Jogador cabeceando uma bola

Jogador cabeceando uma bola

Johan Eyckens / Belga / AFP
A IFAB (International Football Association Board), órgão regulador do futebol, desde o ano passado proíbe jogadores menores de 12 anos de idade de cabecearem a bola intencionalmente durante as partidas. A determinação é parte de um ensaio realizado pela entidade e atende a recomendações e pesquisas da área médica sobre o desenvolvimento de doenças neurológicas à curto e longo prazo em decorrência do impacto constante na cabeça provocado pelo lance. A medida já é adotada nos Estados Unidos e Escócia. No Brasil, ainda não há nada que regulamente a proibição.


Segundo o neurocirurgião Felipe Mendes, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, a atividade de cabecear gera impactos repetitivos no cérebro, resultando em microtraumas acumulados ao longo do tempo. 

"Com isso, pode haver consequências graves para a saúde cerebral, tanto a curto quanto a longo prazo. A gravidade das consequências pode variar a depender da intensidade da pancada, da frequência de exposição e das características individuais de cada pessoa."

De acordo com o especialista, uma pancada forte pode resultar em uma concussão - uma lesão cerebral traumática temporária, um estado de alteração da consciência após algum impacto que atinge a região craniana. Os sintomas podem incluir desmaio, dor de cabeça, confusão, náuseas, sensibilidade à luz e dificuldade de concentração ou raciocínio.

"Em casos mais graves, pode haver ruptura de pequenos vasos sanguíneos no cérebro, causando sangramento."
Felipe Mendes explica que, a médio prazo, alguns indivíduos podem apresentar os mesmos sinais e sintomas da concussão por um período prolongado.

"Esse quadro é conhecido como síndrome pós-concussão e pode persistir por semanas ou meses, levando, inclusive, a alterações de humor. 

Além disso, essas pancadas, mesmo sem causar sintomas imediatos, podem levar a um prejuízo cognitivo sutil, afetando a memória, o julgamento, a tomada de decisões e outras funções cognitivas."

A longo prazo, as pancadas repetidas na cabeça estão  associadas ao desenvolvimento do Traumatismo Craniano Crônico, uma condição neurodegenerativa que pode resultar em sintomas semelhantes à demência, incluindo problemas de memória, dificuldades de concentração, mudanças de humor e problemas motores. 

"Existem, atualmente, evidências de uma possível associação entre lesões traumáticas de repetição e um maior risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, manifestando-se décadas após as lesões iniciais."

Essa preocupação já existe há anos no rugby e no futebol americano. Embora os impactos sejam relativamente menos intensos do que em outros esportes, isso também pode ocorrer no futebol. As cabeceadas, ao longo do tempo, podem contribuir para os riscos mencionados acima. 
"Nas situações onde ocorrem pancadas na cabeça associadas a sinais e sintomas de alerta, é fundamental procurar um profissional de saúde para avaliação e orientação adequada."