Ortopedista Daniel Oliveira, pai de Rafael, de 7 anos, e Mariana, de 9

Para o ortopedista Daniel Oliveira, pai de Rafael, de 7 anos, e Mariana, de 9, quando há uma experiência agradável, é fundamental mostrar aos filhos a importância do esforço que dedicaram para atingir esse objetivo

Arquivo pessoal


Ninguém disponibiliza um guia prático com valiosas lições de como cuidar, ensinar e lidar com os desafios de se ter filhos. Muito menos um manual sobre como lidar com a falta de controle sobre suas vidas – uma tarefa verdadeiramente árdua. Alguns, se preparando para o pior, já se encontram em desespero preferindo se afastar a encarar as emoções destrutivas desencadeadas pelo crescimento de seus filhos. Embora para alguns seja um pesadelo, a paternidade não deve se transformar em um terror que resulta em superficialidade, frieza e enfraquecimento nas relações.

Em se tratando de uma responsabilidade a ser construída diariamente, a criação deve ser orientada pela compreensão e aprendizado dialógico, baseando-se em palavras e ações. De acordo com Daniel Oliveira, ortopedista e pai de dois filhos, Rafael, de sete anos, e Mariana, de nove, muitos pais enfrentam dificuldades em equilibrar a exigência e a tolerância com seus filhos, o que reduz as oportunidades de compartilhar, em união, as experiências que os filhos estão vivenciando, sejam elas positivas ou negativas. Ele comenta: "Quando eles desfrutam de uma experiência agradável, é importante mostrar a eles a importância do esforço que dedicaram para atingir esse objetivo, o quão competentes eles são e o valor de acreditar em si mesmos. Nos momentos menos agradáveis, é fundamental ajudá-los a compreender que a vida é assim".



Em virtude da presença regular da tecnologia na rotina dos filhos, é comum que eles aprendam valores diferentes da realidade: situações agradáveis, de ostentação, como se tudo fosse um conto de fadas. Por isso a importância de estabelecer uma relação de qualidade e proximidade com a figura paterna, para não só conscientizá-los sobre o que veem nas redes, mas como ter em mente que o exemplo maior deve vir dos pais.  

Mas, para Oliveira, ao mesmo tempo que os pais têm mais experiência de vida e buscam passar bons exemplos e atitudes aos filhos, eles também conseguem, mesmo os pequenos, passar aprendizados e lições aos pais. Ocasionando um fortalecimento e transformação na relação. 

Best-seller

O tema é explorado no livro "Pai Estoico: uma reflexão diária sobre paternidade, amor e a arte de criar filhos incríveis", do autor Ryan Holiday. Fazendo uso de uma doutrina de dois mil anos, o autor oferece orientações e lições de coragem para pais e mães. Além de trazer ponderações, a obra serve como conforto para pais de primeira viagem e também para aqueles que esperam netos.

Como o título sugere, são 366 reflexões atemporais - uma para cada dia do ano - repletas de valiosos ensinamentos sobre o mundo da paternidade. Além das responsabilidades com os filhos, o livro também abrange uma ampla gama de tópicos, incluindo convivência familiar, controle emocional e autocuidado. Esses elementos complementam o cotidiano e exercem influência sobre os filhos, sejam nos melhores ou piores cenários.

psicóloga Ana Streit

De acordo com a psicóloga Ana Streit, especialista em terapia cognitivo-comportamental, os pais têm muita influência na vida dos filhos, como nos quesitos autoconfiança e saúde mental

Broto Comunicação/Divulgação
Ana Streit, psicóloga e especialista em terapia cognitivo-comportamental, esclarece que não há uma fórmula pronta de como criar os filhos, sendo necessário, antes de tudo, estar atento às necessidades emocionais dos filhos, como vínculos seguros, segurança emocional e estabilidade; autonomia e competência; limites realistas e autocontrole; valorização e autoestima; espontaneidade e lazer. Sendo que nem todos lidam da mesma forma com essas coisas. “É fundamental que o pai possa oferecer esse limite de forma afetiva e paciente, mesmo que seja frequentemente, assim como outra criança pode precisar de mais colo, mais carinho e afeto do que outra.” 

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Autonomia

Uma relação paterna saudável também inclui proporcionar liberdade e espaço aos filhos, mesmo que suas decisões sejam contrárias às dos pais. Nesses casos, é importante que o filho seja respeitado e possa ter liberdade para agir de forma autônoma, assumindo as responsabilidades e as consequências de suas escolhas. Streit explica que os pais têm muita influência na vida dos filhos - no quesito autoconfiança e saúde mental, por exemplo. Mas  à medida que o filho cresce, essa influência deve diminuir, em função do ciclo vital. Saber naturalizar essas etapas é fundamental, inclusive para que tenham uma relação fortalecida e saudável, independente da idade e das preferências de cada um.

Tornar-se pai é ser um modelo constante na vida dos filhos - capaz de impactar positivamente não só às relação com eles mesmos (relação interpessoal), mas também nas relações interpessoais (relações com as outras pessoas). A tarefa realmente não é fácil, por isso, Daniel Oliveira indica o primordial: o mais importante não é trabalhar para ter renda e dar tudo que o filho deseja, mas, sim, dedicar nosso tempo a eles, em qualidade e quantidade.” Uma paternidade baseada em amor, respeito e amizade. É isso que faz com que os laços sejam cada vez mais fortes e próximos.”

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie