No último domingo, dia 20, o apresentador de televisão Fausto Silva entrou na fila de espera por um transplante cardíaco. Embora o procedimento seja mais comum em adultos, no Brasil 67 crianças e adolescentes com até 17 anos de idade aguardam por um coração para continuar vivendo. O número representa 17% do total de pacientes brasileiros esperando por esse órgão. Os dados, atualizados até o dia 16 de agosto, são do Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde.
O Pequeno Príncipe, hospital exclusivamente pediátrico, em Curitiba (PR), tem hoje cinco crianças listadas na fila do transplante cardíaco e outras duas estão sendo avaliadas para entrar na lista. Segundo o cardiologista Bruno Hideo Saiki Silva, responsável clínico pelo Serviço de Transplante Cardíaco e Miocardiopatias da instituição, a criança mais nova atualmente no rol de espera tem 1 ano e 10 meses, enquanto o adolescente mais velho está com 16 anos.
No caso das crianças pequenas, é ainda mais difícil encontrar um coração de tamanho compatível: “Ofertas de coração com pacientes abaixo de 30 quilos são um grande desafio”, informaBruno Hideo Saiki Silva. É o caso do paciente do Pequeno Príncipe, que aguarda há mais tempo na fila – desde novembro de 2022. Quando foi listado, ele tinha 1 ano e 6 meses.
“Para haver compatibilidade entre doador e receptor, existe a necessidade de uma concordância entre peso e altura. Por exemplo, o peso do doador não pode ser menor que 20% ou maior que o dobro do peso do paciente em lista de espera”, detalha o cirurgião cardiovascular responsável por uma das equipes do Serviço de Cirurgia Cardíaca no Pequeno Príncipe, Fabio Binhara Navarro. Neste ano, a instituição já realizou quatro transplantes cardíacos.
Indicação de transplante cardíaco em crianças
De acordo com o cirurgião cardiovascular Fabio Binhara Navarro, crianças e adolescentes podem nascer com malformações no coração ou desenvolver doenças que afetem o funcionamento da estrutura do órgão no decorrer dos anos. Em alguns casos, o tratamento com medicamentos ou cirúrgico (correções de anomalias) não normaliza a função, por isso o transplante cardíaco é indicado.
Pacientes que apresentem estágio final de insuficiência cardíaca, ou seja, quando o coração não bombeia sangue suficiente para atender às necessidades do corpo, precisam do transplante.
Como é feito o transplante cardíaco pediátrico?
Para o procedimento ser feito, são necessários diferentes profissionais, como cirurgiões cardiovasculares, cardiologistas, intensivistas, anestesistas, enfermeiros, instrumentadores, perfusionistas, psicólogos e assistentes sociais. No Pequeno Príncipe, a equipe multidisciplinar analisa cada caso desde a consulta pré-operatória, assim como auxilia na seleção do órgão que a criança vai receber e no procedimento cirúrgico, além dos cuidados depois que o transplante cardíaco é finalizado.
A cirurgia, bastante complexa devido à pouca idade dos pacientes, exige duas equipes: “Enquanto parte dos profissionais vão para a retirada do coração do doador, outra parte prepara o receptor, de forma simultânea. Tudo com o intuito de diminuir o tempo de isquemia (tempo em que o fluxo sanguíneo do coração é interrompido) do coração transplantado, para que ele seja o menor possível, preferencialmente menor do que quatro horas”, ressalta o cirurgião cardiovascular.
Essa divisão da equipe, segundo o médico, é fundamental para um procedimento seguro, principalmente quando a captação do órgão é feita em outros estados, exigindo transporte aéreo. Durante o procedimento, é utilizada uma máquina que faz a função do coração e do pulmão (máquina de circulação extracorpórea) e mantém a circulação sanguínea dos demais órgãos. Nesse momento, o coração doente é retirado, e o órgão saudável é implantado.
Referência no atendimento de bebês
O Hospital Pequeno Príncipe é referência no atendimento de crianças menores de 2 anos. É o caso de Miguel Gabriel da Silva Valoroski, que fez transplante cardíaco pouco antes de completar 1 ano. Ele foi diagnosticado com fibroma, um tumor que cresceu dentro do músculo do coração, e só esse tipo de procedimento poderia normalizar o funcionamento do órgão.
O transplante de Miguel foi um sucesso. De acordo com a mãe, Beatriz Valoroski das Almas, um dia depois da cirurgia, ele foi desentubado e recebeu alta antes do esperado: “Ele ficou mais tempo na Unidade de Terapia Intensiva [UTI] antes da cirurgia do que depois do procedimento, que é complexo. Ele se recuperou muito rápido, foi um milagre", comemora.
Conforme Navarro, depois do transplante, o paciente é monitorado continuamente e necessita de terapia para imunossupressão, com medicamento que atua no seu sistema imunológico, impedindo o processo inflamatório que pode levar à rejeição do órgão. Depois da alta hospitalar, que varia entre 15 e 30 dias, a criança ou adolescente é acompanhado pelo Serviço de Cirurgia Cardiovascular e Cardiologia do Pequeno Príncipe até completar 18 anos.
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