Médico preenchendo prancheta. Ao lado, exames de sangue

Se o achado do exame indicar um resultado muito fora do normal, o primeiro passo é buscar um médico para que ele indique exames complementares que possam trazer mais segurança em suas decisões de tratamento

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Entrou em vigor, nessa terça-feira (1/7), a nova resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sob os requisitos técnico-sanitários para o funcionamento de laboratórios clínicos, de laboratórios de anatomia patológica e de outros serviços que executam as atividades relacionadas aos exames de análises clínicas. Com a medida, farmácias poderão realizar ao menos 47 tipos de exames de análises clinínicas, como sangue, urina, fezes e secreções. Os laboratórios terão um prazo de 180 dias para adequação.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Fábio Brazão, fechar o diagnóstico preciso para determinar o melhor tratamento e o melhor medicamento, demanda muita investigação, um trabalho criterioso amparado por exames e análises que envolvem médicos de várias especialidades. "A agilidade é importante, mas a assertividade mais ainda. Os testes rápidos aplicados em farmácias servem apenas como “triagem inicial”, ou seja, sinalizam que algo não está bem", alerta.  

Se o achado do exame indicar um resultado muito fora do normal, o primeiro passo é buscar um médico para que ele indique exames complementares que possam trazer mais segurança em suas decisões de tratamento. Os testes rápidos somente podem ser feitos a partir de amostras simples como uma gotícula de sangue colhida na ponta dos dedos, já que de acordo com esta nova resolução, as farmácias não podem coletar sangue venoso para enviar aos laboratórios clínicos. 
 

Confiabilidade

"Como médico patologista clínico, responsável por elucidar exames e ajudar a chegar ao diagnóstico correto de doenças junto a médicos de diversas especialidades, alerto a população sobre os riscos dessa nova possibilidade. O primeiro alerta é alguém achar que pode substituir a ida a um médico, verificando por si próprio 'como anda a sua saúde'; o segundo é a pessoa já sair da farmácia com remédios após um teste rápido, praticando a automedicação, principalmente nos testes rápidos de bioquímica, como glicose e colesterol, que são exames quantitativos. O terceiro risco é desperdiçar recursos financeiros, pois vai gastar com o teste rápido inicialmente e, depois, eventualmente o médico pode pedir novos exames laboratoriais para validar um positivo, descartar um 'falso negativo ou elucidar um valor liberado em um teste quantitativo; no qual ele terá maior confiabilidade'”, explica.

Brazão lembra ainda que um resultado falso negativo pode levar um indivíduo a deixar de investigar adequadamente uma doença. Um resultado de teste de colesterol elevado, por exemplo, pode levar ao uso de medicamentos, sem validação médica.


“Quantas pessoas tiveram um resultado de COVID-19 negativo nos primeiros dias, fazendo um teste rápido de antígenos, e depois confirmaram a doença? Somente o médico tem a capacidade de descartar uma enfermidade, avaliando o quadro clínico, juntamente com resultados de exames. Já um falso positivo pode levar uma pessoa a ter problemas de saúde mental, ficando estressada desnecessariamente.  Por isso, muitas vezes, os médicos recomendam que as pessoas não abram um exame antes deles, para que não sofram antecipadamente e sem motivos.  Nos preocupa ainda a subnotificação de casos de determinadas doenças.”

A nova resolução da Anvisa concede mais acesso a exames, porém a SBPC/ML não acredita que pular o papel do médico, de primeiramente avaliar sinais e sintomas clínicos, para depois decidir pelos exames corretos e necessários, e pedir ao paciente que vá ao laboratório, irá melhorar a saúde do brasileiro. 

“Muito pelo contrário, nosso receio é de que as pessoas deixem de fazer checkups muito mais amplos – o que deveriam fazer anualmente - e se restrinjam a monitorar como anda a saúde apenas com os testes disponibilizados fora do laboratório.  O corpo é complexo e existe uma série de indicativos de que algo não vai bem. Sinais simples, como perda de apetite, cansaço, fadiga, sono prejudicado, dores em geral já podem ser sinais precoce de uma doença. E muitas delas são silenciosas, não deixando sinais até que já estejam em estado avançado. Um médico deve ser visitado todos os anos preventivamente e sobretudo diante de quaisquer mudanças percebidas no corpo”, enfatiza.