterior do quadril.
- Por fim, as tendinites no quadril também podem atingir os músculos isquiotibiais, localizados na região posterior da coxa, e começam no ísquio, o osso da bacia sobre o qual sentamos. Podem ser causadas por atividades de alta performance, em atletas de corrida, por exemplo.
- Os casos mais comuns, porém, são os que afetam os três músculos glúteos e costumam aparecer com o avançar da idade, quando há o enfraquecimento muscular natural. Mas hábitos como o sedentarismo repentino ou situações de saúde que causem perda muscular também favorecem o surgimento da tendinite de quadril.
Tratamento
- O tratamento não requer cirurgia, mas exige disciplina, o que pode ser a etapa mais difícil para grande parte dos pacientes.
- Marco Aurélio explica que os medicamentos costumam atuar no controle das dores e diminuir a inflamação, mas terapias de reabilitação, como fisioterapias e hidroterapias, são o verdadeiro tratamento, além da diminuição das causas da inflamação.
- Para que o problema não seja recorrente, é necessário o fortalecimento muscular, feito através de atividades físicas recomendadas de acordo com as particularidades de cada paciente.
Palavra do especialista
A tendinite no quadril é mais comum em homens ou mulheres?
É muito mais prevalente nas mulheres, principalmente após os 40 anos, quando as perdas hormonais causam também o enfraquecimento da musculatura de uma forma geral. Além disso, o quadril das mulheres costuma ser mais volumoso, e os tendões um pouco mais fracos. A partir dos 40, com a defasagem hormonal, a tendinite pode ocorrer até mesmo de forma espontânea em mulheres que não tenham a prática regular de atividade física.
O que pode acontecer caso a tendinite seja ignorada ou não tratada?
A princípio, o paciente pode se tornar um portador de dor crônica, e um problema que poderia ser tratado de maneira simples e rápida se torna uma situação que vai exigir um trabalho de fisioterapia e fortalecimento muito mais longo e intenso. Quando o paciente é mais velho, a partir dos 60 anos, o processo inflamatório pode evoluir para outras doenças nos tendões, nas quais a infiltração e as terapias de choque podem ser necessárias.
Como evitar a tendinite no quadril?
Uma das maneiras de amenizar a demanda sobre o tendão é o controle de peso. Em seguida, é importante evitar atividades que agridem a região. Quem já teve alguma inflamação no quadril, deve evitar corridas intensas e intercalar com outras atividades, que tenham baixo impacto, mas que atuem no fortalecimento. Exercícios que preparem o corpo para atividades do dia a dia também são importantes, assim como o alongamento.
George Neri de Barros Ferreira é ortopedista e especialista em quadril da clínica Ortolife, no Santa Lúcia Sul