Ser mãe é abraçar a vulnerabilidade e a força, é ser uma fonte de carinho e proteção. Cada momento é um aprendizado, uma oportunidade de crescimento e transformação, tanto para a mulher quanto para a mãe que ela se torna. Nesse processo, manter uma gestação equilibrada, física e mentalmente, é um desafio, mas fundamental para a saúde da futura mãe e, claro, do bebê.
Leia também: Carreira e maternidade podem andar juntas
A Revista conta as histórias de Shirley, Lara e Elaine — três mulheres, três mães, três trajetórias únicas que se entrelaçam para abrir espaço e compartilhar perspectivas reais sobre o bem-estar emocional materno .
Leia também: Maternidade: a construção do maternar
Cada uma delas traz consigo uma nuance, repleta de desafios, triunfos e momentos de profunda reflexão. Em suas trajetórias, é notável a força de quem aprendeu a equilibrar a maternidade com a busca por si mesma, enfrentando os altos e baixos com coragem e amor incondicional.
Vivências maternas, perspectivas reais
Shirley Daudt, professora de sociologia de 47 anos, é mãe de Pedro, 26, Bruno, 24, Allan, 14 e Elisa, 8. Gestações não planejadas, momentos de enjoo e enfrentamento da depressão pós-parto nas quatro ocasiões foram alguns dos desafios enfrentados. Shirley ressalta a importância do apoio psicológico e da rede de apoio, especialmente de outras gestantes, que a ajudaram a superar os problemas emocionais. No entanto, ao longo das gestações, ela se sentiu poderosa e empolgada, alcançando uma sensação de bem-estar nos meses seguintes.
"Todos os meus partos foram normais e tranquilos, mas o pós-parto foi desafiador, enfrentei depressão pós-parto em todas as gestações, com intensidades variadas. Para lidar com os desafios da maternidade , iniciei terapia após o primeiro filho, o que foi essencial."
A importância da rede de apoio é um tema recorrente em sua fala. Shirley destaca que as mulheres precisam desenvolver sororidade e que um programa social de apoio psicológico seria fundamental para auxiliar as mães nessa jornada. Seu grupo de gestantes no Hospital Universitário de Brasília (HUB) foi essencial para receber suporte e compartilhar experiências, mesmo durante a pandemia.
A prática de atividades físicas também foi uma parte significativa da rotina de Shirley durante suas gestações. Ela fez hidroginástica, natação, musculação e participou de exercícios solo, o que contribuiu para seu bem-estar físico e emocional. A conexão com a natureza, tomar sol e se manter ativa trouxeram benefícios importantes para o corpo e a mente.
A professora enfatiza a importância de cuidar de si mesma enquanto cuida dos filhos, defendendo que a maternidade não deve ser uma barreira para a prática de atividades físicas e que é possível integrar o exercício à rotina com os filhos.
Apoio dentro e fora do lar
Lara Patrocinia, 22 anos, conta como enfrentou desafios emocionais durante a gestação e como o apoio incondicional do marido, Onofre, foi essencial para cuidar de si mesma e do filho Khalid, de 10 meses. Embora desejada, as oscilações hormonais trouxeram momentos de insegurança e ansiedade. No entanto, ao longo da gestação, Lara encontrou força interior e, após o nascimento do filho, experienciou uma transformação emocional, sentindo-se empoderada e cheia de esperança.
Ela temia um parto complicado, mas desejava que fosse normal. Apesar das dificuldades emocionais durante a gestação, Lara afirma que sua vida melhorou significativamente após se tornar mãe e, graças ao apoio da Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade (Dasu/UnB) e do projeto de escuta perinatal do Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep/UnB), teve como se tratar e seguir com a gravidez. "Teve um momento em que até tive vontade de não estar mais grávida", confessa.
"Eu era estudante da UnB quando engravidei, estava no primeiro semestre de sociologia, mas eu já tinha trancado o curso várias vezes na pandemia, porque não conseguia avançar nas matérias, por causa da ansiedade. O papel do apoio psicológico na minha gravidez foi de suma importância, pois, assim, eu pude desabafar sobre meus sentimentos ligados àquele momento gestacional. Fiz sessões voltadas especialmente para a maternidade. Esse projeto foi incrível para a minha saúde mental."
Lara teve que aprender a abdicar de suas vontades em prol do bebê, como deixar de lado os estudos. Mas, ao olhar para o passado, percebe o quanto sua experiência melhorou. O cuidado pessoal tem sido equilibrado com o cuidado materno e com o apoio incondicional do marido.
Equilíbrio emocional e físico
À medida que se aproxima do momento de dar à luz Don, Elaine Bruno, confeiteira e também administradora e influenciadora de 39 anos, admite que, por vezes, sente ansiedade, mas procura não se deixar consumir por esse sentimento. Ela cuida do futuro bebê, adaptando sua rotina às necessidades da gestação e priorizando a alimentação, o sono e a saúde com atividades físicas, mantendo uma postura positiva em relação ao autocuidado.
Elaine reconhece a importância do apoio emocional e psicológico, embora ainda não tenha buscado por ele, pois se sente amparada por sua rede de apoio. "Ela é essencial no incentivo e na ajuda prática. A minha está presente desde o início, e meu esposo é muito solicito e presente também. Acho que isso já faz uma grande diferença."
Quanto ao bem-estar físico e emocional durante a gravidez, Eliane menciona a prática regular de exercícios físicos, como musculação, que foi fundamental para evitar dores nas costas e controlar o ganho de peso. E enfatiza a importância do descanso, que tem sido essencial em sua jornada até o momento.
Sob a ótica de especialistas
Caio Molina, obstetra do hospital Santa Helena, da Rede D’Or, destaca a importância do bem-estar emocional na saúde física e mental da mãe e do bebê durante a gravidez. Um estado emocional positivo está associado a uma gestação mais saudável, enquanto altos níveis de estresse, ansiedade ou depressão podem levar a complicações obstétricas e problemas de saúde mental a longo prazo na criança. Oferecer apoio emocional adequado, incluindo cuidados médicos e psicológicos, é essencial.
“Cada gestante é única, por isso é importante adaptar o suporte e o cuidado emocional de acordo com suas necessidades e preferências individuais. Promover um ambiente emocionalmente saudável durante a gravidez pode contribuir para uma experiência mais positiva e uma transição mais suave para a maternidade.”
Para a psicóloga Aline Mansan, o estado emocional da gestante tem impacto direto no desenvolvimento do bebê. Ela enfatiza a importância da psicoterapia para auxiliar as gestantes a compreender e elaborar suas emoções, além de abordar a intervenção psicológica em casos de condições de saúde mental pré-existentes. “A gravidez é uma mudança muito grande na vida da família que espera a criança. Pode gerar expectativas, inseguranças e preocupações de como cuidar e educar a criança, de um futuro que pode ser incerto, e agravar ansiedades e até levar à depressão, quando a gestante pode sentir medo de não conseguir cuidar e até mesmo fracassar com o bebê”, ressalta.
A intervenção psicológica pode ajudar a organizar os pensamentos, trazer melhorias no autoconhecimento e autoestima, com o equilíbrio das emoções, quebrar crenças tóxicas que prejudicam a maternidade e administrar a ansiedade e expectativas do momento. Sempre é importante, em casos mais graves, o auxílio de um psiquiatra junto ao psicólogo.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
*Para comentar, faça seu login ou assine