A artista plástica Tânia Zebral, de 72 anos, enfrentou dores crônicas na coluna por mais de uma década. As dores muitas vezes a impediam de realizar atividades cotidianas. Em busca de soluções, ela consultou vários ortopedistas, passou por uma série de exames de ressonância magnética, mas infelizmente, a conclusão era sempre a mesma: seu caso era complexo demais para uma cirurgia.
“O comprometimento em múltiplos segmentos da coluna inviabilizava a intervenção, uma vez que seria arriscado operar todos os segmentos. Mas, ao mesmo tempo, a cirurgia de apenas uma parte não resolveria o problema. Meu diagnóstico era de quatro hérnias de disco e degeneração entre as vértebras.”
Durante sua busca por alívio, Tânia foi surpreendida por um médico que, diante do nível de comprometimento de sua coluna, expressou admiração por sua capacidade de locomoção. Ele sugeriu que a artista plástica procurasse uma clínica especializada em tratamento de dor e recebesse prescrições mensais de analgésicos mais potentes para lidar com o incômodo constante.
“A perspectiva de uma vida dependente de medicamentos me abalou. Apesar de ainda não ter completado 60 anos na época, eu era uma pessoa ativa, que gostava muito de atividades físicas - como caminhadas e ginástica. Foi nesse momento de incertezas que descobri algo que mudou minha vida. Decidi experimentar as 10 primeiras sessões nos aparelhos com um fisioterapeuta especializado e, em seguida, embarquei em um programa de fortalecimento muscular por meio do pilates oferecido pela clínica que frequento.”
Ao longo dos últimos 15 anos, Tânia conseguiu surpreendentemente controlar sua dor, reduzindo consideravelmente a necessidade de analgésicos e anti-inflamatórios. O fortalecimento adequado de seus músculos permitiu que ela retomasse às atividades sem sentir dor, inclusive caminhar na praia com total conforto.
“Acredito na eficácia do fortalecimento muscular por meio do pilates como um forma de aliviar e controlar dores crônicas na coluna. Muitas vezes, acredita-se que a dor será constante e insuportável, mas sou a prova viva de que, com o fortalecimento muscular adequado, é possível levar uma vida mais plena e livre de dor.”
EFICIENTE
Assim como aconteceu com Tânia, uma recente pesquisa realizada no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), constatou que o pilates, mesmo sem ser associado a outros recursos terapêuticos como a diatermia (calor profundo), pode ser eficiente no tratamento da dor e dos sintomas depressivos e de ansiedade relacionados à dor lombar crônica.
Nos resultados, a combinação de pilates com diatermia não se mostrou mais eficaz do que o pilates de forma individualizada no tratamento da dor lombar crônica. Ambos os grupos de pacientes apresentaram melhorias na dor e na depressão durante todo o tratamento, mantendo-se positivos mesmo após três meses.
A pesquisa também considerou os sintomas associados à dor lombar, como depressão e ansiedade, comuns em pessoas que sofrem de dor crônica. A atividade foi efetiva, melhorando as funções psicológica e física dos pacientes.
Segundo o fisioterapeuta Rodrigo Moura, sócio da Fortaleser, além da pesquisa da USP, existem vários estudos e evidências científicas confirmando a efetividade do pilates, especialmente no caso de dor lombar crônica persistente, ou seja, aquela que dura mais de três meses.
Segundo o fisioterapeuta Rodrigo Moura, sócio da Fortaleser, além da pesquisa da USP, existem vários estudos e evidências científicas confirmando a efetividade do pilates, especialmente no caso de dor lombar crônica persistente, ou seja, aquela que dura mais de três meses.
“Isso acontece porque o pilates trabalha todos os componentes e valências físicas, como mobilidade, movimento e condicionamento da força central do corpo, chamado de "core", conhecido também como Powerhouse; além do exercício aeróbio, proporcionando funcionalidade e ganho de condicionamento e movimento.”
Segundo o fisioterapeuta, a atividade é tão efetiva quanto outros exercícios que trabalham nesse mesmo sentido, como a musculação e o treinamento funcional, por exemplo.
É importante considerar, segundo Rodrigo, que pessoas com dor crônica podem, porém, ter uma maior sensibilização aos movimentos e exercícios, dependendo do momento em que estão executando o pilates. “Por isso, é essencial controlar o volume e a intensidade do treino, a fim de não aumentar essa sensibilização.
É importante enfatizar que, pessoas que sofrem com dor crônica, devem controlar outros fatores que influenciam essa sensibilidade, como qualidade do sono, hábitos saudáveis de vida, nutrição adequada e exercício aeróbico de baixa intensidade. “É um tratamento multidimensional. A saúde mental também está frequentemente associada à dor crônica. Nesses casos, é fundamental o acompanhamento de um profissional da saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra, dependendo do nível de sofrimento.”
Quando o incômodo merece atenção?
Segundo o ortopedista Daniel Oliveira, especialista em coluna vertebral, apesar de ser uma queixa muito comum entre as pessoas, a dor nas costas pode ter várias causas, que vão desde a tensão muscular até problemas na coluna vertebral.
Quando o assunto é lombalgia, ela pode ter várias causas, entre elas a má postura ao sentar, andar ou mesmo ao realizar atividades que causem pressão excessiva sobre a região lombar; lesões, como torções, distensões musculares, hérnias de disco ou fraturas vertebrais, entre outros. “É muito importante que o paciente, ao sentir o incômodo, procure ajuda médica para passar por uma avaliação e entender melhor sobre o diagnóstico e as melhores formas de tratamento.”
Na maioria dos casos, de acordo com Daniel, o tratamento conservador é o primeiro passo e envolve uma combinação de atividades físicas leves; alongamentos e fortalecimento muscular; fisioterapia ou pilates, já que esses exercícios terapêuticos específicos podem ajudar a fortalecer os músculos das costas, melhorar a postura, aumentar a flexibilidade e reduzir a dor.
Casos graves
Outro recurso é a aplicação de calor ou gelo na área e uso de medicamentos analgésicos ou anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) para alívio da dor e inflamação; injeções de corticoides quando a dor é mais intensa e não responde a outras formas de tratamento; além da cirurgia, que é realizada apenas em casos mais graves e quando nenhuma das tentativas anteriores deram certo. “A opção pela cirurgia vai depender da avaliação detalhada do médico especialista em coluna vertebral.”
O pilates, de acordo com o ortopedista, é uma excelente prática para qualquer pessoa, ainda mais para quem está com problemas de dor nas costas. Apesar de ser especialmente útil, em certos casos, ele pode não ser a melhor opção ou pode precisar ser adaptado, principalmente em casos de lesões graves na coluna vertebral.