A mais recente atualização do rol da ANS - lista que determina a cobertura obrigatória de procedimentos e tratamentos a serem garantidos pela rede privada de saúde - trouxe atualizações para os pacientes de esclerose múltipla: a possibilidade de acesso a mais uma opção de tratamento para a doença no sistema privado. Ofatumumabe, da Novartis, foi incorporado ao rol na última segunda-feira (7/8), no mês de conscientização da doença, o Agosto Laranja. Em estudos clínicos, a taxa anualizada de surtos ajustada nos pacientes tratados com essa medicação corresponde a um surto a cada 20 anos.
Ofatumumabe foi aprovado pela Anvisa em 2021 para o tratamento da esclerose múltipla em suas formas recorrente em adultos. De aplicação subcutânea, a medicação é um anticorpo monoclonal que atua sobre os linfócitos B, que tem papel relevante na esclerose múltipla por produzirem os mecanismos inflamatórios e degenerativos que atacam a bainha de mielina - estrutura presente em neurônios - e é fundamental para a transmissão adequada dos impulsos nervosos.
É essa degradação da bainha de mielina, causada pelas reações das células imunes, que configura a esclerose múltipla. Doença que atinge cerca de 40 mil pessoas no Brasil e entre 2 milhões e 2,5 milhões de pessoas no mundo, ela exige diagnóstico e tratamento precoces para evitar consequências mais graves a longo prazo, como dor, fadiga, perda cognitiva e limitações físicas.
Seus primeiros sintomas podem passar despercebidos e a doença pode avançar por anos com sintomas sensitivos (formigamentos e dormências), visuais (visão dupla ou borrada), motores (perda de força muscular), cognitivos e mentais (problemas de memória e atenção ou alterações de humor) que vem e vão com espaçamento de tempo. Daí o porquê do forte engajamento dos pacientes nas redes sociais e da importância de a doença precisar ser tão amplamente conhecida pela sociedade.
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"Essa é uma doença neurológica que pode ser grave não só por ser progressiva e pelo risco de sequelas neurológicas irreversíveis, mas também por muitas vezes demorar a ser diagnosticada. O paciente tem episódios de sintomas característicos da doença, mas que podem ser transitórios e levarem tempo para reaparecerem, o que acaba adiando a procura a um especialista e consequentemente, o diagnóstico", explica o neurologista do Hospital Albert Einstein e especialista em esclerose múltipla, Herval Ribeiro Neto.
"Uma vez que o diagnóstico é fechado, o tratamento tem que ser iniciado o quanto antes para evitar a progressão da doença. As perdas neurológicas podem se tornar irreversíveis se o início do tratamento for tardio", complementa o especialista.
Parte do processo de incorporação de qualquer terapia, seja no SUS, seja na ANS, a consulta pública aberta para a sociedade civil opinar a respeito da nova incorporação contou com mais de três mil depoimentos em 20 dias, entre junho e julho deste ano. Médicos, cuidadores e principalmente pacientes (por meio das associações) se engajaram e se organizaram para ressaltar a importância do acesso a novas terapias para o manejo da doença e o direito a tratamentos modernos.
"A incorporação de ofatumumabe na cobertura obrigatória da rede privada de saúde é uma conquista dos pacientes de esclerose múltipla", diz Lenio Alvarenga, diretor médico da Novartis no Brasil. "Quanto mais alternativas de tratamento estiverem disponíveis para o acesso nos sistemas de saúde, mais conseguiremos garantir oportunidade aos pacientes de controlarem os sintomas, retardarem a progressão dessa grave doença e, com isso, manterem sua qualidade de vida. Enxergo essa como a nossa principal missão com esses pacientes", diz o executivo.
A esclerose múltipla tem como causas uma predisposição genética associada a fatores externos, que incluem infecções virais (como o vírus Epstein-Barr), níveis baixos de vitamina D prolongadamente, exposição ao tabagismo e obesidade, por exemplo, em especial na adolescência. A doença é mais incidente em jovens de 20 a 40 anos, e atinge mais mulheres do que homens.