Todo mundo guarda alguma memória ou sentimento referente ao seu pai. Essa figura, tão fundamental, muitas vezes molda a percepção do mundo e de cada um. Quando se é criança, tempo em que diversas referências sobre os pais são absorvidas, isso influencia diretamente no desenvolvimento socioemocional e cognitivo do indivíduo.
Filhos criados com a presença ativa de um pai em seu crescimento podem desenvolver-se de maneira positiva em suas interações sociais, sensação de segurança, demonstração de afeto, autonomia e processos de tomada de decisão ao longo da vida.
Apesar de toda essa dimensão, muitas pessoas ainda se sentem perdidas ao assumir o posto. "Não é necessário ter um manual para ser um bom pai. No entanto, seguir algumas orientações sobre como reconhecer o próprio papel e entender que, mesmo com a presença materna, é necessário participar do processo de criação, é essencial", enfatiza a especialista.
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De acordo com a psicóloga, todos os laços afetivos são construídos e fortalecidos por meio da vivência, o que não é diferente com os filhos. Assim, por meio do brincar, troca de afeto, atenção e cuidados, os pais podem se fazer presentes e ativos na vida de seus filhos.
Mesmo em casos de separação dos cônjuges, é importante compreender que esse vínculo não precisa ser rompido, mas, sim, adaptado de novas maneiras. "A paternidade pode ser leve mesmo após a separação. É possível aproveitar as visitas obrigatórias para fazer parte da rotina da criança. Criar um espaço de escuta nesse momento é crucial, buscando ser um amigo e compreender o dia a dia na escola, novas amizades ou brincadeiras recentemente aprendidas, por exemplo. Ser parte da rotina de saúde da criança também faz toda a diferença, acompanhando-a em vacinações e consultas pediátricas", destaca.
A falta que impacta no futuro
Por outro lado, a ausência paterna pode acarretar uma série de consequências negativas para a criança. Se a presença ativa do pai é benéfica para o desenvolvimento, a sua ausência também deixa lacunas e diversos questionamentos.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas revelou um aumento de 17% no número de mães solos na última década, passando de 9,6 milhões em 2012 para mais de 11 milhões em 2022, evidenciando a ausência dessa figura entre os brasileiros.
"A criança tende a ser egocêntrica, e se ela não recebe o afeto esperado, pode atribuir a culpa a si mesma. Quando essa distância entre pai e filho ocorre na infância, ela, muitas vezes, não possui recursos suficientes para lidar com a ausência e pode desenvolver baixa autoestima, e pensamentos como 'não sou bom o suficiente' e 'não mereço coisas boas', além de sentimentos de abandono, raiva, tristeza e insegurança", explica Hellen.
Esses sentimentos, se não forem trabalhados ao longo do amadurecimento, podem acarretar consequências também na vida adulta. A psicóloga observa isso em sua prática clínica, especialmente nas relações amorosas. "Mulheres que tiveram pais emocionalmente distantes, resultando em uma falta de afeto sólido, tendem a buscar inconscientemente indivíduos que também estejam emocionalmente indisponíveis para elas. Como resultado, frequentemente, enfrentam emoções fragilizadas".
O mesmo ocorre com homens que cresceram com essa falta. "Se houve distância emocional na relação com o pai, muitas vezes, não há um modelo a ser seguido ou uma referência clara. Isso pode levar, consciente ou inconscientemente, ao entendimento de que o afastamento emocional é a opção mais fácil para as relações."
Em ambos os casos, o medo do abandono passa a ser um sentimento forte e constante, caso não tratado. E isso pode contribuir para a perpetuação de relações tóxicas que afetam a saúde mental, além de outros sintomas emocionais.
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