Ainda pouco difundida no país, a terapia transgeracional é uma abordagem dentro da terapia integrativa e complementar que procura entender e cuidar dos padrões de comportamento, crenças e emoções transmitidos através das gerações de uma família.





A terapeuta integrativa com ênfase no trauma transgeracional e palestrante internacional, Franciany Madeira, é  certificada em psicogenealogia e terapia transgeracional pela Anne Ancelin Schützenberger International School, feita na França: "Resolvi aprender e me especializar nesta área para entender as situações que ocorriam dentro da minha família. Foi um divisor de águas depois do curso e percebi o quanto poderia ajudar outras pessoas com essa técnica baseada em evidências e que cresce exponencialmente por meio dos estudos dentro da epigenética".

A epigenética é a área da ciência que vem comprovando que o trauma pode atravessar as gerações, e deixar nos descendentes as marcas da dor e do sofrimento silenciado.

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Durante as sessões, é possível abordar uma grande variedade de traumas e questões emocionais que podem ter sido transmitidos ao longo das gerações.

Ações comuns que podem ser tratadas 

A síndrome do aniversário:  "Cada família tem um “calendário de eventos” significativos que compõe a memória familiar. Alguns estão conscientes, de fácil acesso na memória; mas outro estão mais silenciados, estão no nível mais inconsciente de nossa estrutura. Neste “calendário” estão marcadas as datas de nascimento, falecimento, batizado, casamento, divórcios, e eventos como datas de acidentes, cirurgias, início de emprego, demissão, até episódios mais traumáticos como assaltos, violências e guerras".




 
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Exemplo: Uma avó que perde uma filha aos 28 anos, a mãe que perde a filha aos 28 e a neta que sofre um aborto aos 28 anos. São três gerações conectadas que repetem um mesmo tipo de trauma, na mesma idade. O trauma não transformado pode ser um trauma transmitido.

Terapeuta integrativa Franciany Madeira diz que quando existe a consciência dos padrões repetitivos destrutivos e das heranças emocionais traumáticas, trabalha-se para transformá-los e libertar o paciente de comportamentos e crenças prejudiciais

(foto: Arquivo Pessoal)
Franciany Madeira diz que o termo "trauma transgeracional" é usado para atribuir a transmissão biológica ou psíquica de experiências vividas de forma traumática para as gerações subsequentes: "As consequências podem afetar de forma individual, familiar e coletiva. Os descendentes, 'herdeiros' desse legado podem apresentar os sintomas e as consequências do trauma sem o terem experimentado por conta própria".

Ela continua: "Mortes de entes queridos de forma precoce, falências, suicídios, abusos, negligência parental, enfermidades graves e, dentro do contexto coletivo podemos citar o Holocausto, a tragédia do dia 11 de Setembro ou o estupro em massa de mulheres durante o genocídio na Ruanda, são alguns exemplos de traumas".





Resiliência e a autocompaixão

Assim como as evidências científicas apontam para a transmissão do trauma por meio das gerações, "é possível que pais transmitam aos seus filhos componentes de resiliência, maiores recursos de enfrentamento, formas de autorregulação e estratégias para superar eventos com grandes fontes de estresse", destaca a terapeuta integrativa.

A autocompaixão, enfatiza Franciany Madeira, é uma maneira das pessoas lidarem quando elas sofrem, falham ou se sentem inadequada: "Em vez de ignorar a dor ou se flagelar com autocrítica, atribua um comportamento mais amoroso, gentil e compreensivo consigo mesmo.

"Quando existe a consciência dos padrões repetitivos destrutivos e das heranças emocionais traumáticas, trabalhamos para transformá-los e assim o paciente pode se libertar de comportamentos e crenças, permitindo uma maior compreensão de si mesmo e dos outros membros da família", afirma a terapeuta integrativa.



Franciany Madeira lembra que o processo também pode ajudar a quebrar os efeitos do silêncio, "do não dito, fortalecer os vínculos familiares, melhorar a comunicação e facilitar o crescimento pessoal e interpessoal resgatando a autonomia de consciência e o bem-estar de todos os envolvidos".

Sobre terapia transgeracional

Desenvolvida na década de 1970 por Anne Ancelin Schützenberger,  psicóloga e psicanalista francesa, ela se aprofundou na ideia de que os padrões comportamentais podem ser propagados de uma geração para outra, influenciando a vida atual de um indivíduo.

Com essa informação, Anne Ancelin Schützenberger propôs técnicas terapêuticas que focavam em trazer e transformar esses padrões transgeracionais, proporcionando compreensão e solução dos conflitos familiares.





Durante as sessões, a terapeuta trabalha com o paciente para identificar quais são os padrões disfuncionais, crenças, comportamentos e traumas que foram herdados das gerações anteriores para levar a compreensão e a ressignificação.

É comum evidenciar na história familiar, as histórias individuais dos membros desta família por meio da árvore genealógica, os eventos traumáticos, relacionamentos e os papéis que cada um desenvolve.

A finalidade da terapia transgeracional é romper com os padrões desestruturados e proporcionar uma vida saudável dentro da família.

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