Cynthia Araújo

A autora apresenta relatos de pacientes com câncer em estado avançado e trabalha o impacto de questões como autonomia e acesso à informação

Arquivo Pessoal

A morte de entes queridos e de personalidades famosas traz, para muitos, a  consciência da finitude. Sendo uma das poucas certezas que o ser humano tem, a morte geralmente não é abordada com frequência, tornando-se um tabu. Na perspectiva de um futuro ilimitado, as pessoas deixam para trás pendências e sonhos - resolvendo-os apenas com a certeza do fim. Em se tratando de doenças em estado terminal - que levam à procura por tratamentos alternativos, o acesso à informação e a dignidade humana são abordagens necessárias e  fundamentais. 

Na nova obra da pesquisadora, professora e advogada Cynthia Araújo, “A vida afinal - conversas difíceis demais para se ter em voz alta”, tem como tema central redimensionar a ideia de viver a partir da perspectiva da proximidade da morte. Sua abordagem se fundamenta na análise de relatos de pacientes com câncer em estado avançado e trabalha o impacto de questões como autonomia e acesso à informação nas escolhas feitas por eles.

Apesar da densidade da temática, Cynthia consegue expor com sensibilidade o tabu da morte e a necessidade de desmistificá-lo. Embora a obra faça uma leitura realista e, muitas vezes, dura sobre a proximidade da morte, especialmente diante de doenças graves, também apresenta, em sua escrita, uma visão leve e acolhedora sobre como pensar que morrer pode redimensionar a ideia de viver. 

Publicada pela Paraquedas, selo da editora Claraboia, o livro é fruto da vontade da autora de tornar acessível sua pesquisa de doutorado sobre as expectativas irreais de pacientes com câncer avançado. "A ideia é refletir com os leitores sobre como a ilusão de uma vida longa e o projeto para um futuro distante pode desviar a atenção do viver o presente da melhor forma possível", explica.

Segundo Cynthia, embora tenha havido um número razoável de publicações recentes sobre finitude, a morte ainda é o maior tabu do mundo moderno, ao menos no Ocidente. “Precisamos falar em morrer como a possibilidade real que é. É muito comum que, diante de doenças graves, conversas delicadas e difíceis sobre a proximidade da morte sejam permanentemente adiadas, até que seja tarde demais para fazerem diferença sobre a vida afinal”, frisa. 

EXPERIÊNCIAS PESSOAIS

 Para isso, além de analisar relatos de pacientes com câncer terminal, a autora compartilha sua trajetória como membro da Advocacia-Geral da União, especializada em ações judiciais de saúde, e como pesquisa e vida real se misturaram, ao contar um pouco a história da doença grave de sua mãe e sobre os tratamentos a que os pacientes se submetem.

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Desde o período da pesquisa de doutorado, Cynthia foi muito incentivada por pesquisadores, médicos e leitores de sua tese a transformá-la em uma escrita de conhecimento acessível. “Na verdade, acho que todo pesquisador deve ter essa preocupação, mas, em razão dos temas que eu abordo, isso me parece especialmente importante.”

Com muito cuidado, tanto com o leitor quanto com os pacientes e seu entorno, a escritora propõe reflexões sobre dignidade no fim da vida, autonomia sobre os limites do próprio corpo e o impacto da esperança nas decisões, especialmente a partir da comunicação médica - construindo uma reflexão sensível e contundente sobre o viver e o viver sob a perspectiva da morte. 

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie

capa do livro A vida afinal - conversas difíceis demais para se ter em voz alta - conversas difíceis demais para se ter em voz alta

capa do livro A vida afinal - conversas difíceis demais para se ter em voz alta - conversas difíceis demais para se ter em voz alta

Divulgação/ Com.tato
A vida afinal - conversas difíceis demais para se ter  em voz alta
• Autor:  Cynthia Araújo
• Editora: Paraquedas
• Número de páginas: 158
• Preço: R$ 49,90 (livro físico); R$ 29,99 (e-book)
• Onde encontrar: Loja da editora