Que a amamentação proporciona inúmeros benefícios para o crescimento e desenvolvimento humano, isso já é sabido há muito tempo e comprovado por repetidos estudos. Mas o aleitamento também contribui para o despertar da fala nos bebês.



Conforme o otorrinolaringologista e foniatra do Hospital Paulista, Gilberto Ferlin, essa interação entre mãe e filho é pré-requisito importantíssimo para garantir a chamada "eclosão da fala" no devido tempo. Isso porque o ato de mamar favorece o desenvolvimento das musculaturas da boca, face e mandíbula, além de estimular o crescimento ósseo dessas estruturas do corpo.

"O aleitamento proporciona o desenvolvimento adequado, tanto muscular como osteo dentário, além da coordenação decorrente da maturação neurológica típica. É o período em que se estabelecem as primeiras interações entre o bebê e o nosso meio, iniciando o que virá a ser a cognição e afeto dessa criança", explica o especialista.

Ferlin reforça a importância de manter esse elo nos primeiros 24 meses de vida, a exemplo do que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS). "Após os seis meses de vida, o recomendável é que a amamentação seja mantida de forma mista, ou seja, com a introdução de outros alimentos, se possível, até o segundo aniversário da criança ou após. Além da eclosão da fala no devido tempo, já há estudos que apontam que essa interação também contribui para o desenvolvimento das habilidades linguísticas e inteligência não-verbal ao longo da infância", destaca o médico.



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Ele menciona um estudo longitudinal, publicado em maio de 2023, com crianças australianas, que reforça essa tese, amparado em uma análise feita em crianças entre 5 e 11 anos.

"Esse é o estudo mais recente, dentre outros vários que já apontam para essa correlação, o que fortalece o entendimento da OMS quanto à importância de se tentar alongar o período de amamentação até os dois anos, também levando em conta essa questão da habilidade linguística."

Nem sempre é possível

Contudo, é certo que nem todas as mães têm condições de oferecer, ou mesmo de manter, o período de amamentação para além das primeiras semanas de vida dos bebês. Para esses casos, Ferlin recomenda o acompanhamento especializado para nutrição e orientações profissionais para a mãe, buscando minimizar os prejuízos ao desenvolvimento infantil.




"A mamadeira, embora estimule a sucção da criança e garanta o aporte nutricional satisfatório, não é capaz de prover as interações necessárias para o desenvolvimento da linguagem. As características físicas da mamadeira permitem um padrão de sucção diferente da mama feminina. Nesse sentido, especial atenção deve ser dada a criança durante a alimentação no sentido de estimular a linguagem com adaptações adequados para esse período, como, em geral, naturalmente, as mães o fazem", explica o especialista.

"Um exemplo disso é a forma como as mães alteram a forma de falar com seus bebês durante a amamentação e os cuidados cotidianos. Com isso, é possível o desenvolvimento das potencialidades infantis, como cognição e afeto, indispensáveis para, no devido tempo, a criança falar", aponta.

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