Ciúmes, um sentimento difícil, muitas vezes, de delicado controle. Alguns até dizem que ele é o "tempero da relação". Mas será que é mesmo? Se faz sofrer, se dói, como pode ser um tempero? Não se pode negar que ele é um tipo de sentimento comum e que está muito ligado ao medo de perder. Medo de perder o parceiro ou mesmo um medo de perder o controle que se acredita deter sobre o outro. Motivo pelo qual considera-se que o ciúme está muito mais relacionado a esse controle do que ao amor propriamente dito.
Para a psicanalista Andrea Ladislau, o ciúme natural é direcionado no sentido de proteger a relação. Ele surge e não permanece de forma a perturbar a vida psíquica do indivíduo.
"No ciúme patológico, o indivíduo constrói um padrão de comportamento controlador e inseguro que se retroalimenta num dilema interior. O ciumento desenvolve uma síndrome de detetive, em que a pessoa sente a necessidade em ficar monitorando e controlando totalmente os passos e sentimentos do outro em busca da comprovação de uma infidelidade", explica Andrea, lembrando que, nesse caso, existe o sofrimento, tanto para quem sente ciúmes, quanto para quem é o alvo do sentimento. É um ciúme causado por situações ou ideias irreais, fantasiosas ou até mesmo delirantes.
Segundo a especialista, as explicações psicológicas para o ciúme demonstram características em que se detecta que o ciumento, com o passar do tempo, torna-se opressor e possessivo e isso pode ser originário de um possível desamparo na infância. Ou por rejeição ou por vivências agressivas ao longo da vida que geram muito medo.
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"E por temer o abandono mais uma vez, distorce a realidade e se comporta ou se sente como se fosse o verdadeiro dono da pessoa e da relação. O ciumento também pode desenvolver comportamentos paranoicos, com ideias de perseguição permanentes, obsessivas e que podem comprometer todo o seu equilíbrio emocional, levando-o a sentir ciúmes até mesmo do passado e das relações antigas vividas pelo outro. Se não houver tratamento e cura, o ciumento vai estar sempre em busca de pessoas para se relacionar, em que possa descarregar sua insegurança e seus medos. Enquanto o oprimido (aquele que é a vítima do sentimento) também irá repetir relações em que se sente preso", alerta.
Para o advogado Marcelo Larangeira, o ciúme é o resultado da cultura machista, que reifica a mulher, por assim dizer, reduzindo-a condição de objeto.
"Reforça a ideia corrente de que homem deve ter o domínio do corpo e de sua mente, sob pena de não ser reconhecido como ser masculino. O efeito desse jogo psicológico sobre a mulher é devastador. Pode configurar violência psicológica, em alguns casos. Se for comprovado o nexo causal, a lei penal pode ser aplicada conjuntamente com a Lei Maria da Penha", explica Marcelo.
Formas de tratamento
Andrea complementa que racionalizar pensamentos criando comportamentos saudáveis é fundamental. Seguindo essa linha de raciocínio, é muito importante identificar o que está causando o ciúme e a consequente sabotagem no relacionamento afetivo e, a partir daí, parar de atuar dessa maneira.
"Observe a si mesmo, suas próprias reações e aprenda a lidar com elas. A comunicação é uma excelente aliada no processo de ajuste da relação. Uma conversa aberta e verdadeira pode gerar mudanças de hábitos e, consequentemente, o fim de desconfortos e crises de ciúmes", explica.
A psicanalista complementa que é preciso ter consciência de que, sufocar o parceiro pode ser o primeiro passo para uma relação fracassada.
"Tente utilizar essa oportunidade para entender como sua natureza controladora te impede de saber quem você realmente é. Encontre um ponto de equilíbrio, comunicando a sua verdade e reconhecendo as limitações do outro. Não podemos dominar tudo. O ciúme muitas vezes é a transferência das minhas fraquezas para o outro. Quando você deixa de viver seus objetivos para viver em função do outro, ou do que ele está fazendo, com quem conversou, entre tantos movimentos exacerbados que o ciúme lhe impõe viver, você deixa de ter e de proporcionar ao outro, qualidade de vida", aponta.